Oitenta e Um

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Luria Narrando.

Comecei a bater nas paredes da caçamba desesperada, eu olhava para os lados e para cima sem saída alguma.

Não tinha como não pensar no pior, eu podia morrer aqui, minha respiração já estava ofegante.

Uma coisa é você estar em um lugar fechado por segurança e saber que você pode sair quando acabar. Agora quando sabemos que não podemos sair, estamos preso, o bicho pega.

- Meu Deus - Respirei fundo colocando as mãos na testa - Eu preciso sair desse lugar.

Bati a mão no meu bolso procurando meu celular e eu havia deixado ele em casa, pra variar. Que inferno.

- Socorro - Comecei a gritar batendo nas paredes da caçamba - Alguém me tira daqui. - Choraminguei. - Tem alguém aí?

Me deitei no lixo e tentei empurrar a tampa com meus pés mas não estava dando, eu chutava e ela nem se movia, estava travada, alguém colocou algo pesado em cima dela. Só pode.

As lágrimas começaram a escorrer por meu rosto.

- Eu não posso morrer aqui dentro. - Solucei limpando meu rosto, me sentei e fiquei olhando para os lados tentando achar uma solução.

O odor não me incomodava nesse momento, eu só queria sair daqui o mais rápido possível, de verdade que coisa desesperadora ficar em um lugar assim trancada sem saída. Só queria uma alternativa.

Mas não tinha nenhuma. A única alternativa era bater e usar minha voz na esperança de que alguém me ouvisse antes que o ar me falte.

Então eu gritei o quanto pude, bati nas paredes, me descabelei, até o momento em que minha garganta doeu junto de minhas mãos e eu me vi caindo deitada no lixo com as vistas já turvas até o momento em que eu não vi mais nada e apaguei.

Kennedy Narrando.

Polícia subiu na surdina, quando vimos já tavam na metade do morro mané, puta que pariu, fogueteiro deram falha pra caralho e pode pá que vão ser cobrados.

O crime não admite falhas não parceiro.

Mas não teve vez pra nenhum bota preta, colocamos terror e eles logo colocaram o rabo no cú e vazaram, tá maluco.

Tava intacto e fui ver se a nega estava sussa, já tava até imaginando a bronca, cheguei lá e tinha um carro em frente dos mano do mercado.

- Eai, belê? - Cumprimentei eles com um aperto de mão - Colfoi? Ela tá ai não é?

- Já batemo pra caralho e nada dela sair, ela disse que já subindo quando saiu do mercado e nada pô.

- Calma aê - Falei passando pelo portão e entrando na casa dela. Procurei ela e não achei. Pedi para eles entrarem com as compras, peguei meu celular ligando pra ela e o celular dela tocou em cima da bancada.

Respirei fundo negando com a cabeça. Onde essa descarada foi se enfiar mano, será que tava na rua na hora do tiroteio.

Passei um rádio pros manos pra ver se alguém avistava ela e fiquei no aguardo. Os manos terminaram as compras, guardei os bagulhos que podia estragar e saí da goma dela pra ver se trombava com ela na rua.

Fiz o caminho do mercado até a casa dela procurando e nada, parei um pouco pra pensar
, passei a mão na cabeça já preocupado pra caralho pô, tá maluco, esses bagulhos de bala perdida aí não é brincadeira não cara.

Me lembrei que quando ela era usuária caia pra dentro das caçamba de lixo pra se proteger e decidi procurar né.

Na hora que me desencostei da parede meu rádio apitou.

- Aê mano Kennedy, consta aqui dois becos abaixo da casa da garota aí - Falou e eu fui foi ligeiro.

Quando cheguei lá tinha um menor com Luria no colo desmaiada, me aproximei e peguei ela nos braços encarando ela sério.

O cheiro não tava agradável não tá ligado, mas não é hora pra focar nessas paradas, tem que ver como tá a situação dela. Pedi um carro no rádio.

- Colfoi da fita? - Perguntei encarando o menor.

- Coroa aí foi jogar o lixo e tinha altos bagulhos em cima da caçamba, ela tirou e quando foi abrir ela tava aí dentro já desmaiada pô. - Respirei fundo e desviei meu olhar pra Luria desacordada.

- Que bagulho foi acontecer contigo Pedrita? - Perguntei baixo encarando ela.

- Aê mano, esses bagulhos aí pode caçar, que alguém agiu na maldade com a mina, se tem a caçamba pra que vai colocar coisa em cima? - Deu o papo antes de eu entrar no carro e eu assenti com a cabeça.

- Tô ligado pô, fé aí. - Mandei um beleza e entrei no banco de trás com a Pedrita no colo.

HeroínaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora