Capítulo 22

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Lágrimas são resquícios de memórias da alma. Cada pessoa tem algo guardado dentro do seu mais profundo ser, seja bom ou ruim, que não dure ou se perdure, sempre haverá um motivo para chorar, para sorrir. Sempre existirá um sentimento ou emoção, vinculado a uma lembrança que te faça derramar nem que seja uma só lágrima. 

O dia que eu mais tinha chorado na vida, esse nenhuma doença apagará da minha mente, foi quando eu descobri que poderia morrer por conta de um simples problema de memória. Agora tudo está voltando a tona, todas as lágrimas estão saindo, toda dor, sofrimento, angustia, está se transformando em lágrimas e saindo desesperadamente. O abraço de Sammy estava enxugando cada parte inundada da minha alma, mas isso não era suficiente para me fazer para de chorar.

Foi então, como uma pancada, um tiro, um choque percorrendo todo o corpo, eu enfim desmaiei. Se fosse meu fim, eu morreria feliz, eu me libertei e pedi ajuda, eu dei um passo para ser feliz e viver de verdade. A dor de cabeça chegou no nível máximo e eu acabei dormindo das pernas de Sammy. Dessa vez eu não fui ao mundo dos sonhos, não havia nada branco, só uma infinita escuridão que quanto mais eu andava por ela, mas eu me sentia sem forças. 

Havia apenas uma luz sobre mim, vindo do alto, mas não dava para olhar para onde fluía, ela ardia nos olhos. Continuei andando e ouvi a voz que sempre aparecia sem se mostrar de onde vinha. Ela dizia que eu não morreria sem antes cumprir meu objetivo de vida. Eu tinha uma missão e embora eu não soubesse qual, logo, logo eu descobriria qual era, bastava eu continuar seguindo em frente, esquecer a doença e olhar para uma situação que era como a minha, eu precisava ajudar essa pessoa antes de morrer.

 — Como vou achar alguém que tem a mesma doença que eu?  — Perguntei desesperado para a voz que sempre ignorava minhas perguntas e continuava a repetir a mesma coisa  — Me diga pelo menos o nome, onde mora essa pessoa, alguma informação...

 — Se fosse pra ser fácil assim, você teria descoberto quando era mais novo e simplesmente teria morrido logo após cumprir sua missão  — A voz respondeu rindo de mim enfim me dando alguma resposta  — Tudo sem tempo Richard... Na hora certa você descobrirá.

 — Me diga logo! Eu não aguento mais dormir e acordar pior! Cansei de tantos problemas!  — Gritei irritado olhando para todos os lados procurando o ser dono daquela voz  — Por favor... Só me leve logo... Você é espirito da morte não é? Estou certo? 

 — Por que tanta pressa para morrer? Realize seus sonhos, passe um tempo com sua mãe. Você tem 20 anos garota, tenha calma!  — A voz falou rindo novamente  — Todo mundo só pensa na morte, como se essa fosse a única e melhor solução. Como se apenas ela tirasse dores, concertasse problemas, melhorasse as situações...

 — Mas é isso que ela faz!  — Gritei me ajoelhando, com lágrimas nos olhos, colocando as mãos no rosto  — É isso que ela faz... Quando nada tem mais jeito, quando o fim é o mais provável, quando só existe essa opção...

— E quem disse que só existe essa opção?  — A voz perguntou e eu fiquei pensativo  — Richard, todos vão morrer um dia, isso é um fato. O que muda é que cada um tem seu dia e hora, não é seu querer! Viva e seja quem você sempre quis ser, vá e enfrente sua doença!

 — Eu nem vou lembrar de tudo que você falou quando acordar...  — Falei irritado enxugando as lágrimas  — Esse é o problema, eu posso viver, me divertir e realizar tudo que imagino, mas eu vou esquecer e será como se eu nunca tivesse feito nada.

 — Porém não será! O importante é que você fez, não que você lembra!  — A voz falou chateada pela minha insatisfação — E se isso importa tanto pra você, então ache um jeito de lembrar e guardar as memórias que tanto quer.

 — Vou passar minha vida gravando videos então...  — Falei com tédio mas depois cai em si, era isso, gravar videos  — Eu sei o que fazer! Gravarei tudo que eu lembro como sempre faço! Farei da minha vida um filme

Infelizmente eu estava falando sozinho. Já não havia outro som se não o da minha voz ecoando pela aquela escuridão. Mas isso não durou muito tempo, a voz da minha mãe preencheu aquele lugar, chamando pelo meu nome. Se eu estivesse certo, ou eu acordaria na casa de Sammy e ela havia chamado minha mãe ou nessa altura, eu já estaria novamente no hospital, já que eu tinha desmaiado e ninguém conseguiria me acordar por algumas horas.

 — Richard! Acorde! Você consegue querido...  — Minha mãe pediu e dessa vez, não sei por qual motivo, meu cérebro obedeceu ao comando da voz dela, fui abrindo os olhos devagar  — Isso querido, você consegue! Chamem o médico, ele vai acordar!

— Então... Aqui estou de novo...  — Falei sem perceber que eu conseguia usar meus sentidos. Dessa vez não tive escolha, se eu estava falando, não conseguiria me mover  — Espere... eu consigo levantar os braços?

Minha reação assustou a todos. Eu estava realmente me movendo, falando e conseguia lembrar meu nome, como eu havia chegado ali, sobre a Sammy. Tudo estava normal, mas por que? Eu estava curado? Ou esse é um novo estado da doença e algo por dentro de mim está danificado? Tentei me mover e testar todos os meus reflexos, tudo estava em ordem. Minha mãe e a enfermeira estavam confusas e sem entender tudo que estava acontecendo e eu estava tentando entender por que eu tinha minhas memórias.

— O que está fazendo Richard?  — O médico perguntou confuso entrando no quarto  — Tem algo errado? Precisa ir ao banheiro de novo?

— De novo?  — Perguntei curioso. Então eu havia esquecido algo...  — Eu fui ao banheiro? O que eu fiz depois que desmaiei?

— Infelizmente seu intestino parou de funcionar. Houve uma obstrução que impediu a passagem dos alimentos digeridos ontem a noite, pelo seu intestino, por isso as fezes e as secreções digestivas se acumularam. Mas já fizemos uma limpeza ai dentro! — O médico explicou analisando meu prontuario — Isso aconteceu por que você passou por um grande período de estresse. Sabe que fugir do hospital foi uma péssima ideia não é?

— Agora sei... — Falei sentando na cama — Por que eu estou normal? Eu não devia estar imóvel ou ter esquecido tudo do dia anterior? Ou ficar sem falar?

— Isso eu explicarei depois, preciso que faça uma Ressonância Magnética do seu Crânio — O médico falou olhando sério para as folhas em suas mãos — Temos muito trabalho pela frente.

Essa seria minha nova rotina, vários exames e voltar para esse quarto. Talvez não seja tão ruim, a voz da minha mente disse que eu tinha que ajudar alguém... Quem sabe ela não esteja nesse hospital ou ainda está por vir... É isso, embora eu concorde em fazer todos os testes, ainda tentarei realizar meus sonhos, mesmo nesse lugar, eu darei um jeito de viver minha vida. Eu tenho tempo ainda e irei aproveitar cada minuto dele!

Vamos que vamos! Agora tudo vai dar certo! Força Richard!

Votem, comentem e até o próximo capítulo!

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now