Capítulo 37

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Vozes ecoam em minha mente, ainda não consigo ver tudo nitidamente, sei que pessoas me observam, escuto suas vozes, porém não consigo definir quem são as pessoas. Ainda estou imóvel, dessa vez eu exagerei no processo de acordar, deve haver outros danos que ainda não identifiquei, é provável que eu não fale por um tempo. Imagino que meu pai deve ter pedido vários exames para entender por que estou entubado. Nossa, não lembrava como era horrível respirar com esses tubos... Ao menos eu ainda estava vivo.

— Richard? Está me ouvindo? — Alguém falou se aproximando de mim, provavelmente o médico, colocando uma luz forte nos meus olhos — Se estiver, responda ou der um sinal.

Seria impossível fazer isso. O médico esperou alguns minutos e por ter nenhuma reação minha, ele moveu um dos meus braços e checou meu pulso. Ouvi um choro desesperado, com certeza minha mãe estava ali, mas por que? Não deviam ter deixado ela me ver assim... Eu estava quase como morto, movendo apenas os olhos, isso era doloroso de mais pra ela. Tentei com todas as minhas forças, mover pelo menos um dedo, mas não consegui.

— Olha só o estado dele! — Minha mãe gritou chorando — Por que ele não se move dessa vez? Não disseram que ele já estava melhor?!

— Calma senhora Luisa... — Alguém tentou confortar minha mãe — Ele ficará bem. Deve estar em estado de choque ainda ou com paralisia do sono. Logo ele vai se mover...

— Que moleque dramático... — Outra pessoa falou se aproximando de mim, pegou minha mão e a segurou forte — Vamos, você sente minha mão não é? Aperte-a! 

— Ele não vai apertar Marry, passei a noite segurando a mão dele e não deu certo... — A voz de antes falou novamente e só poderia ser Sammy, ela estava com minha mãe e Marry também estava no quarto — Isso não dá mais certo, achei que ele me vendo, ouvindo minha voz, qualquer coisa... Pensei que melhoraria, mas ele ainda está assim.

Sammy começou a chorar. Com certeza havia passado a noite em claro, tentando me acordar. Não por que colocaram esse peso sobre os ombros dela, desde inicio, deveriam ter dito que foi uma coincidência ter voltado a me mexer depois de vê-la. Agora não deu certo e ela se sente culpada... Eu só queria poder falar para resolver isso. Minha visão havia retornado sem que eu percebesse, já conhecia ver Marry apertando minha mão, algo estava diferente nela. Parecia mais gentil, mais acolhedora...

— Richard, sinto muito dizer isso... — Marry falou triste e me olhou nos olhos — A Teresa quer ver você, por favor, se mova, aperte minha mão, faça alguma coisa! Ela está morrendo... Você precisa ir vê-la.

— Senhorita, isso não é algo para dizer ao paciente! — O médico falou irritado, puxando para longe da minha cama. Aquilo me irritou, como um médico poderia agir assim? — Saia do quarto agora! Você só poderá retornar quando ele melhorar!

Marry estava triste, afinal ela não fez por mal. Talvez imaginou que aquilo faria eu me mover. Ela não queria sair, mas o médico continuou a empurrando e eu fiquei impaciente vendo aquela situação. A máquina que marcava meu coração, aumentou a frequência, todos voltaram a atenção pra mim, tudo aconteceu rapidamente e ninguém pode impedir minha reação. Levantei da cama puxando o tubo da minha boca e algo que estava no meu nariz, fui em direção ao médico e segurei o braço dele, todos ficaram me encarando apavorados e eu encarei o médico que estava assustado ao me ver em pé, diante dele.

— De... Dei.. Deixe, ela...  — Tentei pronunciar algumas palavras, ainda com dificuldade para respirar ou mover os lábios — Ficar...

— Richard! — Minha mãe gritou, quando percebeu que eu ia cair e correu para me segurar — Aqueles aparelhos estão te mantendo vivo! Por que fez isso?

— Enfermeiras! Venham aqui, rápido! — O médico gritou nervoso e logo elas chegaram, me ajudando a voltar para cama — Coloquem tudo novamente, por enquanto ele tem que respirar por esse equipamento!

— O que... — Tentei falar novamente com muito esforço — Aconteceu... Comigo?

— Não fale querido... — Minha mãe pediu, ficando do meu lado e segurando minha mão — Tente não se esforçar.

— Aparentemente, você teve um AVC — O médico respondeu minha pergunta e dispensou as enfermeiras — Irei chamar o doutor Markson. Ele está responsável por esse problema.

— Eu vou morrer? — Perguntei depois de puxar bastante ar, para não falar dando pausas — O que é AVC?

— Não querido, você ficará bem! — Sammy sorriu tentando me animar, sentando do outro lado da cama, segurando minha outra mão — Vou cuidar de você, como da ultima vez!

— Como ninguém respondeu, eu direi — Marry falou seria, vindo para próximo de Sammy — AVC é um problema no cérebro, quando para de receber oxigenação, uma artéria é obstruída e acontece isso tudo que você sentiu. Não adianta explicar tudo, você nem entende.

— Na verdade, começou com uma dor no coração, talvez insuficiência cardíaca ou infarto... Ele não deve lembrar, mas acordamos com ele gritando, mesmo dormindo ele dizia que o coração estava doendo... — Sammy explicou desanimada e uma lágrima caiu do olho dela — Depois disso, nos avisaram que ele estava tendo um AVC também, quando o avaliaram.

— É um milagre estar vivo! — Marry falou chateada — Nos exames detectaram alto nível de glicose no sangue, sua alimentação não era saudável? Você está abaixo do peso e parece que mal bebia água não é? Aliás, sua mãe disse que você nunca fez exercício na vida. Qual o seu problema?!

— Acho que a glicose alta, deve ser minha culpa... — Sammy falou sem jeito com um sorriso nervoso no rosto — Comemos quase todos os doces e salgados da lanchonete da esquina...

— Como assim?! — Marry gritou irritada assustando Sammy que ficou cabisbaixa — Você planejava se matar? Aquilo tudo para alguém que já não se alimentava bem, era um veneno!

— Cama Marry... — Minha mãe pediu depois de minutos em silencio, só observando e recebendo as informações que nem ela sabia ainda — Isso é verdade Richard?

— Eu vomitei tudo depois... — Falei envergonhado, olhando pra baixo, encarando minha barriga — Eu imaginei que iria fazer mal... Mas era só uma vez na vida.

— Eu vou embora, antes que eu mesma mate esse garoto! — Marry falou saindo com raiva e depois voltando para pegar a bolsa — Perdão o estresse senhora Luisa, até mais!

 — Ei vulcão — Chamei gritando e ela voltou me mostrando o dedo do meio o que me fez rir — Diga a Teresa que aguente, eu já estou indo.

Ela não respondeu, apenas foi embora. Minha mãe e Sammy ficaram confusas com nosso jeito de tratar um ao  outro, mas não perguntaram nada sobre. Todos estávamos cansados, minha mãe já estava cochilando, Sammy tinha olheiras, nenhuma delas descansou um minuto se quer. Observei que minha mãe estava tremendo, ele não deveria estar ali comigo, em pouco segundo ela adormeceu. Sammy digitava algo no celular, com certeza os pais dela estavam preocupados, mas o horário de visita já iria acabar. 

Sammy me mostrou o que digitava no celular e era na verdade um rascunho, estava escrito que ela levaria minha mãe para casa e depois retornaria, quando passasse em casa primeiro e explicasse minha situação a todos. Apenas confirmei com a cabeça e ela saiu para chamar algum enfermeiro, que carregasse minha mãe no colo. Minutos depois ele apareceu e a levou. Eu estava sozinho novamente, tanta coisa na mente, mas uma me incomodava mais, o que estava acontecendo comigo?

Perdoe os erros e aproveitem mais um capítulo empolgante! Votem, comentem e até mais ❤

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now