Capítulo 36

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Depois que enfrentei o divorcio dos meus pais, deixei escrito em meu bloco de anotações, no celular, que a única pessoa que me restou e nunca saiu do meu lado, foi minha mãe. Apesar de nunca ter perguntado como ela estava, afinal, eu nunca conseguia falar direito com ela, sempre me achei um incomodo. Mas, sempre senti que havia algo errado... Nos últimos meses, ela suspirava bastante, já não me dizia as datas comemorativas, só me perguntava se eu estava bem. Ela estava mal e sempre me ajudou, por esse motivo, eu queria estar no lado dela agora, mesmo com tudo que estou passando, eu só queria perguntar também se ela estava bem e poder abraça-la, quando ela dissesse que não.

Dormir estava sendo impossível, a casa de Sammy era confortável, mas nada como minha casa. Ao menos eu ainda tinha meu celular para distrair e meu pai tinha o sono pesado, pelo menos eu acho que tem... Se ele notasse a luz do meu J7 clareando quase todo o quarto, com certeza ele me mataria dessa vez. Mesmo ele sendo como é, pelo menos trouxe o carregador do celular, junto com as roupas e um caderno com folhas limpas. Embora eu ainda pense, que tenha sido minha mãe que fez a mala. 

Antes de dormir, anotei que mesmo que isso custasse minha vida, eu não esquecesse que o homem dormindo no quarto, era meu pai. Escrevi também que eu fizesse o possível para fingir que lembro dele, caso eu esquecesse no dia seguinte. Sei que é um exagero da minha parte agir assim, mas faz anos que não o vejo e deixar ele irritado, para ele usar dar força bruta comigo como fez no hospital, não seria uma boa ideia. 

— Você planeja dormir alguma hora? — Me pai falou, depois de um suspiro, me assustando. Então ele não estava dormindo... — Se estiver preocupado com sua mãe, amanhã eu te acompanho numa ida rápida lá. Porém, você precisa dormir, guarde o celular e descanse.

— Sinto muito... — Falei sem jeito. Ele estava sendo simpático, isso me deixou surpreso. Guardei o celular numa mesinha perto da cama e me enrolei para dormir — Boa noite...

Ao fechar os olhos, algo estranho aconteceu. Não estava claro ou escuro como sempre, nem preto ou branco, havia cores. Eu estava aparentemente em uma floresta e mais a frente, uma montanha preenchia o caminho, Marry e Sammy estavam lá em cima, no topo. Tentei chama-las, mas eu não tinha voz, algo estava errado comigo, eu não conseguia me mover também. Segundos depois elas notaram minha presença e começaram a me chamar, eu queria subir, mas não conseguia. Fazia tempo que eu não tinha pesadelos assim. Elas olhavam pra mim de forma triste, será que algo havia acontecido comigo no mundo real?

— Richard, o que você fez? — A voz que sempre me acompanhava nos sonhos, apareceu me deixando confuso com a pergunta — Por que deixou todos pensarem que você não é doente? 

— E eu sou? — Perguntei conseguindo me mexer, olhei para cima e as meninas haviam sumido. Sentei no chão e comecei a pensar — Eles estudaram, são profissionais... Quem sou eu para dizer que sou doente?

— Te dei vários conselhos e fui paciente... Agora não posso mais lhe ajudar — A voz falou chateada — Sua doença é algo especial, eu queria que você ajudasse outros que a tivessem, por isso eu disse para seguir sua vida... Mas veja só como você está.

— Como eu estou? — Perguntei impaciente — Vai dizer que...

— Submisso — A voz respondeu cortando minha fala — Seu pai manda em você desde quando? Só agora ele veio fazer o papel de pai! Não que você deva desrespeita-lo, mas você não deve ouvi-lo! Deve faze-lo entender que sua doença é real, ninguém a conhece, muitos como você, morreram sem saber, precisa contar a eles e ajudar quem precisa de ti.

— Eu nem sei quem precisa de mim! — Gritei chateado por ela falar aquele assunto novamente — Se me disser quem eu devo ajudar, eu farei algo a respeito, enfrento até meu pai, mas me diga, quem é essa pessoa? Eu não entendo por que nunca me diz as informações completas, só fala misteriosamente...

— Richard, eu lhe disse, eu sou sua consciência... — A voz falou desanimada — Como eu vou saber, algo que você não sabe?

— Então por que me pede para ajudar essa pessoa? — Perguntei irritado — Como sabe que alguém precisa de mim?

— Eu sinto.. Mesmo que não acredite em mim! — A voz falou nervosa e eu ignorei. Aquilo tudo só poderia ser brincadeira — Pergunte a Marry, ela sabe a verdade. Você pode ter vivido uma mentira, mas não foi da sua doença, há algo que só Marry e sua mãe sabem...

— O que é? Me diga! Chega de mistérios! — Gritei novamente, mas a voz não respondeu, ela partiu novamente, me deixando inquieto — Sempre me deixa, quando mais preciso...

Estava cansado de estar ali, então fechei os olhos e tentei acordar. Continuei fazendo isso por alguns minutos, mas não deu certo. Meu peito estava doendo, minha cabeça também, será que dessa vez, a voz tinha desistido mesmo de mim e eu iria morrer? Olhei para todos os lados e tudo estava sumindo, o preto e branco estava retornando, comecei a andar e só o preto passou a aparecer, com a luz branca por cima de mim. Eu estava ficando sem folego, mesmo dormindo, eu estava sem ar, a luz diminuía a cada segundo que eu respirava menos. Tentei mais uma vez fechar os olhos e acordar, mas infelizmente não deu certo. Dessa vez eu iria morrer...

— Senhor certinho? Ei! Acordar. Consegue me ouvir? — Era a voz de Marry, mas não era possível ser ela, eu estava na casa de Sammy, ela que deveria aparecer para me acordar — Richard, deixa de drama e acorda, você não pode morrer!

Senti meu corpo mexendo, mas eu não conseguia abrir os olhos. Alguém estava tentando me acordar a força, mas por que a voz de Marry? Meu cérebro deve estar brincando comigo, só por que senti um simples acelerar no coração, por ter segurado na mão dela... Ou devo estar pensando nas palavras da voz, que mencionou Marry saber sobre algo da minha vida. Eu sabia que teria problemas para acordar e não avisei ao meu pai... Se duvidar é ele me dando tapas. Eu precisava saber como ativar a memoria básica, para abrir meus olhos, e só havia uma maneira para isso. 

Tentei forçar uma dor de cabeça, lembrando de algo doloroso. Seja uma doença verdadeira ou não, essa era a maneira de continuar lutando pela minha vida, colocando ela em risco. Pensei na minha mãe, na possibilidade dela morrer, pensei sobre ficar sozinho no futuro, pensei em tudo que poderia doer em mim. Enfim a dor de cabeça aumentou e acordei, uma forte luz invadiu o lugar onde eu estava, tudo ganhou cor e objetos iam aparecendo aos poucos, eu consegui abrir os olhos, mas não conseguia me mover e algo incomodava no meu rosto. Havia um objeto estranho na minha boca e no meu nariz, minha visão ainda estava embaçada, porém eu sabia o que era aquilo... Mais uma vez, eu me encontrava naquele lugar e novamente eu estava intubado. 

E como diria o próprio Richard "Jesus Maria José!" Que foi isso hein? Espero que gostem do capítulo, até o próximo ❤

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now