▪ C ▪ A ▪ P ▪ Í ▪ T ▪ U ▪ L ▪ O ▪ || QUARENTA E TRÊS

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🔸— SAMUEL DEL REY —🔸

↪ POR AMOR ↩

Volto a deitar na cama, me cobrindo com o edredom, sendo que levantei apenas para ir ao banheiro. Não estava com vontade fazer absolutamente nada, e eu odiava me sentir assim. Odiava o fato de ter magoado meus amigos. Odiava mais ainda lembrar do meu antigo e primeiro relacionamento, na qual foi tão vergonhoso e humilhante, que eu decidi que ninguém mais iria me controlar em um relacionamento, que eu não iria mais abrir mão de nada, nem das minhas amizades, na qual já machuquei muitas pessoas por conta disso. E parece que tudo está voltando à tona.

Deixo as lágrimas caírem em silêncio, em um choro contido, confuso. Eu não sabia o que fazer. Estava louco por Nicolas, mas não queria me sentir assim: dominado, ou... ser obrigado a fazer algo. Pode parecer bobagem, mas na minha cabeça, obedecer ao primeiro pedido, é já aceitar o segundo, e assim sucessivamente.

Agarro o travesseiro de corpo, o mordendo, contendo meus gritos e meu choro. Meus pais e minhas irmãs não estavam, haviam ido à tal festa no morro, na qual era organizada pelos meus tios Murphy e Raffa, em comemoração à volta dos meus pais.

Porém, eu não quis ir. Eu não iria curtir de qualquer forma. Não estava no clima, então inventei uma desculpa qualquer para ficar.

Sei bem que meu pai Cássio percebeu meu estado. Na verdade, todos notaram, mas também respeitaram minha vontade de não querer falar dessa vez e aceitaram minhas desculpas sem conexo. Eu só queria ficar sozinho. Talvez um pouco de silêncio, sem opiniões de terceiros, sem pressão psicológica, as ideias pudessem ir se alinhando em minha mente. Mas tudo que consigo pensar agora é somente em chorar, deitar em minha cama para nunca mais sair.

Vejo a tela do meu celular ligar sob o criado-mudo, ao lado da minha cama.

Era Benny me ligando.

Me senti pior do que já estava, lembrando de não aceitar seu selinho e ver sua expressão de tristeza e confusão. Éramos acostumados, e recusar isso, era como se houvesse algum problema em nossa amizade, e não havia nada. Pensar isso só me deixava pior.

Ignoro a ligação, não tendo coragem para falar com ele. Eu não saberia o que dizer.

Sempre clamei aos quatro ventos que amava a liberdade, que era independente e que meus relacionamentos eram incríveis. Agora era. Mas... apenas um me marcou para o resto da vida, e era tão vergonhoso que eu simplesmente tentei ocultar da minha mente, ou ao menos das minhas histórias contadas as pessoas. Elas não precisavam saber disso, nem mesmo meus pais. Sei que é bom conversar sobre isso, mas a verdade é que nunca me senti pronto para encarar o meu passado.

Ouço batidas na porta do meu quarto, o que me fez estranhar, já que ainda eram onze da noite e meus pais haviam acabado de sair.

— Eu não quero sair, pai! — Exclamo, alto o suficiente para que ele pudesse ouvir, mas a porta é aberta e me surpreendo ao ver Nicolas entrando, com um olhar preocupado. Me assustei, sentando na cama e rapidamente secando minhas lágrimas, mas meu rosto inchado ainda denunciava minha derrota.

— Seus pais me avisaram que não se sentia bem... — Nicolas comentou, se aproximando e sentando na beira da cama, me olhando.

— Nicolas... eu não quero brigar. Por favor, vai embora. — Peço, um tanto quanto cansado de tudo isso.

— Eu não vim brigar, Samuel. Vim ver como estava. Você... adora festas, e não ir ao morro me deixou realmente preocupado. Quis saber como você estava. Só isso. — Suspiro, voltando a deitar na cama, virando às costas para ele.

— Estou bem. Cada um pode ter um dia ruim e simplesmente não querer sair de casa, não? — Rebato, impaciente.

— Sam, eu... quero realmente ficar com você. Mas... não podemos fugir dessa conversa. Precisamos resolver o que somos, e... como será isso. Eu não aguento mais passar noites sem dormir por conta disso. — Nicolas murmurou, com um tom de voz entristecido.

— Eu não consigo, Nicolas... — Sussurro, não conseguindo aumentar meu tom por conta do choro.

— Não consegue o quê, Samuel? — Me sento, o olhando.

— Eu... — Suspiro, buscando as palavras certas, mas naquele momento, tudo parecia estar errado. — Eu... — Meu peito doía, então rapidamente o abracei, me deixando chorar de uma vez, chorando sem parar, molhando seu ombro. Nicolas me abraçou, parecendo perdido, confuso.

— Sam... Fala para mim... por que está chorando? — Me afasto do seu abraço, tentando secar minhas lágrimas, que já estava deixando minha visão completamente turva.

Respiro fundo, passando a mão em meus cabelos e me levantando, retirando a camisa e ficando de costas para ele.

— Lembra dessa cicatriz? — Questiono, mostrando as cicatrizes que haviam em minhas costas, mas havia uma mais marcante, uma que corria do meu ombro, para minha nuca.

— Você me falou uma vez que havia caído da escada... — Nicolas murmurou. Eu sorri, assentindo.

— É sempre a mesma desculpa da escada, não é? — Murmuro, me virando de frente para ele, não conseguindo conter minhas lágrimas. Nicolas me encarou em alerta, talvez não querendo perceber o óbvio.

— Sam...

— Me fizeram isso, Nicolas. Me fizeram isso quando recusei me separar do único amigo que eu tinha. Quando me recusei a parar de falar com você.

O DONO DO MORRO - A Segunda Geração | Vol. III (Romance gay) Where stories live. Discover now