— O quê? Quer dizer que... Ele não vai falar mais? Vai ficar desse jeito? — Minha mãe se desesperou — Como assim é por conta dele? Você tem que fazer alguma coisa! Você é o especialista aqui!

— Senhora, se acalme! — O médico falou segurando os braços da minha mãe tentando amenizar o mal-entendido — Ele vai falar, só que ele tem que fazer isso sozinho, vai precisar da sua ajuda também. Essa situação é bem delicada. O problema do Richard, ainda era desconhecido para todos nós, estamos fazendo pesquisando e se comunicando com outros especialistas, afim de ajuda-lo logo.

— Não consigo vê-lo assim e não fazer nada... — Confessou minha mãe se sentando, cabisbaixa como se tivesse perdido as esperanças — Como ele vai pode fazer isso tudo sozinho, antes já não conseguia e agora?

— Ele precisa ouvir algo, que o faça lembrar de como era antes, uma palavra, uma voz, ver alguém. Precisa estimular o cérebro dele, com alguma lembrança forte, assim ele conseguirá falar novamente. — O doutor sugeriu me encarando — O que exatamente ele fez ou estava fazendo, para ter se emocionado tão fortemente, a ponto de ficar assim?

— Eu não sei... Estávamos conversando com a vizinha na varanda... Levamos ela para casa e depois fomos dormir. Fui ao quarto dele como sempre e ele estava dormindo bem — Minha mãe recordou nervosa tentando detalhar cada acontecimento — Pela manhã acordei cedo e fui fazer o café. Já era quase meio dia e ele não tinha descido ainda... Então fui no quarto chama-lo. Mas quando o chamei...

— Ele não acordou. Entendo... Então é melhor evitar essas coisas por enquanto e deixa-lo apenas descansar — O médico concluiu ainda indeciso — Preciso ligar para outros especialistas, por hora, esteja do lado dele. Richard ficará aqui até sabermos o que poderá ser feito para ajudá-lo.

— Oh meu filho... Pobrezinho... — Minha mãe lamentou segurando minha mão — O que será de você meu pequeno Richard?

— Sabe, senhora, para alguém como Richard, ele não deveria estar se preocupando tanto. Pelo prontuário dele, o garoto já havia passado por uma situação de grande estresse. Provavelmente ele deve estar se cobrando muito também, por causa da nova amiga... — O doutor afirmou chateado — Acredito eu, que Richard se sentiu culpado por algo em relação a essa vizinha, alguma conversa, ação, algo que eles tenham feito. Ainda não tenho total certeza, mas ele deve estar passando por algum estresse pós-traumático.

— Talvez seja melhor, eles não se verem mais? — Minha mãe sugeriu preocupada — O que devo fazer doutor?

— Não se preocupe. Por enquanto ele ficará bem aqui. Depois tomamos as medidas, conforme ele for melhorando ou piorando — O doutor declarou saindo e parando na porta para anotar mais algo na prancheta — É melhor ir pegar mais algumas roupas, talvez ele passe mais que uma semana aqui.

— Certo, farei isso — Minha mãe concordou e voltou a me observar — Talvez você não possa entender a mamãe meu amor, porém, não se preocupe. Cuidarei bem de ti e não sairei do seu lado. Durma um pouco mais, tá? Vou em casa e volto logo.

Mãe, espere! Eu estou com medo... Não me deixe aqui sozinho... Implorei, mas eu não conseguia falar. Tentei levantar o braço, o corpo, fazer qualquer sinal. Ainda assim, nada adiantou, cada lugar em mim estava pesado demais. Me sentia tão cansado, respirar doía demais. O que me restava, era fechar os olhos e aceitar que a única coisa que eu poderia fazer, era voltar a dormir.

Abri meus olhos e me encontrei em um lugar surreal, mesmo não acreditando, localizava-me no fundo do mar. Comecei a nadar por aquele lugar e só conseguia pensar em uma coisa... "Continue a nadar, continue a nadar, continue a nadar, nadar, nadar..." A música, a letra, a única coisa que eu não conseguia esquecer. Mesmo que eu perdesse e esquecesse tudo, essa pequena frase não sai da minha mente. Como se isso fosse a única coisa que importasse e me fizesse continuar vivendo. Isso por que continuar a nadar é continuar a lutar, viver, persistir e não desistir. Nadar é uma forma de ter força e continuar a nadar era seguir em frente. Eu não podia morrer, com certeza viveria, pois ganhei essa vida e merecia viver, ter sonhos e realiza-los antes que fosse meu fim.

A Dory foi feliz, eu posso ser também de algum jeito. Conclui nadando até a superfície. Por isso, novamente desejo, quero mais uma chance, quero sobreviver e passar logo por esse tormento. Anunciei para mim mesmo e ao chegar onde eu queria, abrir meus olhos fora do mar e já não me situava mais naquele lugar, estava no quarto novamente, com uma moça me observando.

— Bom Dia, Richard! — A enfermeira puxou o pano em um ferro, ao redor da minha cama e apareceu em minha frente, me oferecendo algo — Isso é água e nessa embalagem tem seu remédio, você precisa engoli-lo e beber a água em seguida.

— Deve ser chato não poder falar, não é? — Alguém murmurou por trás do pano branco do outro lado da cama — Você já consegue lembrar de mim? Ou é impossível mesmo? Se for, eu vou embora.

Havia mais alguém no quarto? Estava ali do meu lado esse tempo todo? Questionei tentando virar a cabeça, mas a força que eu expressava era só na mente, não conseguir mover nem 1 milímetro. Seria bom se você conseguisse ler minha mente...

— Talvez eu possa... — A pessoa afirmou me assustando e eu quase conseguir me mover — Te ajudar com alguma coisa?

Eu estava ficando louco... É isso. Admiti pensativo e enfim, a garota resolveu aparecer, saindo de trás da cortina branca.

— É, parece que você nunca vai conseguir lembrar de mim... — Mencionou ela e meu coração parou por 1 segundo — Olá novamente, Richard.

Um choque percorreu meu corpo inteiro, por alguns minutos, conseguir levantar meu braço e toquei a mão daquela pessoa na minha frente, ela não parecia real. Meu braço caiu, perdi o poder sob ele, mas aquilo era suficiente, ela estava ali, carne e osso. Eu não sabia o nome dela, mas a conhecia.

— De tantas memórias, você... — Enfim, minha voz, as palavras, eu consegui, eu falei — Por que demorou tanto?

— Heróis sempre demoram a aparecer, no entanto, alguns dizem que aparecem no momento certo — Ela respondeu dando de ombros e riu — Na verdade, eu tenho vindo aqui todos os dias, não é a primeira vez. Só que o médico achou melhor você me ver apenas hoje, 1 mês depois.

— Eu não entendo, como eu consigo falar novamente? Só por ver você? — Perguntei tentando mover os braços também e aos poucos eu ia conseguindo — E me mexer também... Que tipo de macumba é essa?

— Você só esqueceu bobinho, porém, já está melhor há 3 dias — Ela informou, me ajudando a sentar na cama e encostar minhas costas na cabeceira — O médico disse que você deve ter se sentido culpado pelo meu quase suicídio. Ou tenha se cobrado demais por prometer sermos amigos e não lembrou no dia seguinte.

— Então... — Falei encarando minhas mãos e depois movendo minha perna para cima e para baixo — Eu sempre terei esse novo problema ao acordar? Não irei mais falar e nem me mexer?

— Ninguém sabe ainda — A garota revelou desanimada — O médico passará aqui mais tarde, para conversar com você e sua mãe sobre isso. Por falar nela, preciso ir, suas visitas foram reduzidas para não lhe causar estresse, agora é a vez da sua mãe.

— Entendo... Então, até logo! — Me despedi e ela apenas sorriu saindo — Volte outro dia, para conversamos melhor.

Sammy não respondeu, apenas foi embora e me deixou sozinho. Naquele momento, eu não compreendia nada. Me sentia completamente bem, conseguia lembrar da minha mãe, dos nomes dos objetos e sabia quem era aquela garota, era minha vizinha. Eu estava muito feliz, parecia até a continuação dos meus sonhos! Será que um milagre havia acontecido? Enfim, eu estava curado? Mal podia esperar para ouvir o que o médico tinha a dizer.

Até o cair das folhas - Em RevisãoWhere stories live. Discover now