Capítulo 23

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Exames, apenas isso. É a única coisa que tinha para fazer o dia inteiro, fora comer ou dormir. A tentação de fugir novamente vinha todo segundo, mas eu havia prometido a minha mãe que não faria de novo e ela prometeu que tentaria convencer o médico para eu eu sair pelo menos uma vez por semana. Sammy ainda não tinha aparecido e minha mãe precisava voltar para casa e cuidar de tudo lá. Eu estava sozinho por enquanto, pelo menos eu tinha meus cadernos e uma câmera de vídeo, iria começar meu novo projeto para gravar momentos importantes.

O problema era que eu não lembrava de nada e precisava da ajuda da minha mãe ou da Sammy para recordar algumas coisas, então por hora tive que deixar aquilo de lado. Mesmo sem permissão para sair, ás vezes eu dava uma sumiço do meu quarto e visitava algum paciente do quarto ao lado, mas as enfermeiras sempre me faziam voltar. Estava ficava chato só ficar deitada na cama e escrever coisas aleatórias nos meus cadernos.

Quando eu já estava para surtar, ouvi uma enfermeira conversando com outra, dizendo que uma senhora ficaria no quarto ao lado do meu, por ser mais ventilado lá para ela. Não pude deixar de ir lá para saber quem era, mas para meu azar, o destino foi cruel e talvez um pouco salvador. Quem estava vindo era Marry e Dona Teresa, eu queria muito vê-la, mas será que seria uma boa ideia? Talvez aparecer só para pedir desculpa... Resolvi ir, talvez Marry me poupasse.

— Olá... Quanto tempo não é? — Falei na porta do quarto sem jeito — Que coincidência...

— Você... O que está fazendo aqui?! — Marry gritou irritada assim que me viu, esquecendo que dona Teresa estava ali também — Enfermeiras?! Alguém está invadindo aqui!

— Calma Marry! Você nunca fica calma? — Falei correndo até ela e segurando sua boca para não acordar a senhora que só se mexeu na cama, mas ela me mordeu e precisei fazer um grande esforço para não gritar — Qual seu problema garota?!

— Você é meu problema! — Ela gritou novamente e dessa vez dona Teresa acordou — Ah não... Sinto muito dona Tetê...

— O que houve? — Ela perguntou olhando para todos os lados e ficando surpresa ao notar minha presença — Ricardo? Você está aqui também?

— Sinto muito... — Falei desanimado, resolvendo falar a verdade dessa vez — Eu não Ricardo seu neto... Meu nome é Richard, estou aqui no hospital com uma doença grave...

— Ah... Sinto muito querido — Ela disse triste como se sentisse minha dor também — O que você tem? Se é grave, quer dizer que você vai morrer?

— Sim. Dependendo da situação, talvez logo... — Minha voz quis sumir naquela hora, pensei em voltar para meu quarto, a ideia de morrer me abatia bastante, mas Teresa ficou me observando esperando mais informação — Eu tenho uma doença rara chamada Síndrome de Dory, eu não sei muito sobre ela por que esqueci, isso faz parte, eu não lembro de nada... E se esquecer como se respira ou como faço para fazer meu coração bater, eu morro.

— Então você tem Alzheimer precoce? — Marry perguntou depois de minutos de silêncio entrando na conversa — Hoje em dia tem nome estranho pra tudo...

— Na verdade não é só isso. Eu tenho esse problema desde que nasci e ele foi piorando durante toda a minha vida. Depois dos 15, eu estive um pouco melhor, eu lembrava certas coisas com ajuda de cadernos e videos e já conseguia lembrar de ir ao banheiro e comer sozinho, antes eu fazia xixi nas calças e desmaiava de fome — Expliquei pensativo, me sentindo um pouco angustiado — Eu lembro de tudo isso agora, mas não sei por que, por isso não é um simples Alzheimer. Amanhã ou apenas se eu dormir ou sentir uma dor de cabeça forte, posso não lembrar meu nome, como me movimentar, como falar ou não ter mais essas memórias que contei a vocês agora...

 — É algo bem complicado... — Marry falou pensativa também — Então, meio que você e dona Tetê tem o mesmo problema. Os médicos disseram que ela simplesmente se esqueceu como acordar, o cérebro dela está fraco... 

— Pense pelo lado bom. Ela tem mais tempo de vida que eu... — Tentei soar positivo, mas aquilo era triste de mais — Se eu sofrer uma emoção forte, adeus...

— Mas já te disseram quanto tempo de vida você tem? Como você sabe se tem isso tudo mesmo? Te disseram isso? É muito estranho ter algo assim tão novo... — Marry perguntou curiosa — Talvez você nem vá morrer mesmo e esse problema deva ter cura.

— Eu vou a vários médicos desde que nasci. Tive um problema com o cordão umbilical que enrolou no pescoço e faltou oxigenação no meu cérebro. Minha doença é algo raro, fiz uma Ressonância e logo o médico me explicará melhor sobre o que tenho — Expliquei sorrindo tentando soar esperançoso — Talvez eu não morra mesmo, mas um dia todos iremos não é? Ainda há possibilidade que pra mim seja logo.

— Você tenta ser positivo, mas falha miseravelmente — Marry falou cruzando os braços com voz de tédio — Já que você está tão mal assim, vou deixar você ver Teresa, mas só por que não quero ser responsável por sua morte... Vai que você se irrita e infarta, sei lá...

— Obrigada Marry — Eu disse sorrindo — Mas então, enfim posso perguntar, quem é seu neto e o que ele tem? O que houve com ele? Por que não vem te visitar?

— Por que ele trabalha! Bem longe dessa cidade! — Marry falou rapidamente — Dona Teresa, vou rapidinho pegar uma água pra ti. Richard vai comigo!

— Vou? — Falei confuso mas ela me puxou pelo braço e não deixou eu responder — Ei! Me solta!

— Para de perguntar por esse garoto! — Marry pediu cochichando me arrastando — Qual seu quarto?

— Aquele! — Apontei e entramos juntos lá — Por que não posso perguntar?

— Aff! Por que Ricardo esta em coma! Por isso! Dona Teresa não sabe, por que não queremos preocupa-la — Marry falou desanimada sentando em uma cadeira próximo a minha cama — Ele sofreu um acidente 1 ano atrás, que danificou vários orgãos dele... Ainda está esperando o transplante.

— E a família dela? — Perguntei já temendo o pior — O marido dela, os pais do Ricardo...

— Bem... — Marry falou demorando para responder — Estão mortos... 

Aquela informação me pegou desprevenido. Minhas pernas perderam a força, como assim toda a família dela estava morta? Não havia sobrado ninguém? Pobre Teresa, além de enfrentar tudo isso, agora está no hospital... Apesar de não perder minha família, eu sabia como ela se sentia, era só eu e minha mãe, desde o começo só podemos contar um com o outro. A dona Teresa é como eu... Espera... Como eu! É isso! É ela que eu devo ajudar, ela precisa de mim de alguma forma. Eu só preciso saber no que exatamente devo ajudar ela. Então é isso, eu preciso fazer algo por Teresa, essa é minha missão antes de partir desse mundo.

E agora que Richard entendeu, sigamos ao seu destino.

Só pra alertar tem choro daqui pra frente kk Leiam, comentem e até o próximo Capítulo.

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now