▪ C ▪ A ▪ P ▪ Í ▪ T ▪ U ▪ L ▪ O ▪ || QUARENTA E QUATRO

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🔸— SAMUEL DEL REY —🔸

↪ LUTANDO CONTRA UM PASSADO ↩

— Sam... quem fez isso com você? Por quê? — Nicolas questionou, em um tom baixo. Suspiro, me sentando na cama, de frente para ele, porém, de cabeça abaixada.

— Lembra quando você foi embora? Quando teve que voltar para o Brasil? — Ele assentiu, atento. Respiro fundo, buscando as palavras certas para explicar. Não acredito que estou contando essa vergonha, mas não tem jeito. Não posso fugir do inevitável para sempre. — Quando entrei no ensino médio, eu conheci um garoto... Desde que você tinha ido embora, eu não sabia o que fazer. Eu queria muitos amigos para tentar aliviar a dor. Mas ainda continuamos conversando e mantendo contato, até que eu comecei a namorar com esse garoto. Foi o meu primeiro relacionamento sério e com um garoto...

— Sam. — Nicolas me interrompeu, segurando minha mão. — Não precisa falar se isso for te fazer mal. — Sorri, assentindo.

— Não... Eu preciso. — Ele assentiu, me enviando um sorriso de conforto, não soltando minha mão em nenhum momento. — Quando comecei a namorar com ele, tudo era perfeito. Eu... nem sabia o que era amor de verdade. Era muito novo para entender. E nesse meio tempo, eu tinha colecionado muitos amigos. Parecia uma gangue na escola. — Rimos com isso, mas aos poucos meu sorriso foi morrendo. — Eu tinha amizades normais, sem selinho, sem essa intimidade toda. Mas com o tempo, esse garoto foi começando a se irritar com isso, com minhas amizades, com quem eu falava... E quando chegou ao ponto de pegar meu celular e olhar com quem eu falava, ele viu você, leu as nossas conversas e... — Respiro fundo, tentando continuar, sentindo Nicolas apertar minha mão mais forte. — foi aí que tudo começou. Ele gritava todo dia comigo, me batia sem motivos e... me forçava a deitar com ele. Eu ainda era jovem, então arrumar desculpa para os hematomas era fácil. Caí de bicicleta, fazendo algum esporte, ou... enfim. Até que ele mandou eu parar de falar com você, e... com todos os meus amigos que eram homens. Eu falei que não iria parar de falar com você, que você era importante para mim. Então ele surtou. Começou a me bater como nunca antes, até... pegar uma faca na cozinha e vir atrás de mim. Eu tentei fugir. Brigamos, e ele me atingiu com a faca no ombro, a arrastando até a nuca. Eu não parava de sangrar. Só sei que se eu continuasse ali, ele me mataria. Então eu fugi para casa, dizendo que havia sido assaltado, mas não tinha dinheiro, então os bandidos me bateram. — Falo, rindo fraco com essa desculpa esfarrada.

— Por que não o denunciou, Sam? — Nicolas questionou, e pude ver uma lágrima solitária escorrendo pelo seu olho esquerdo.

— Eu não sei, Nicolas. Naquela hora eu só queria ficar o mais longe possível dele, fugir, abraçar meus pais e... tentar colocar minha cabeça em ordem. Eu não queria que ninguém soubesse disso. Que ninguém soubesse da humilhação que passei.

— E depois?

— Bom... eu fiquei abalado por dias, meses em depressão. Meus pais me levaram em um psicólogo da cidade. No começo foi difícil, mas com o tempo, ele me ajudou, me compreendeu e... eu pude sair de casa sem... querer me jogar na frente do primeiro carro que passasse. Meus pais foram... o alicerce para tudo isso. Mesmo eles não sabendo, eles me ajudaram de tal forma que... eu serei incapaz de conseguir explicar todo o apoio que recebi. Mas... depois de tudo isso, tentei reestabelecer minhas antigas amizades, mas fracassei. Todos achavam que eu era um falso interesseiro que não se importava com eles. Então comecei minhas viagens para fora do país. Eu não podia continuar lá ou iria enlouquecer. Comecei a conhecer meus verdadeiros amigos, que hoje são tudo para mim. E depois de tudo que eu passei, eu prometi a mim mesmo que nada nem ninguém iria acabar com minhas amizades novamente. Eu... comecei esses selinhos como... como se um pacto de fidelidade. Que eu seria fiel a eles sempre. Que nenhum relacionamento ia acabar com isso novamente. Eu me reinventei, Nicolas. Com o tempo... isso passou a ser normal. — Nicolas suspirou, abaixando a cabeça.

— Eu sinto muito... Mas se você tivesse me dito isso, eu ia até lá matar esse desgraçado! — Eu sorri, suspirando.

— Não vale à pena.

— E o que você está me pedindo, Sam? Que eu aceite isso? — O encaro, agora não sabendo o que dizer.

— Não vou pedir que entenda. Sei que é difícil, mas...

— Samuel... eu sinto muito por tudo que você passou, e nem posso imaginar as dores que você precisou suportar para passar por tudo isso. — Ele respirou fundo, fitando minhas mãos. — Mas eu já abri mão de muita coisa por você. Eu não vou dizer que está tudo bem, porque eu estaria mentindo. Eu tenho certeza que morreria de ciúmes e iríamos viver brigando. Então... se quer continuar com isso, tudo bem, eu entendo. É uma dor sua que está tentando se redimir. Mas não posso fazer parte disso. Eu sinto muito. Eu amo você, mas preciso ser sincero. — Sorri, não conseguindo me conter e o beijando deliciosamente.

Como eu sentia falta dessa boca...!

— Está tudo bem. — Falo, vendo ele me olhar confuso. — Eu vou conversar com meus amigos. Mas não pense em me pedir para parar de falar com eles, porque isso não vai acontecer. Eu os amo mais que tudo. — Aviso e Nicolas sorri.

— Vai mesmo abrir mão disso? — Assenti, sorrindo, me sentando em seu colo, de frente para ele.

— Temos que ceder dos dois lados, não é, meu futuro advogado? — Nicolas riu, me puxando para um beijo.

— Você pode ter os amigos que quiser, baixinho. Desde que não os beije na boca. — Nicolas brincou, e eu gargalhei, assentindo.

— Ok, então. Mas na bochecha pode! — Afirmo e ele me olha, pensativo.

— Se tiver certeza que a pessoa não vai virar o rosto, então pode sim. — Ri, segurando seu rosto e o beijando gostosamente. Porra, que boca deliciosa.

Estávamos em um envolvimento gostoso, já sem roupas para facilitar os nossos toques, mas logo me lembrei de algo. Parei de beijar Nicolas, ainda deitado sobre seu corpo.

— Nic... me deixa ser o ativo hoje?

O quê?!

O DONO DO MORRO - A Segunda Geração | Vol. III (Romance gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora