Capítulo 50

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Eu gostaria que o mundo inteiro fosse grato, se tivesse uma mãe que amasse de verdade. Gostaria que todos os filhos amassem as mães que tem, por que eu tive duas, as amei como nunca fiz com qualquer outra pessoa e elas me abandonaram. Eu realmente gostaria de saber como é ter alguém que não desista de ti, quando as provações chegarem. Fico imaginando todos os motivos possíveis para Luisa ir embora e também para Marília realmente abandonar o filho, para Marry só me contar tudo agora, para eu ter nascido com uma doença tão cruel.

Marry ainda estava a minha frente, provavelmente esperando alguma reação minha. Seria cômico se não fosse trágico, ela pensar que eu diria sim e sairia todo alegre junto com ela, para viajar com Marília. Eu só gostaria de ver uma pessoa no momento, mas ela até agora não apareceu e terei que fugir novamente para vê-la.

— Pensou que? — Dei uma risada sarcástica —  Você não espera que eu vá com vocês não é?

— Imaginei que reagiria assim... — Marry respondeu desanimada — Então, boa sorte em sua vida, a gente se ver um dia, quem sabe...

— Espero que nunca! — Me virei pra ela e fui até a janela do quarto. Ela parecia surpresa com minha reação — Não me entenda mal, mas não quero vê-la também, não tenho nada contra você. Porém, você ainda prefere ir com ela, depois de tudo... Não consigo pensar, que você não é diferente dela.

— Eu sou diferente dela sim! O fato da minha decisão de ir com ela, é por que estou dando uma segunda chance, para nossa mãe mudar e fazer tudo diferente também!— Ela gritou irritada e voltou a chorar — Você deveria fazer o mesmo...

— Não haja como se eu fosse o vilão da história! — Gritei também, fui até ela, mas ela não se afastou. Encarei seus olhos e pude notar o medo dela, então tentei me acalmar — Vá embora... Seja feliz com sua mãe e aproveite por nós dois. Um dia... Talvez, eu consiga dar essa chance.

— Por que não pode ser agora? Você disse que tinha pouco tempo de vida! Por que não aproveita e vem conosco? — Marry suplicou ansiosa — Ela disse que mudaria Richard, nós podemos ter dela, o que não tivemos antes...

— Eu tive... Da Luisa e por culpa de vocês, ela esta indo embora e não entendo o por que — Respondi triste — Só vá embora Marry, agradeço o que está tentando fazer, mas já tenho meus planos.

— Luisa está indo embora, por que vai se casar novamente. Para ser feliz, já que não estava sendo até agora! Por que não aguenta mais cuidar de você, por que você não melhora e todos se afastaram dela! Por que... — Ela falou irritada, mas não pôde terminar a frase, pois perdi a paciência e dei um tapa no rosto dela — Você é um idiota! Ela que me disse tudo isso!

— Não me orgulho pelo tapa... Por que nenhum homem deve bater em uma mulher, por mais ruim que ela seja... E peço perdão pelo impulso — Falei entre lágrimas olhando para o chão — Mas me orgulho por defende-la, por que eu sei, que nada disso é verdade! Minha mãe me amava! Ela não é assim!

— Suas percas de memoria também lhe fizeram esquecer, o quão ruim as pessoas são? — Marry sorriu mas sei que estava furiosa — Espero que um dia, você viva o suficiente pra saber, quem te amava de verdade, irmãozinho!

— Se eu morresse hoje, eu saberia! E não me chame mais assim. Agora vá embora! — Pedi pela ultima vez, perdendo o resto da paciência que me sobrava, empurrando Marry para fora do quarto — E por favor, se não quiser que eu revele tudo a policia, nunca mais fale da minha mãe Luisa e mantenham distancia dela também.

 Marry não falou mais nada, apenas saiu e foi embora como pedi. Eu estava completamente perdido, se tudo fosse verdade, eu estaria perdendo uma oportunidade, mas era muito difícil confiar em Marília como Marry fez. O pior de tudo, é que seria um bom momento para ter uma crise, para desmaiar, para esquecer o dia de hoje, porém, nada aconteceu, nem se quer uma dorzinha de cabeça. Era injusto, mas poderia ser um bom sinal. Aquilo insinuava que eu teria tempo para resolver bastante coisa, antes de provavelmente morrer, se é que vou mesmo.

Sai do quarto e fui em direção a sala de Markson. Mandei uma mensagem para Sammy me desculpando e pedindo que ela viesse me ver urgentemente. Antes que eu chegasse na sala dele, um número desconhecido me ligava, ignorei a primeira vez, mas poderia ser Sammy, então resolvi atender. Infelizmente, me arrependi, a voz do outro lado me deixou imóvel e sem fala. Eu não sabia como ela tinha conseguido meu número, mas estava curioso de mais para desligar, afinal era isso que ela merecia, mas não fiz, apenas ouvi.

— Richard? Sei que vai desligar, mas por favor, antes escute! — Marília pediu como se conseguisse ler minha mente — Marry já me disse que não quer ver conosco, então eu queria te pedir outra coisa.

— Peça... — Respondi, juntando todas as minhas forças, tentando não chorar. Permaneci o mais sério que pude. — O que ainda quer de um filho, que só serviu para você conseguir dinheiro?

— Não fale assim meu amor... — Ela chorava pelo outro lado do telefone, desesperada e soluçando — Você não sabe o quanto sofri, o quanto me culpei e me torturei, chorando todo dia, por ter feito isso a você... Se eu pudesse voltar e fazer tudo diferente, eu faria...

— Mas não pode! — Respondi seco e rir — Você está brincando não é? É por isso que está ligando? Quer que eu tenha pena de você?

— Eu quero seu perdão! — Ela gritou angustiada — É pedir de mais? Todo mundo merece uma segunda chance, eu sei que fui horrível, mas...

— Você foi pior! — Respondi irritado, cortando a fala dela — Se é só isso, vou desligar.

— Espere! — Ela pediu nervosa, rapidamente, antes que eu desligasse — Não há nada, nada mesmo, que eu possa fazer... Para concertar meu erro?

— Claro! Algo bem simples... — Falei e pude sentir que ela ficou esperançosa — Um dia, quando eu morrer... No meu enterro, não diga que sempre me amou ou algo parecido. Nesse dia, peça seu perdão, será algo mais verdadeiro para a ocasião.

— Richard... — Ela falou e parecia que estava sofrendo bastante — Por favor... eu imploro. Deixe-me vê-lo uma ultima vez...

Eu poderia ser chamado de frio, insensível e cruel, mas eu ouviria e aceitaria isso de todos, se fosse preciso. Por que mesmo sendo tudo isso, a dor de Marília não era maior ou menor que a minha, eu merecia ao menos agir dessa forma com ela. Desliguei o celular e não respondi, mas embora eu estivesse irritado, havia algo que eu ainda tinha, um coração misericordioso. Mandei uma mensagem para Marília, pedindo para ela me ver, se realmente queria tanto, no próximo outono. Era o tempo que eu precisaria para resolver tudo que preciso, afinal, eu não aguentaria e não sobreviveria, se eu a visse antes desse tempo.

Não demorou muito para ela confirmar que iria. Viajaria e depois retornaria, pois não podia ficar mais naquela cidade, por segurança, mudaria a aparência, nome e etc, mas me informaria no dia do encontro como reconhecê-la. Marcamos nosso reencontro na praça, próxima ao hospital. O mesmo local que ela me abandonou anos atrás. Aquele era um ótimo lugar, para uma despedida de verdade. Era isso, mesmo me sentindo quebrado, mesmo que meu coração estivesse doendo, eu iria vê-la, afinal, ela não era única que tinha algo a falar, era minha vez, eram minhas ultimas palavras, era tudo que eu sempre quis falar, se meu fim fosse próximo.

Tem um olho na minha lágrima. Perdão gente, não desista de mim, continuem lendo. Até o próximo capítulo ❤

Até o cair das folhas - Em RevisãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora