Noventa e Oito

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Luria Narrando.

Terminei de arrumar os bolos na vitrine da loja, conferi se estava tudo certo, ajeitei a touca na cabeça e abri o portão para receber os clientes.

Minha rotina era assim, eu gostava de trabalhar atendendo as pessoas, tudo bem que as vezes a gente se frustava, tinha pessoas mal educadas, mal agradecidas, que apesar de você tratá-las bem, elas eram ignorantes com você.

Mas isso fazia parte da vida, quem trabalha com atendimento ao público. O importante é não deixar isso afetar a gente por mais difícil que seja.

- Bom dia - Falei quando percebi a presença de alguém, tirei o olhar do computador e Aline estava ali na minha frente sorrindo. - Ué mulher.

- Oi - Falou meia sem jeito - Eu sai ontem da reabilitação junto do Kauê.

- Que coisa boa, fico feliz por você e por ele. Quer alguma coisa? - Perguntei e ela assentiu.

- Quero te agradecer, por ter me ajudado mesmo sem eu merecer, e novamente te pedir desculpas por todo o mal que eu te fiz.

- Relaxa mulher, já passou o importante é que você está bem. - Falei e ela sorriu assentindo.

- Mas também quero uma torta de suflair porque estou salivando, sabe como é né, desejo - Movimentou a mão por cima de sua barriga e foi aí que eu me atentei que ela tinha um volume, ela estava grávida.

Uma coisa que eu jamais estaria. E jamais saberia.

Apesar de que eu mesmo sem estar grávida, desejo comer um monte de coisas, na maioria das vezes só de pensar.

- Parabéns pelo bebê que ele seja saudável e que você tenha uma gestação tranquila - Desejei sincera.

Não é porque eu não posso que vou achar ruim quando ocorrer com as outras pessoas. Mas de fato ainda me dói, porque era uma coisa que eu queria muito e ainda é recente a notícia.

- Obrigada - Falou e eu assenti - E você, quando vai ter o seu? - Perguntou e eu a encarei.

- Eu não posso ter, sou estéril - Falei e ela fechou o sorriso, peguei a torta e entreguei a ela.

- Me desculpa - Falou tirando a mão de sua barriga totalmente sem jeito.

- Não se desculpe. Acontece não é? - Ela assentiu e me deu o dinheiro e eu devolvi seu troco.

Conversamos mais um pouco, ela me contou o que ocorreu nesse período dela lá dentro da recuperação e depois se foi levando mais duas tortas dizendo que ia comer escondido do Kauê para não ter que dividir.

Respirei fundo e olhei para baixo fechando meus olhos.

Era difícil pra mim ainda, eu tinha planos, eu via vídeos de parto, eu via vídeos do crescimento do feto, imaginava quando sentir desejo em horários indevidos, planejava tudo com Kennedy e recebo a notícia que eu jamais vou ser mãe.

Eu queria sentir a sensação de gerar um filho meu e de Kennedy, dele crescer em meu ventre, sentir os chutes, passar pelo parto e receber meu filho em meus braços para amamentar, acompanhar cada marco de crescimento, tenho certeza que seria uma mãe bem coruja.

Enquanto algumas tem o poder de ter filho e maltratam dele eu estou aqui sem poder ter querendo ser a melhor mãe do mundo.

Nem tudo está perdido porque eu ainda posso adotar e exercer o papel de mãe mesmo não sendo a mesma coisa. É como dizem mãe é quem cria.

Vamos aguardar para ver os planos que Deus tem pra mim.

- Oi querida - Encarei a mulher na minha frente, a mesma do mercado. - Avisa para o Kennedy que eu tô precisando de dinheiro para as coisas do bebê dele. - Analisei ela e olhei bem séria para a cara dessa figura. Não é possível.

- É mesmo? - Perguntei e ela assentou sorrindo se achando. - Espera só um minutinho que eu vou pegar meu celular para ligar pra ele tá - Ela assentiu e eu entrei em casa feito um furacão encontrando ele na cozinha fazendo almoço pra gente. Grudei em seu saco com a unha e apertei com força fazendo ele abaixar gemendo.

- Aquela rapariga do mercado está lá fora dizendo que tá grávida de você, Kennedy eu mato você se você fez isso comigo. - Apertei com mais força.

- Solta - Falou grunhindo - Luria eu não te trai porra. Solta caralho - Soltei e encarei ele. - Cadê ela? - Perguntou e eu apontei lá para fora.  Ele saiu andando devagar mas foi, e eu estava atrás.

Assim que ele abriu a porta e ela encarou ele, seus olhos se arregalaram.

Cruzei meus braços e encarei os dois que só se encaravam no momento.

Confesso que estava temendo o desenrolar dessa história. Tudo é possível, até porque nunca podemos confiar 100% nas pessoas.

- Pronto flor, agora vocês podem resolver o babado.

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É o que?

HeroínaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora