— Tivesse feito que nem eu, – Tia Fê ria – tivesse casado com um cara mais ou menos, não ia ter tanto trabalho. Mas não, cê quis logo a cereja do bolo, né?

— Mais ou menos, Fê? – O Tio tem o mesmo sorriso que a Manu tem quando tá procurando. É de família, agora posso provar.

— É, Dio, assim, meio sem sal, sabe?

— Sem Sal.

— É, sabe... ? Meio meh...

— O nome dele é Gabriel – A Tia Gata falou para a outra Tia.

— Esse é o Gabriel que tá todo mundo falando?!

— Que tá todo mundo falando, não sei, mas eu sou um Gabriel.

— Moleque, alguém precisa te dizer que cê tá só a capa da gaita.

— Caralho, Ana, deixa o moleque em paz. – O Tio Rodrigo me defendeu.

— Se você me visse há uma semana, diria que agora eu estou ótimo. – O Gabriel que leva as coisas na esportiva ainda vive. Capengando, mas vive.

— Prazer, – ela estendeu o braço num aperto de mão e me deu um sorriso sincero – Ana. Esposa da mulher que você não sabe disfarçar quando olha o peito.

Gostei dela.

— Vai lá para a sala e traz a Lúcia pra cá, que velho bom é velho que gosta de cozinha – Rodrigo sorriu e eu ouvi ele falando para as duas tias que eu não conhecia – A partir de agora vocês duas se comportem, que Dona Lúcia é um amor de pessoa e não merece ficar no meio do chumbo.

— Meu querido, – saí da cozinha quando ouvi a pérola da Ana – não somos nós quem metemos chumbo, é o chumbo que nos encontra.

— É, Cinco – Por que a Gata chamou o Tio Digo de Cinco eu nunca vou saber – a gente só revida.

Fui obrigado a colocar meu presente embaixo da árvore de Natal montada no canto, perto da televisão. É a mesma árvore que eles montam todo ano, os mesmo enfeites, as mesmas luzinhas. Felipe conversava com Rafael, e Manuela falava com a Tia Lúcia, que usava um vestido novo que eu vi ela costurar. Soubesse que ela tinha costurado esse vestido especialmente para o Natal, eu também o tinha incluído no meu presente.

— Tia, – eu falei para a Lúcia – Tio Rodrigo tá chamando você lá na cozinha.

— A cozinha é aquela porta ali?

— Vem, te mostro. – Felipe foi junto para mostrar o caminho e para não ficar conosco na sala. Pelo menos, foi isso o que eu achei.

Manuela usava um vestido parecido com o vestido da formatura, as mesmas meias, a mesma bota. Rafael já tinha percebido, bem antes de mim, olhava já querendo comer e, se eu estivesse vinte por cento melhor, já olharia do mesmo jeito.

— Como que cê tá, Gabi? – Manu me beijou no rosto, com medo de sermos vistos pelos pais dela.

— Tô bem.

— Gabriel fez até a barba. – Rafael sorriu, com a mão nas costas da Manu e nas minhas.

— Barba... – Barba é uma coisa, o que eu tenho é outra coisa – esses pentelhos.

— E doeu?

— O quê? Para fazer a barba? Não.

— Bom sinal. Tá quase pronto pra outra.

Eu sei que ela falou de brincadeira, mas pronto para outra é uma coisa que eu nunca estarei.

— Vamos lá para cima? – Já falei, não falei? Quem compra a Manu...

Para Sempre TrêsWhere stories live. Discover now