Capítulo 15

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Branco. É tudo isso que me lembro. Paredes brancas, teto branco, chão branco. Ah sim, não posso me esquecer desse detalhe, havia várias portas também. Cada porta tinha sua identificação, apesar de não entender o por que, todas estavam trancadas. Levei um tempo para perceber que eu havia dormido novamente, sempre que acordo nesse lugar, eu abro os olhos e fico olhando pra cima, imaginando a única coisa que se passa na minha mente... Por que eu?

Dessa vez eu estava calmo. Não sei exatamente em que momento eu caí no sono, afinal, eu ia fazer o jantar da senhora que já nem lembro o nome, comemos e fomos para o sofá, ou seria  cada um foi para seu quarto dormir? Ah sim, eu fui tomar banho e cai ou será que por está muito cansado deitei na cama e acabei dormindo? Será que dormi foi no sofá mesmo? Ah, isso já não importa mais, o inútil aqui dormiu depois do trabalho todo para fugir e ter uma vida diferente...

Se é que eu acordo amanhã. Mais uma vez aqui e eu não me acostumo com o fato que esse lugar é minha mente. Será que todo paciente com Síndrome de Dory ou Alzheimer, tem a mente branca e vazia como a minha?

— Ei! Você! — Alguém gritou me assustando pelas minhas costas e eu não acreditei, fiquei surpreso, a pessoa era a Marry — Está perdido na própria mente garoto?

— Por que está aqui? O que faz aqui? Aliás, como conseguiu entrar aqui? — perguntei atônito, por que de tantas pessoas logo a Marry? — Incrível, além de cometer o erro de dormir, a pessoa que consegui imaginar para me ajudar e me aconselhar por aqui, é essa doida!

— Doida não! Respeita! Só penso um pouquinho com menos juízo do que as outras pessoas — Ela falou rindo e depois cruzou os braços me encarando — Por que está parado aqui? É só entrar em uma das portas.

— Estão trancadas, não tem como! — Falei batendo a mão na testa chateado por ela não perceber que se fosse fácil assim, eu teria feito — Agora responde, por você está aqui?

— Eu também não sei, sua mente me criou ou algo assim... Talvez eu seja sua última memória recente, lembra que nesse mundo você lembra da última coisa que você viu? — Ela explicou embora eu não lembre de ter a visto antes de dormir, mas será que ela entrou no meu quarto? Ou aconteceu algo no sofá? Ou... oh não! Será que entrei no quarto dela, ela me bateu e eu apaguei?! — Não vai pensar bobagem garoto, eu hein, sossega aí!

— Enfim, preciso voltar, acordar sabe? Como faço isso? — Perguntei olhando para todos os lados em busca da porta da Vida, que vi na última vez que estive aqui — Preciso entrar naquela porta que me mantém vivo.

— Eu já disse, é só entrar em uma dessas portas — Ela repetiu e eu fiquei sem entender — Aliás, não tem essa porta da Vida hoje, você está vivo, apenas dormiu. Dessa vez tem que entrar em alguma porta dessas aí...

— Como assim? Qualquer uma? — Perguntei olhando para todas — Mesmo que eu escolha uma dessas memórias, vou entrar como? Você tem as chaves?

— Claro que não! Apareci aqui só para lhe aconselhar, pra entrar você arromba a porta. Simples! — Ela falou  e fiquei a observando, aquilo só podia ser alguma brincadeira dela — Olha, nesse mundo, você não sente dores, só sente acordado. Arrombar uma porta, significa lembrar de algo, quando você estiver acordado é claro. É como se você estivesse tentando se ajudar, a recuperar sua memória entende?

— Eu estou me ajudando a recuperar o que eu esqueci? Forçando minha mente é isso? No caso, terei que arrombar uma porta... Mas qual? — Perguntei vendo várias memórias que seriam úteis — Quando eu acordar, não vou conseguir lembrar como falar nem me mexer não é?

— Não, infelizmente você só lembrará de apenas 1 memória, tem que escolher bem. Mas caso queira, tem essas portas por aí, as que são memórias de movimentação do seu corpo, mas não vai poder falar, ou é uma ou é outra — Ela explicou e eu entrei em pânico, não tem como escolher só uma, eu precisava de ambas pra sobreviver — Olha, Você não tem seu celular, nem os cadernos, nem os vídeos, você sabia que seria má ideia fugir do hospital...

— Hospital! Isso! — Interrompi Marry e comecei a procurar por essa porta, indo uma por uma — Preciso achar a memória sobre a Sammy!

— Eu não queria ser chata... — Marry falou receosa observando meu estado de pânico — Mas isso não vai te ajudar dessa vez...

— Por que não? Eu voltei a falar e andar graças a ela, assim que a vi! — Falei chateado, eu já não entendia mais nada e Marry se quer ajudava de verdade — Por que isso não vai me ajudar?

— Lembrar da Sammy não ajuda. Ela não fez nada por você. Você que fez por ela... Mas isso não é assunto pra agora. Sammy não te ajudou, ao vê-la você ativou suas memórias base. Naquele momento, você teve uma pequena dor de cabeça, que não percebeu na hora, suas dores de cabeça fazem algumas memórias suas voltarem — Ela explicou e eu fiquei refletindo sobre aquilo em silêncio — Se quiser testar quando acordar, pode tentar, dores de cabeça leves trazem pequenas memórias, dores de cabeça fortes, trazem longas memórias.

— O médico disse que eu poderia morrer se eu ficar tendo essas dores de cabeça... Sempre que eu tiver uma emoção forte, eu sentirei a dor e seja ela grande ou pequena, diminuirá meu tempo de vida... — Falei pensando mais sobre aquilo. No dia que vi Sammy, talvez eu só tenha tido uma emoção leve, por saber que ela estava bem fiquei emocionado e feliz — Então, eu consigo lembrar as Vezes... Mas pra isso, eu tenho que desistir de mim, pouco a pouco...

— Vamos dizer que é quase isso — Ela falou se distanciando de mim, desanimada — Sinto muito lhe dar essa notícia... Escolha a porta e acorde, preciso ir.

— Espere! Não vá! Ainda não sei qual escolher! — Gritei, mas ela já estava muito distante, até que sumiu — Pelo menos não me deixe sozinho...

Agora que sei como isso funciona. Tudo ficou mais fácil ou mais difícil. Seria complicado explicar para o doutor ou outra pessoa que tem essa doença, que é só abrir as portinhas que tem na mente e assim terá uma lembrança esquecida de volta. Pena que para fazer isso acordado, sempre forçará uma dor de cabeça e adeus algumas horas ou dias de vida...
Por hora, vou escolher a memória de movimentação é só ir até um computador e estudar um pouco depois. A velha rotina de ver vídeo e ler anotações...

Pelo o que Marry explicou, é só correr... Será que devo pensar no que está escrito na porta? Acho que sim, depois é só bater nela com toda força e vamos na fé que ela vai abrir. Espero que ao menos eu lembre meu nome quando acordar, acho que optar pela memória de movimentação não será boa ideia... Enfim, é melhor que nada. Vou pegar uma boa distância e é isso, correr, bater e esperar acordar amanhã. Eu só espero que isso não seja um sonho, que Marry esteja certa e que eu ainda esteja vivo depois de tudo isso...

Morre não Richard, tem muito pela frente ainda. Enviem forças ai, daqui a pouco ele acorda, pelo menos é o que esperamos kkk

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now