Capítulo 24

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A dor de perder uma pessoa é algo que só quem passou, entenderá. Eu não sei quantas pessoas já perdi na minha vida, não sei se algum parente meu morreu ou quantos ainda estão vivos. É realmente horrível ser eu, esse fardo eu levarei até a morte, eu nunca lembrarei coisas importantes. Porém, é possível que eu esteja lembrando um sentimento, cujo qual me preenche por inteiro, como se eu precisasse ajudar alguém e essa pessoa está presente em minha vida agora, eu devo fazer algo por ela e logo descobrirei o que.

 — Então é isso, vou indo... — Marry falou se levantando  — Não fale mais sobre isso.

Eu queria muito saber mais sobre a vida de Teresa, mas por algum motivo Marry tinha medo de me contar. Eu não sei por que, mas ela transmitia um ódio tão grande dentro de si. Pelo jeito que ela agiu quando nos conhecemos, ela não me conhecia e tão pouco eu poderia conhecê-la, afinal, mesmo com problema de memória, minha vida inteira foi dentro do meu quarto, não há como termos tido algum contato.

 — Marry, eu não entendo, como só sobrou o Ricardo, da família de dona Tetê? — Perguntei sentando na minha cama  — Ela me levou a uma casa no dia que conheci ela, não era de alguém?

 — Era a antiga casa dela, a casa onde moramos agora é a minha  — Marry explicou cabisbaixa e percebi que uma lágrima havia caído dos seus olhos  — Estava escuro, então você não percebeu, mas aquela casa está queimada, por fora não dá para perceber muito bem, mas por dentro só há cinzas.

 — E o que houve com ela?  — Perguntei assustado  — Marry, por favor, sei que é estranho eu pedir isso, mas me diga, o que houve com Teresa, com a família dela, com aquela casa...

 — Por que? Você se quer vai lembrar, pra que saber isso tudo! — Marry levantou a cabeça e me encarou irritada, mas chorando  — Sempre foi assim, você nunca lembrou de nada...

 — Como assim sempre... Você me conhece?  — perguntei ficando nervoso  — Para de mistério! O que sabe sobre mim?

 — Nada!  — Ela falou saindo  — Não me incomode mais!

Eu quis segui-la, mas assim que ela saiu a enfermeira entrou no meu quarto. Era hora das visitas e ela precisava me levar até o banheiro, ajeitar o quarto e deixar tudo pronto. No banho fiquei pensativo, mal consegui passar sabonete e quase me afoguei olhando para as gotas que caíam do chuveiro. Talvez minha mãe soubesse algo sobre a Teresa, acho que eu perguntarei a ela...

 — Olá Richard!  — Sammy falou me assustando quando entrei no quarto  — Surpreso?

 — Olá... Não espera sua visita...  — Falei envergonhado por ainda está com o cabelo molhado e despenteado  — Eu sai do banho agora...

 — Quer ajuda?  — Ela perguntou vindo em minha direção pegando a toalha do meu pescoço  — Senta na cama, eu enxugo pra você!

 — Não precisa!  — Falei tentando impedi-la, mas ela ignorou e começou a secar meu cabelo me deixando com as bochechas vermelhas  — Obrigada...

 — De nada!  — Ela falou rindo e sentou na cadeira próximo a minha cama  — A tia não veio ainda?

 — Achei que ela viria com você  — Falei sentando na cama com as costas apoiado na cabeceira  — O medico não me disse o resultado do exame, disse que mostraria a ela primeiro, então preciso espera-la...

 — Que chato hein  — Ela falou olhando para todos os lugares do meu quarto  — E como você se diverte aqui? Ou passa o tempo?

 — Eu fujo e visito alguns pacientes  — Falei bocejando e Sammy deu uma gargalhada com minha resposta  — Eu queria começar a gravar, mas também preciso da minha mãe para lembrar tudo que preciso.

— Se quiser eu te ajudo — Sammy falou indo até minha bolsa do outro lado da cama e pegando a filmadora — Como gostaria de começar? Eu sempre quis ser jornalista, isso seria uma ótima pratica! 

— Que legal... — Falei envergonhado por ela ficar se aproximando até meu rosto para gravar — Na verdade eu não sei... Pode me dar alguma ideia?

— Huum... Que tal com uma frase de efeito e falar sobre algo que te motiva — Sammy sugeriu e achei uma boa ideia — Podemos começar?

— Vamos lá então, me diga quando puder falar — Falei animado e ela fez um sinal com a mão dizendo que ia contar até 3 — Bem...

"Continue a nadar... Isso mesmo, não há motivos para desistir, para parar. Se está difícil ou não, se a correnteza é forte ou não, se está perdido por aí, não há outra opção. Continue a nadar... É isso! É óbvio, a Dory é um gênio, seu criador principalmente. Eu sou a Dory e tenho perca de memória recente. Incrível como um personagem me representa tão bem!"

Gravamos sobre o dia em que eu ia conhecer Sammy e seus pais, os novos vizinhos. Claro que eu tinha que começar por ela. Foi divertido, mas infelizmente o horário de visitas estava acabando e tivemos que parar. Ela disse que depois iria editar o vídeo pra mim, já que boa parte era ela me ajudando a lembrar sobre esse dia. Segundo ela será melhor ter apenas minha voz no vídeo, então precisaríamos ensaiar um pouco antes de gravar, ou eu poderia ler algo escrito, era uma boa ideia então resolvi escrever o que eu estava lembrando sobre o dia de hoje.

Sammy havia prometido vir no dia seguinte, mas minha mãe não havia aparecido. Eu estava preocupado e nem se quer dava para entrar em contato com ela. Se bem que... Eu ainda tinha o celular da enfermeira, que por sinal, já estava mais que na hora de devolver. Acho que eu usaria isso como desculpa para poder ter alguma informação da minha mãe.

Sai do quarto e fui até a sala de recepção. Devolvi o celular e expliquei que estava na minha cama, embora não fosse verdade, falei que alguma enfermeira poderia ter esquecido enquanto arrumava. Pedi para a recepcionista para telefonar para minha casa, mesmo que eu não pudesse falar, implorei para ela ligar e saber se minha mãe estava bem. Minutos depois parece que alguém tinha atendido, mas não era minha mãe, ela disse que eu era uma jovem e logo imaginei ser a Sammy, que explicou que minha mãe estava com a pressão alta e ficou em casa descansando. 

— Obrigado! — Agradeci e a moça só sorriu — Boa noite...

Voltei para meu quarto e fiquei triste por saber que minha mãe estava mal. Provavelmente estava preocupada comigo, só queria resolver logo meu problema, mas por mais que eu tenha esperanças, só estamos adiantando o inevitável... Uma pessoa que pode dormir e não lembrar como acordar, ou ter uma parada respiratória e ficar em coma, ou outros problemas piores, não tem como pensar positivo e animar com quem convive... É hora de dormir e falar com a voz misteriosa, eu não quero acordar mais, quero partir de vez, já estou cansado disso tudo...

Agora enviem forças positivas para a mãe do Richard gente. Espero ela melhore não é?

Votem, comentem e até próximo capítulo!

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