Capítulo 33

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A vida costuma brincar com as emoções, de pessoas que já estão no auge do sofrimento. Não importa o quanto esteja doendo, o quanto está machucado, sempre aparecerá mais dores pela frente. Muitas pessoas quando chegam nesse ponto, já não tem mais paz, por isso costumam desesperadamente achar uma solução, ou alguém que as ajude. Pena que, a vida também se encarrega de manter longe, tanto as pessoas, como a solução...

Pensei que eu sempre seria sozinho, mas acabei percebendo, que é cedo para pensar assim. Se eu desistisse hoje, se eu tirasse minha vida, eu nunca teria oportunidade de descobrir, se realmente minha vida inteira seria destinada a solidão. Por estar vivo, acabo de descobrir que há alguém para estar ao meu lado e nesse momento, ela me encara como se soubesse que eu precisava vê-la, como se sentisse que eu queria sua ajuda...

— O que está fazendo aqui? — Sammy perguntou me encarando assustada e confusa — O que aconteceu? Estava chorando? Você deveria está no hospital... Fugiu novamente?

— Longa... História. Mas para resumir... — Falei cansado, fazendo pausas para respirar — Todos acham que minha doença é uma mentira, que eu tenho apenas algum trauma, que sou apenas depressivo ou algo parecido e vou ser tratado com medicamentos, aparentemente...

— Quem te disse isso? — Ela perguntou vindo até mim, sentando no balanço do meu lado — Você conversou com minha mãe? Ela que te falou?

— Não importa... É a realidade. Depois que sai do hospital e meu pai gritou comigo, percebi que tudo que ele disse faz sentido — Expliquei pensativo encarando a grama — Minhas memórias, vem e vão, até seu nome lembrei, embora não tenha lembrado o da sua mãe... Contudo, agora lembro que já vim aqui, lembro até o nome das estrelas... Devo estar melhor.

— Então você acha que ficou curado?! — Ela perguntou curiosa, me encarando chateada — Só por que lembrou disso tudo, não quer dizer que depois ou amanhã ou semana que vem, vai lembrar...

— Eu não acho nada. Eu tenho certeza que vivi uma mentira e fiz minha mãe ficar doente, com preocupações de uma doença que nem existe... — Falei sem animo e na mesma hora Sammy me deu um tapa na cara. Ela estava com os olhos cheios de lágrimas — Por que fez...

— Nunca mais... — Ela falou me interrompendo. Estava irritada e me olhava com uma expressão de dor — Nunca, em todo o resto da sua vida, fale isso novamente... Não é uma mentira!

— Como sabe?! — Perguntei impaciente, levantando do balanço — Vai me dizer que você também entende o que sinto?!

— Minha vida inteira, ouvi todos dizerem que eu não tenho depressão! Sempre que sorriu ou passo alguns dias feliz, todos dizem que é uma farsa, que eu não tenho doença nenhuma... Ninguém nunca acreditou em mim e nunca tentaram me ajudar! — Ela gritou irritada, vindo em minha direção, segurou a gola da minha blusa e me encarou nos olhos — Nunca deixem as pessoas te dizerem, que seu sofrimento não é real. Só sabe o que passamos ou sentimos, nós mesmos.

— O que você quer que eu faça? Tente me matar também, para eles acreditarem? — Perguntei olhando nos olhos dela e ela me soltou. Aquilo deve ter magoado ela. — Eu não quis dizer isso...

— Não tentei me matar por isso. Só estava cansada de ajudar todos, em momentos críticos de suas vidas... — Ela deu uma pausa e olhou para o céu. Ás lagrimas escorriam por seu rosto — E quando mais preciso, ninguém está lá para me ajudar.

— Você sabe mais que eu, que isso não seria suficiente para curar sua dor. Você depende muito das pessoas, não faça isso... — Falei olhando também o céu — Dores não se curam com a ajuda de pessoas. Até por que, todos nós sabemos que uma hora ou outra, ninguém vai estar lá. É  normal, por que somos humanos e a vida brinca com nossas emoções. Ela vai escolher o momento certo, que não há ninguém por perto, pra fazer a dor chegar...

— Se dores não se curam com a ajuda das pessoas, como então? — Ela perguntou com um olhar desesperador pra mim — Como faço para não chorar todo dia? Como faço para que essas lagrimas e essa dor, não apareça quando bem quer? 

— Mesmo que cure uma, não haverá sempre uma nova? — Perguntei com um sorriso no rosto — Eu até cheguei a pensar, que meu dom de esquecer, me ajudaria a nunca sentir essas dores... Porém mesmo que esqueçamos, a vida trará uma nova dor. Não há como curar, uma hora ou outra, vai doer de novo e vamos chorar.

— Então o que podemos fazer? — Ela suspirou cansada — Sentir a dor? Deixar ela nos matar?

— Ah não. Nunca! Morrer não é solução!. Você sente a dor, chora, muito mesmo! Depois vai perceber que as lagrimas pararam, em seguida vai procurar fazer algo que gosta ou descobrir novas coisas para gostar e usar nesses momentos infelizes — Expliquei pensativo — É nessas horas, que a vida te dá um desconto, 30% oferta especial, para sua mente se divertir, vai aparecer vontades loucas de fazer coisas legais, ficar rindo, essas coisas... E nada fará sua mente trazer pensativos tristes, você fica bem por muito tempo, até a próxima seção de choro. As vezes demora 1 mês sabia?

— É brincadeira não é? — Ela perguntou rindo — Sério que você usou toda essa filosofia para me dizer isso no final?

— Você está sorrindo não é? Consegue voltar a chorar, se tentar? — Perguntei preocupado em ela dizer que sim mas ela ficou em silencio — Viu? Desconto especial da vida! Vai passar a noite rindo das minhas "bobagens" mas com certeza, hoje você não chora mais e vai procurar várias coisas que gosta, pra fazer, simplesmente por vontade de se divertir.

— Então a dor não tem cura mesmo? — Ela perguntou e riu com minha reação. Eu revirei os olhos, por todo meu trabalho ter sido jogado fora naquele momento — Que foi? É só curiosidade...

— Isso importa? Que tenha ou não, que pare de doer um dia ou não, não precisamos saber disso! — Falei chateado, achando que ela não havia entendido o sentido real da minha motivação — Olha, a questão é... Não deixe suas dores serem donas de você, chore, sinta a dor, faça o que faz de costume... Mas não deixe isso ser o foco principal da sua vida. É normal sentir dor, ficar doente por causa delas, ter depressão, chorar... O que não é normal, é deixar isso tomar conta da sua vida, se ainda há chances de ser feliz. 

— Como alguém que nunca viveu de verdade... — Ela perguntou segurando meu braço, olhando em meus olhos, como se buscasse respostas em minha alma — Sabe tanto sobre tudo isso?

— Não é preciso viver muito, para entender sobre os sofrimentos e as dores da vida, basta sentir alguma delas... — Falei com um sorriso no rosto, embora o coração estivesse em lágrimas — Eu não lembro de tudo que doeu nesses 20 anos, mas senti uma dor enorme ao saber que minha mãe está doente por minha culpa, estou sofrendo agora por não poder mudar essa situação. É  por isso que eu entendo, apenas isso, só precisou doer uma vez...

Sammy ficou em silencio e encaramos o céu juntos. Aquele assunto poderia não ter encerrado ali, mas sabíamos que se continuássemos, nosso desconto especial perderia a validade. Resolvemos aproveitar a companhia um do outro e sorrir olhando para as estrelas, simplesmente ficamos felizes e vivemos aquele momento, para assim, a vontade empolgante de se divertir mais ainda, chegar mais tarde e ficar conosco o máximo que pudesse. 

"Se chorei ou se sorrir, o importante é que emoções, eu vivi..." Estou o Roberto Carlos com esse capítulo de hoje. Espero que gostem

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now