Cap. Quarenta e Oito| parte 2

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Treze horas e doze minutos

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Treze horas e doze minutos.

Impossível...

Avanço mais um pouco, fitando o pequeno despertador em cima da mesa de cabeceira, que continuava a digitar 13h12 da tarde. Eu acabei de dormir sete horas, agarrada a camisa dele e sentada desengonçadamente na poltrona sem ter um único pesadelo! Mesmo que no meio do sono tenha acabado por sonhar com um indivíduo que não tem mérito para entrar na minha cabeça, mas que mesmo assim entra sem pedir licença.

Verdade seja dita, ele nunca me pediu licença para entrar seja onde eu tivesse. Nem mesmo nos meus sentimentos; Solto um minúsculo riso sem humor pelas narinas, deixando-me cair na cama de costas. Encaro o teto branco por uns instantes, antes de erguer a camisa nas minhas mãos. A olho. Não sinto aquela necessidade forte de rasgá-la, mas sinto tudo o oposto que não devia sentir para uma pessoa que quer esquecê-lo. Pô-lo de parte, mas não é fácil. Ainda sinto no meio das pernas a pequena dor que ainda insiste chamar-me atenção para me lembrar-me que fomos um só e que hoje, somos dois, cada um por si.

De repente, ouço o puxador da porta a ser mexido. Sento-mo na cama engolindo em seco. Ergo da mesma, quando o puxador pára de ser mexido e passa para batidas contidas, mas fortes na porta. Pressiono os lábios, aperto com força a camisa. O sangue bombei nas minhas veias com força, levando ao coração obrigando-o a trabalhar rápido.

Não é um sinal de medo que estou a sentir. É um sinal de irritação, de raiva, frustração por saber de quem se trata do outro lado da porta. É inevitável não saber, as batidas por si já o dizem. Essa pessoa tenta manter um ritmo coordenado e calmo, acabando por se tornar bastante persistente nesse aspeto.

Avanço até a porta, continuando a ouvir as batidas que de repente param com uma palmada forte na porta, mostrando o quanto frustrado se sente. Aperto os punhos, sem deixar de encarar a porta.

De repente, ouço a sua voz grossa, rouca e num tom muito brando contra a porta.

— Menina Eva, está aí?! — Não há preocupação na voz, sim frustração.

Aperto mais os punhos, até os dedos ficarem brancos e a camisa amarrotada. Estou a ponto de ergue o braço e mandar a camisa contra a porta quando ouço os seus passos afastarem-se da porta. Mas sou completamente enganada com a sua estratégia.

— Está a ser criança.

Trinco os dentes com força.

Ele está a puxar por mim, mas não vai conseguir. Não me vou exaltar à frente de uma porta que nos separa. Ele que dê a cara e repita isso quando eu tiver na sua frente. Que lhe direi umas quantas coisas que me estão a acumular na garganta.

Eu bem sabia que quando o sentimento voltasse iria ser muito mau.

— Estás a ignorar?

Afasto da porta em passos largos. Mando a camisa para o fundo do armário, acabando por tirar do mesmo um pijama preto, de verão e uma peça de roupa íntima. Entro na casa de banho, pouso o pijama em cima da tampa da sanita e os óculos na bancada do lavatório. Começo a desfazer da roupa que tenho no corpo, a pondo no cesto da roupa suja.

Tomo um banho demorado, tão demorado que não me lembro da primeira vez que o fiz. Inspiro profundamente de baixo da água quente que vai caindo lentamente em cima do meu corpo estático. Perco a noção dos minutos que fico no mesmo sítio a olhar para a porta de vidro do box e a relembrar da noite anterior em que tivemos os dois, nus, dentro dela depois de termo terminado a segunda ronda de sexo.Lembro tão bem nossas palavras.

" Algum dia, iras-te arrepender por teres sido o meu primeiro?"

"Essa pergunta, a fiz eu primeiro e não obtive resposta."

"Então respondemos os dois ao mesmo tempo."

" Eva..."

"1, 2, 3..."

" Nunca. — Respondemos ao mesmo tempo..."

Mentiroso! Nunca chegou a ser sincero comigo. Seguramente arrependeu-se quando acordou de manhã e me viu na sua cama. Deve se ter lamentado do que fez e do porquê que fez com uma estupida rapariga que não tem um futuro e é paranoica.

Ranjo os dentes, o meu corpo todo treme de raiva. Não consigo controlar, começo a bater com força os punhos cerrados na parede bafando dentro de mim o grito. O meu corpo sacode violentamente, quando dou por isso estou a soluçar e os joelhos a caírem com força no chão do box.

Expulso o choro todo para fora, libertando a dor que voltou a acender no meu coração.

Passou minutos em que fiquei ali, no mesmo sítio, a desmoronar-me. Não faço ideia como consegui ergue-me do chão e sair do box, o meu corpo parecia um morto vivo.

Enxugo o meu corpo e o cabelo com a toalha. Visto as peças íntimas, o pijama, as meias pretas até ao joelho e ponho os óculos. Penteio o meu cabelo à frente do espelho da casa de banho, vendo uma Eva completamente diferente. Não consigo ficar a encarar os meus próprios olhos através do espelho, eles pareciam quere-me dizer algo para além de estarem um pouco avermelhados e inchados por conta das lágrimas que não deviam ter caído.

Volto para o quarto, chegando a pegar num lápis, numa borracha e no meu caderno de desenhos dentro da gaveta da secretaria os levando comigo para a cama. Sento-me nela, escondendo as minhas pernas dentro do lençol e da colcha. Pouso a borracha ao lado das minhas pernas tapadas, abro o caderno numa folha branca e não demoro muito para começar a rabiscar na folha.

É fácil expressar os sentimentos num simples papel branco, do que expressar fisicamente. Sinto mais à vontade pegar num lápis e numa folha para desenhar, do que abrir a boca para falar palavras vindas do coração.

Não tomo a noção do que desenho, deixo que o lápis dance na folha enquanto lê os meus sentimentos. Passado uns longos minutos, ouço, de novo, batidas na porta, mas desta vez parecem ser diferentes. Não saio de onde estou, continuo a movimentar o lápis fingindo que não há ninguém do outro lado da porta.

— Eva? — Ouço a voz da minha irmã do outro lado da porta, o que me faz soltar um gemido baixo. Eu adoro a minha irmã, mas não estou com disposição de falar e nem ver ninguém, mesmo assim tento levantar-me com custo da cama deixando o meu caderno aberto e vou até a porta.

Destranco a porta e a abro lentamente. Deixo-a aberta e volto a meter-me dentro da cama, pegando no meu caderno de desenho e no meu lápis de carvão, continuando o que estava a fazer antes de ela ter batido na porta. Serena entra no quarto, mas me parece que não vem sozinha.

Estaco o lápis sobre o tracejado. Não ergo os olhos do meu desenho. O meu coração bate descompassadamente, incentivando a dor a voltar. A forma com que a dor se concentra no meu coração parece igual a uma laranja quando é espremida para criar o sumo.

Pressiono os lábios, a força com que seguro o lápis faz com que os meus dedos fiquem brancos.



PERIGOSAMENTE TENTADOR | NOVA VERSÃOWhere stories live. Discover now