Capítulo 11

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A síndrome de Dory é como qualquer outra doença. Ela tem fases, ela pode ser benigna ou maligna, ela pode ir numa escala de 0 a 100, se degenerar devagar ou rapidamente e acabar matando o paciente. Infelizmente é algo novo sem muitos informações, que precisa ser analisado, não tem cura e muito menos tratamento, mas tem alguns tipos de ajuda para determinados sintomas, como as crises de falta de respiração e as dores de cabeça.

As vezes, o que mais atemoriza, é não poder respirar. Se eu esqueço como realizar essa ação, acabo precisando ser medicado e posto pra dormir, antes que eu morra sem fôlego. Passo dias entubado, até semanas, tudo por que meu cérebro não consegue realizar uma simples ação, me fazer respirar.

Minha vida sempre foi complicada, sempre fui dependente de pessoas para me ajudar, quando criança eu sempre tinha que usar fraldas, acho que até uns 12 anos. Era dureza esquecer que se deve ir ao banheiro ou que a dor em determinado órgão significará que eu deveria urinar. Nada foi fácil pra mim, tudo tinha que ser anotado, filmado, ou repassado em conversas depois.

A síndrome de Dory não é igual ao Alzheimer. Seria bom lembrar coisas do passado e esquecer só o presente, na verdade seria bom lembrar alguma coisa, seja qual fosse, sem ajuda, só usando meu cérebro. No Alzheimer você espera a velhice, é normal esquecer e ser cuidado pelas pessoas... Mas quando se tem isso desde criança, é uma tortura. Algumas pessoas que sabem do meu problema acham que é uma dádiva esquecer, nunca lembrar de problemas ou preocupações, sempre ter paz... Quem dera a vida fosse fácil assim, dádiva é esquecer dores, mágoas, coisas ruins, mas esquecer tudo é uma maldição.

— Então Richard? Pronto? — O doutor perguntou esperando meu sinal para ligar a máquina, havia vários fios ligados na minha cabeça, alguns por meus braços, outros no meu pescoço e peito — Vamos fazer alguns testes, depois voltaremos e conversaremos no quarto.

Sammy havia dito que logo eu receberia uma visita do doutor para ele me explicar a minha nova situação. Depois de eu chorar horas por saber a nova fase que me encontro, o médico entrou no quarto e me levou para fazer novos exames. Todos achavam que eu tinha Alzheimer, que a síndrome de Dory era uma raiz do Alzheimer precoce e eu era um caso raro. Afinal, tenho perca de memória desde criança.

— Pelo visto, vou passar mais tempo no hospital do que eu esperava... — Falei entrando no quarto sendo empurrado na cadeira de rodas — Por que mesmo não posso andar?

— Por que você precisa ter o mínimo de esforço possível, para não ter outro episódio de dor de cabeça — explicou a enfermeira que me auxiliava e o doutor confirmou com a cabeça — Daqui a pouco eu trago algo para você se alimentar.

— Onde está a Sammy? — Perguntei curioso — E minha mãe, não vem mais? Ela está bem?

— Deve ter ido descansar, ela dormiu aqui ontem. Sua mãe estava muito cansada, deve está fazendo o mesmo — explicou o doutor me observando sentar na cama e anotando algo em sua prancheta — Parece que seus reflexos estão ótimos.

— Sim, parece que nunca tive perca de memória, consigo me mexer, consigo respirar e lembro que estou num quarto, deitado em uma cama, fora outras lembranças — Falei animado, mas depois perdendo o sorriso que antes estava no meu rosto — Pena que isso dura pouco tempo...

— Realmente é um caso curioso, todavia interessante... — O doutor falou pensativo — Você esquece tudo, pelo o que foi constatado por sua mãe, as vezes não lembra nem que deve ir ao banheiro, isso diariamente ou momentaneamente. Mas agora, mudou, você lembra tudo, mas se dormir, as informações apagam.

— Eu devo me animar com isso? — Perguntei rindo — Por mim, seja uma nova fase de piora ou não, está melhor que antes. Pelo menos, basta eu ter um choque na mente, que tudo volta, eu vejo isso como uma melhora, não uma piora, não entendo por quê...

O doutor ficou observando, esperando o que eu ia falar com aquilo. Infelizmente eu não lembrava o nome dele, mesmo com o tal choque na mente que recebi ao ver Sammy. Eu também não lembro o nome da minha mãe nesse momento, nem como é meu pai. Só algumas lembranças bobas como eu andando de bicicleta, indo a escola ou gravando vídeos pela primeira vez... Espera, será que isso tem a ver com o que Sammy falou?

— O avanço da minha doença... O que ela pode me causar agora? — Perguntei nervoso encarando minhas pernas — Eu... Vou parar de andar por completo futuramente?

— Sei que lhe prometi explicações Richard, mas a verdade é que eu não tenho muito a lhe informar, só posso passar o que já sei, que são informações de antigas consultas que você teve, o histórico dos seus sintomas, onde tudo começou, o avanço... É tudo muito curioso, mistérioso e meio incompreensível  — o doutor falando revirando várias folhas anexadas na sua prancheta — O médico que lhe acompanhava já não estar mais vivo, pelo o que eu soube, faz 2 anos que ele morreu e você parou de fazer os acompanhantes... Eu preciso pegar algumas anotações ainda, que ele tenha deixado sobre essa nova doença, então por enquanto só posso dizer o que já sabemos e você esqueceu conforme os anos.

— Então eu não posso voltar pra casa? — Perguntei desanimado, suspirando — Você vai continuar as analises que ele fazia, ate conseguir me ajudar?

— Sim, eu pretendo lhe ajudar, não sei se encontrarei uma cura, mas quero tentar fazer com que você fique nesse estado e não passe para o próximo tão rapidamente — Explicou o doutor, meio desanimado também — Infelizmente, a próxima etapa... Bem, não é algo certo, não se prenda a isso, entenda que tudo pode acontecer e é algo novo, pode não ser como eu penso...

— Diga doutor, a próxima etapa o que? — perguntei desassossegado — O senhor é um doutor, deve entender mais que qualquer um, errado ou certo, só o senhor pode informar algo sobre mim no momento...

— A próxima etapa, é sua morte Richard — o doutor falou cabisbaixo — Eu não sei se tenho tempo suficiente para estudar sobre isso e achar uma cura, o médico lhe acompanhava desde criança, ou seja, 20 anos de pesquisa...

— Ele morreu doutor! Ninguém sabe ainda se ele não encontrou algo, se achou ao menos um tratamento! — Gritei chateado, eu estava cansado de ouvir sempre a mesma coisa, que logo eu iria morrer — Pelo menos tente... Eu passei minha vida inteira, tentando, lutando, eu não quero desistir agora!

— Farei o possível Richard. Sinto muito pelas notícias... — O doutor falou se levantando — Mas se serve de consolo, se você conseguir evitar as dores de cabeça e ter o mínimo de esforço possível, evitando emoções fortes entende? Nós dará mais tempo para lhe ajudar nessa situação.

Não respondi. Apenas deixei ele sair sem dizer mais nada. Era incrível, a única pessoa que realmente poderia e tentou me ajudar, estava morta. E esse atual doutor não parece ter um mínimo de sensibilidade, mas é normal, quando envolve morte, todos desistem... Menos eu, continuarei tentando, eu mereço viver, eu vou lutar, eu vou continuar a nadar...

É isso gente. Eu pensei muito nesse capítulo, repensei, tentei não deixar tudo muito frustrante. Mas prometo notícias melhoras em breve. Curtam, comentem e digam o que acham ❤

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now