Um

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Luria Narrando

Já era noite e estava frio, naquele beco só se viam pessoas dependentes das drogas e eu não era diferente de nenhuma delas, meu corpo ardia do tanto que eu me coçava até ferir, por causa da abstinência, a vontade de fumar uma pedra de crack cada vez mais me consumia, eu balanço meu corpo para frente e para trás inquieta, tentando pensar em algo para conseguir dinheiro para meu vício, não queria ter que vender meu corpo novamente, se é que posso chamar isso que eu tenho de corpo, mas eu tenho que agir rápido, as vozes já começavam a cochichar em minha mente.

Me lembro perfeitamente como me tornei uma dependente química, morávamos apenas eu e meu pai, minha mãe me largou assim que eu nasci, em um dia meu pai chegou bêbado e tentou abusar de mim, nesse mesmo dia eu decidi que ia sair de casa, tinha uma “amiga” chamada Aline, ela me chamou para morar com ela, foi através dela que eu fui pela primeira vez ao baile, apesar de ser moradora da favela, não gostava de sair de casa.

Comecei fumando maconha, aquela brisa era boa, meus problemas sumiam e eu sorria atoa, depois de um tempo a maconha, pelo devido excesso do consumo, não fazia mais efeito nenhum em mim. Experimentei o lança, mas o efeito dele passava rápido se o uso não fosse constante, não gostei.

Depois experimentei a cocaína, no começo eu fiquei enérgica, feliz, depois eu pensei que todo mundo ao meu redor queria me matar e no final bateu aquela depressão e eu não conseguia dormir.

Cheirei outra vez e a depressão passou, depois cheirei outra, não conseguia mais me controlar sóbria, de maneira alguma, depois me apresentaram o crack que é quase a mesma coisa da cocaína só que o efeito surge mais rápido por ele ser fumado, Aline sempre me dava dinheiro para comprar as drogas, todo dia eu fumava uma pedra de crack, até que fumar só uma passou a não me satisfazer mais, eu fumava uma atrás da outra.

Agora estou aqui, morando no meio da rua, com as roupas todas rasgadas, meu corpo que era cheio de curvas agora está esquelético, meus cabelos negros e cacheados, não sei quantos dias que não lavo, eu tinha uma vaidade única, não saía de casa sem estar arrumada e agora estou aqui jogada no meio de um beco sujo, cheio de pessoas iguais a mim, dependentes.

As pessoas que passam pela rua, me olham com reprovação, como se eu fosse o pior animal do mundo.

Aline? Aquela ali só serviu para me jogar nesse buraco, quando fiquei viciada ela me expulsou de sua casa aquela ali é amiga do capeta.

Mas a culpa não é totalmente dela, reconheço minha grande parcela de culpa, eu carrego a maior dela, porque eu aceitei as drogas oferecidas, porque eu fui mente fraca e não soube dizer não ou parar.
 
Nossa mente é nosso guia, eu tinha totalmente responsabilidade pelos meus atos e caí nessa furada.

Eu já tentei parar de usar, mas não tem como, eu não tenho apoio de ninguém, eu não tenho sequer nem onde morar e cada vez que penso nisso, eu procuro me drogar, para só assim esquecer desses fatos.

Vejo que os vultos começarem a me rodear, fecho meus olhos, mas as vozes começam a falar mais alto em minha mente.

Você vai morrer e não vai fazer falta pra ninguém.

Balanço minha cabeça em uma tentativa falha de afastar as vozes.

Olha como você está feia. Acabada

Começo a balançar meu corpo com mais frequência, a agonia começa a tomar conta do meu corpo, não vou aguentar por muito tempo.

As pessoas sentem nojo de você

Para – Grito me levantando do chão com as mãos na cabeça - Me deixem em paz - As vozes começas a sorrir de mim, começo a olhar para todos os lados, vejo algumas pessoas apontando para mim e sorrindo, outras me olhando assustadas, vejo vultos pretos me rodeando, tento correr, mas eu não havia forças para isso, começo a andar devagar, mas as vozes não param, olho para trás e os vultos veem atrás de mim. 

Sinto um corpo se chocar com o meu e acabo caindo no chão, ergo minha cabeça para cima e vejo quem eu menos queria ver em minha frente, o motivo pelo qual eu saí de casa, José, meu pai, ele aparentava estar bêbado.

- Olha no que você se tornou – Pega em meu braço o puxando me fazendo ficar de pé – Uma drogada, uma viciada – Cuspiu as palavras em meu rosto. – Você quer dinheiro para suas drogas quer? Então vem cá – Me puxou pelo braço para o beco mais próximo que havia ali, tentei me soltar, mas não havia força para lutar ou afastar de seu aperto forte. – Se você fizer o serviço direitinho eu te dou o dinheiro – Levou suas mãos até a barra de sua calça abrindo o botão.

- Não, e- eu não quero – Me afasto para trás e olho para os lados na tentativa de alguém aparecer.

- Quer, você quer sim – Pegou em meus cabelos e me jogou no chão, grunhi de dor ao sentir um ardor em minhas pernas. - Socorro – Gritei e recebi um murro em minhas costas.

- Cala a boca vadia.

Eu podia vender meu corpo para outros homens em troca de droga, mas para o meu pai não, o único ser familiar que tinha me restado, não sei porque, por qual motivo ele tentou me estuprar na época em que saí de casa, agora ele conseguirá.

Senti seu corpo pesar em cima do meu e ele abaixar meu short, fechei minhas pálpebras e tentei pensar em outras coisas. Foi quando ouvi o barulho de um disparo, me fazendo encolher mais no chão.

Os atos de José cessaram e eu senti seu peso todo por cima do meu, abri meus olhos e o encarei, ele foi alvejado na cabeça, haviam matado ele, eu estava em choque, senti seu corpo ser tirado de cima de mim, vesti meu short e ergui minha cabeça para ver quem era.

- Velho desgraçado, tentando abusar da própria filha no bagulho, tá ligado dos proceder do favelão e ainda falha nessa porra, vacilão do caralho - Era RD (Ruan Dias) o dono da favela, ao seu lado havia uma tropa de soldados, havia um, o qual eu não conhecia, seu olhar foi de encontro com o meu, ele me olhava com pena, esse olhar ja não me surpreendia.

Me sentei no chão e olhei para RD

– E você dona – Apontou para mim – Vê se tenta sair dessa vida porra, para de vacilação desgraça – Virou as costas e saiu, o soldado que me encarou ficou ainda me olhando por uns tempos, mas logo o acompanhou.

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Boa noite mores. Meus dias de postagem serão quarta e sábado por enquanto.

E ai o que acharam do primeiro capítulo?

Um cheiro e até sabado.

HeroínaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora