Capítulo 11

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Rafael ainda não entendia tudo sobre ser trio, sobre gostar de outro menino, e talvez nunca entendesse. Talvez só se contentaria com alguma solução paliativa que explicasse o que o deixa tão fora da casinha quando misturam-se os três e isso seja o suficiente para que ele.

O que ele sabia é que ele era de terra e isso bastava para ele. Gabriel não queria estudar, Manuela perdia a paciência, e ele colocava todo mundo nos trilhos. Ele sempre sabia o que era preciso. Nem sempre o que era melhor, ninguém no mundo tem esse poder, mas ele sabia o que era necessário e para quem. Quando viu Manuela de cabelo pintado entendeu que aquela era a forma dela de lidar com tudo. Quando viu que Gabriel fazia merda atrás de merda era só porque ele andava perdido demais, os parâmetros todos desregulados e entendeu, mais do que precisar de explicações para isso, ele entendeu.

E, em alguns momentos, o odiou por isso.

Em todos os outros, o encaixou no abraço e só esperou a euforia passar: Gabriel era assim. E pronto. Não dá para mudar uma pessoa enquanto ela não perceber que está errada.

Mas foi a classe se meter de besta com Gabriel que vai na onda e acredita em todo mundo, que a terra úmida de onde tudo brota e para onde tudo volta se consumiu quente e virou lava.

Eram um dos últimos dias do ano. Enquanto ninguém mexesse com eles, o trio não fazia nada além de cuidar de si, subir para o quinto andar no intervalo, roubar uns beijos no cinema, e recuperar o tempo de estudo perdido de Gabriel.

Um dos garotos mais velhos, de um ano na frente, ouviu a palavra viado numa festa. Enquanto eles só combatiam a classe, era uma briga possível, mas, quando avançou para as demais idades, segundos e terceiros anos do colégio, foi que eles entenderam que não vai bastar cair chutando e deixar a vida seguir seu rumo porque o mundo é maior que eles.

Primeiro começaram os gritos. Gabriel passava do outro lado da escola, alguém, que ele nunca nem viu mais que duas vezes vida, berrava: "VIADO!".

Gabriel não se importou. Ele já tinha feito amizade com essa palavra.

Depois começaram as piadinhas: Gabriel ia para a fila da cantina, alguém empurrava alguém e o empurravam. Decidiram voltar a trazer lanche de casa para não terem que enfrentar fila, nem cantina, e o sossego voltou para o estado normal.

Então descobriram que Gabriel não era viado sozinho, mas que tinha um colega de sala para acompanhar e, de quebra, uma menina. Logo, os berros de "BCDF" começaram. A piada nova era que Manuela tinha o cu e a boceta, ambos de ferro. Ela era magrinha demais para aguentar os dois moleques que ela andava junto, então só podia ter a genitália de ferro.

E ainda casava com o fato de que ela, CDF por ser esforçada demais, arrancava ódio de metade das meninas da classe. E o desprezo de todos os garotos.

Manuela insistiu que ninguém a defendesse. Deixem que chamem, que digam. A cabelo azul já tinha sua blindagem natural contra esse tipo de coisa, se pintou para se proteger, funcionava. E se chorava no banho pensando nos outros dois anos que ainda tinha pela frente, era só quando já era época de pintar de novo.

Para Sempre TrêsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora