Capítulo 34

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Querida Dory, não sei quantos peixes você precisou convencer, quanto preconceito e incredulidade você teve que passar, também não sei por que ao invés de ficar protegida em um lugar seguro, você só continuou sua vida. Não entendo por que ainda sorria, quando sentia dor e por que suas lágrimas não duravam mais que alguns segundos. Você enfrentou tudo e mais um pouco, mas ainda acreditou que poderia lembrar e achar tanto seu amigo Nemo, como seus pais. Hoje, me sinto tentado a perguntar, será que um dia, eu conseguirei ser como você?

Ontem a noite, eu não disse tudo a Sammy, até por que isso não a ajudaria muito. Mas sempre tive a Dory, como minha inspiração, minha motivação... Ela que me ensinou, sobre as pessoas, apesar da Dory lidar com peixes, eu consegui entender. Quando você busca ajuda seja com quem for, no começo elas até ajudam, mas depois se cansam e desistem, e eu queria ter explicado dessa forma a Sammy. Ás vezes iremos achar quem nos ajude, mas talvez não dure muito tempo, por isso sempre é bom, nos virarmos sozinhos. 

No começo, meu pai tentou me ajudar, mas ele se cansou e partiu. Minha mãe até me motivou a tentar lembrar aos poucos, mas foi desistindo dia a após dia e depois, só me dizia o que eu precisava lembrar, e o resto ela me dizia para deixar como esquecido. Se minha mente realmente está funcionando, lembro que alguns médicos, vizinhos, parentes, também tentaram me ajudar, mas logo foram sumindo um a um. Talvez por que era cansativo mesmo e eu não queria incomodar, então por esse e outros motivos, eu me tranquei no meu quarto, evitei pessoas, resolvi meus problemas sem ninguém. Contudo, nem sempre será só assim...

— Sammy... Eu tenho meu próprio jeito de encarar a realidade do nosso mundo. Não deixe de acreditar que ainda há pessoas que realmente queiram lhe ajudar... — Falei mudando de ideia, por que havia um outro lado da vida, que Dory também conheceu — Sei que te falei muita coisa sobre não depender das pessoas, mas se houver alguma que permita você depender dela, que haja possibilidade dela nunca partir... O que quero dizer é que, talvez haja pessoas que podemos contar.

Ela sentou na grama e me observou sem falar nada. Havia algo que ela precisava saber, pois toda situação tem dois lados, embora eu viva muito nesse lado triste e solitário, ela pode viver em um melhor e menos doloroso. Quando a Dory foi procurar os pais, ela descobriu que havia pessoas que se preocupavam com ela, como Marlin e Nemo, e ela também achou quem a ajudasse, como sua antiga amiga Destiny e o novo amigo Hank. Para muitos e até para Sammy, será difícil de compreender, só quem viu o filme sabe... Queria mostrar a ela, mesmo com pouco tempo, que existe algumas pessoas que sempre irão ajudar e não se cansarão de oferecer essa ajuda, mesmo que seja complicado, há pessoas como eu, que nunca desistem de ajudar.

— Você que precisa de ajuda, mas está me ajudando... Que boa amiga eu sou — Ela sorriu e levantou-se da grama, fiquei deitado ainda por alguns minutos, aquele lugar me trazia paz — Sinto muito não saber o que te dizer, para lhe confortar também.

— Não se preocupe. Aliás, você já soube que vou morar aqui por uns dias? — Perguntei e ela me olhou assustada, depois correu para dentro de casa, talvez atrás da mãe — É, não sabia.

Ainda observando as estrelas, imaginei que talvez já fossem umas 23 horas, elas ficam cada vez mais linda, conforme mais escuro seja. Minha vida toda, eu poderia ter feito isso, é muito tranquilizador, porém seria melhor entra antes que eu acabasse dormindo. Levantei e dei alguns passos, as luzes em minha casa me trouxeram certa curiosidade sobre as pessoas que estavam lá. Os avós que faz anos que não vejo... Continuei a andar, eu deveria entrar, mas uma força gigantesca me puxava para a cerca que me impedia de chegar até minha antiga casa.

Desistir de lutar contra a curiosidade e subi uma árvore que havia no quintal de Sammy, pulei para o outro lado da cerca sem pensar duas vezes. Aquilo me parecia muito familiar, mas deixei de lado por hora e fui até a janela da sala, fiquei abaixado, não tinha coragem ainda de olhar. Talvez nem fosse boa ideia vê-los, até por que, se me vissem, não se sentiriam confortáveis. Mesmo com esses pensamentos, ignorei e dei uma espiada, só estava minha mãe deitada no sofá. Ela parecia cansada, triste e preocupada.

— Ei garoto! — Alguém me chamou de longe e eu congelei. Não consegui me virar e ouvi passos vindo até mim — O que faz aqui? Planejava roubar a casa?

— Ah não! Eu nunca faria isso! É que... — Não me virei, se aquela pessoa fosse quem eu estava imaginando, eu teria sérios problemas com meu pai logo, logo — Eu soube que a vizinha está doente, vim saber se ela havia melhorado, ela era uma grande amiga da minha avó... Vim só me informar, para contar a ela.

— Hum, entendo. E por que não olha pra mim? — Ele perguntou curioso e enfim, minhas pernas obedeceram e levantei — Como se chama?

— Ah senhor, olha a hora, minha avó já deve estar preocupada — Falei rindo sem jeito e corri esperando que ele não me seguisse — Perdão a pressa, depois apareço!

Infelizmente não pude ver o rosto do senhor, ao menos vi que minha estava descansando e havia pessoas cuidando dela. Preso nesses pensamentos, acabei indo longe de mais e dobrei alguma esquina que desconheço. Ótimo, agora sim eu tinha problemas... Continuei a andar e vi alguns estranhos atrás de uma lixeira e muita fumaça onde eles estavam, um deles notou minha presença, assustado, dei meia volta e ignorei.

— Ei, você! — Um dos homens chamou e fingi que não tinha escutado — Pare ai!

Percebi que ele vinha atrás de mim, então aumentei os passos, depois passei a correr. Embora não soubesse se ele estava me seguindo ou não, continuei a correr, já longe dobrei outra esquina, até que esbarrei em alguém. Ela se virou pra mim e eu sem levantar a cabeça, esperei suas palavras, naquela altura, não poderia ficar pior, mas sempre ficava mesmo sem querermos. Por sorte, eu conhecia aquela presença mais do que ninguém, como se pudêssemos sentir um vulcão, mesmo distante de nós.

— Ei senhor certinho, viu um fantasma? — Ela falou se abaixando para olhar em meus olhos e sorriu — Fugiu do hospital de novo e está sem onde dormir, não é?

Ver Marry parada naquela esquina, me trouxe uma felicidade que eu não esperava, levantei e segurei sua mão a puxando para longe dali. Acenei com a cabeça para o local de onde eu havia corrido e ela parece ter entendido, ambos fugimos juntos para um lugar seguro e mesmo curioso por ela não ter resistido vir comigo, não perguntei nada. Marry despertava em mim uma coragem de enfrentar o mundo e mesmo fugindo dos homens que vi, se eles nos alcançassem, acho que eu a protegeria, mesmo com todo o perigo presente naquele momento, eu não deixaria que ela se machucasse, por que desde que a conheci, eu senti... Ela queria ser protegida.

Se vocês não estão surtando com isso, eu estou kkkk Sorry a todos, espero que gostem do capítulo. Até o próximo ❤

Até o cair das folhas - Em RevisãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora