Capítulo 29

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(Manu)

Fui de lá direto para a casa da Tia Lu. Levei quase uma hora e meia, contando metrô e Uber, mas cheguei tão nervosa e esbaforida, que parecia que eu tinha terminado de comer o bolo de milho (a isca) há cinco minutos.

Não cheguei chorando (e isso era uma vitória para mim - quem me conhece sabe), mas bastou o Gabi abrir a porta, um sorriso feliz em me ver, durex preso na camiseta e uma caneta apoiada na orelha, para que eu desmanchasse.

Rafael embalava uma pilha de vestidos no ateliê da mãe dele enquanto a Tia estava no seu curso de moda. Ele sempre adianta as coisas para ela e, geralmente, fica até de madrugada encaixotando tudo para que ela dormisse bem e recomeçasse os trabalhos no dia seguinte com a cabeça fresca e a atenção redobrada.

— Amanhã é dia de correio - Ele sorriu amarelo para mim, se desculpando do porquê não foi lá embaixo me receber - E ainda faltam uns trinta pedidos para embalar.

— Isso é bom sinal. - Fiquei na pontinha do pé para dar um beijo no rosto dele, e senti sua mãozona nas minhas costas - Foi tudo bem na faculdade hoje?

— Não sei porque todo mundo faz drama com cálculo, mas não faz com hidráulica. - Ele reclamou.

— Por quê? Muito difícil?

— O quê? Aquilo lá é o pacto do capeta pra trazer o Armageddon!

— Vivi para te ver reclamar de matéria. - Eu ri, mas juro que foi só um pouquinho.

— Não é que é difícil. - Ele lacrou uma caixa, colou a etiqueta de destinatário, e depois a largou em cima de uma pilha de caixas fechadas - É que é muito detalhe!

— Mas você ama detalhe. - O Gabi rebateu e eu tive que concordar.

— Não amo, não.

— Ama detalhe nas pessoas. - Corrigi.

— Só em algumas. - Ele me sorriu de volta e voltou a mão para as minhas costas - Tudo bem no seu dia?

— Mais ou menos.

— O que foi, Baixinha? - O Gabi também chegou pertinho, estalando um beijo na minha bochecha e cruzando a mão na mão do Rafa, atrás das minhas costas - O que aconteceu?

Quebrando e chorando, mas foi só um pouquinho, apresentei meu drama de irmã do Lipe, que espera a namorada por anos, e que vê seu futuro ser igualzinho.

Engraçado: nenhum dos dois viu assim. Gabriel tinha uma cara feliz, mas foi o Rafa quem falou primeiro.

— Isso é ótimo!

— O quê?

— Manu, isso é uma loteria do cacete. Uma oportunidade de ouro, uma em um milhão. Você tem que ir.

— Mas eu não quero ir.

— Se você não quer, fala para a esposa do seu irmão que eu quero. - O Gabi respondeu. - Mano, é a Inglaterra!

— E daí?

— E daí que elas estão te dando quase de presente a oportunidade de viajar na faixa, terminar a faculdade lá e viajar a Europa inteira!

— E quem falou que eu quero isso?

— Manuela: - Rafael segurou no meu rosto com carinho - Você não é seu irmão, e nós também não.

— Eu sei de tudo isso! - Me afastei deles e fui para a cadeira mais próxima, um banquinho de bar que o Rafa sempre afasta da mesa de expedição (uma mesa alta com uma impressora laser pequena no canto, que serve para embalar os pedidos) para poder trabalhar em pé. - É só que...

Para Sempre TrêsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora