23. Berço colorido

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Esperavam que chorasse, que caísse em prantos, abalada, mas alguém muito importante estava para chegar e não era assim que ela queria recebê-la.

Sentada na grama, Teris estava com as pernas cruzadas na altura da canela. Naquela propriedade, fora da construção era o único lugar onde ela não sentia uma forte repulsa subindo pela garganta. Nem sabia mais se valia a pena ter seguido um destino diferente de Estela; casar-se não parecia tão ruim e ela nem precisaria procurar por um noivo, pois seu pai providenciaria tudo... E considerar essa ideia lhe causava ainda mais repulsa. Que ultrajante! Não se contentaria com um futuro reservado àqueles que eram tão estúpidos que só se tornavam uteis por meio de um casamento. Ela nascera entre os grandes e, portanto, almejava grande, assim como o pai. Fraquejar seria decepcionante; uma vergonha. Se fosse fácil, então seria Estela ali, no lugar dela.

O ar fresco do grande jardim aliviava seus tormentos, entretanto era uma paz momentânea; logo precisaria voltar para a prisão hospitalar subterrânea. De onde estava sentada era possível observar um bosque mais à frente — talvez passeasse por ele da próxima vez.

Levantou-se quando o sol chegou à copa das árvores. Alguns funcionários atravessaram o jardim, encerrando o dia de trabalho. Um dia tão lindo e tranquilo e, vários metros abaixo de onde estava, seres humanos eram usados como cobaias; o pôr do sol estava mesmo maravilhoso hoje. Assim que escureceu, ela limpou a grama grudada na roupa e, após uma careta enojada, retornou à mansão.

Na cozinha, encontrou uma das empregadas preparando o jantar. Debruçou-se sobre o balcão de granito branco.

— Ah... senhorita Amesther. — A mulher percebeu a presença dela e girou a parte superior do corpo para conversar. — O jantar está quase pronto. — Afastou-se da pia, pegou uma toalha de mesa em uma das gavetas do armário e foi barrada por Teris ao passar por ela.

— Não precisa. — A jovem demonstrou tanto ânimo quanto se assistisse a uma incrível aula chata de sua matéria mais odiada. — Raymond vai comer lá embaixo de novo.

Surpresa, de início, pelo movimento brusco de Teris, a empregada esboçou um sorriso nervoso e desconcertado.

— Tudo bem... Eu... ouvi falar que ele está trabalhando em um projeto muito importante.

— É — concordou, desinteressada. — Ele vai salvar um monte de gente.

— Então... vou caprichar bastante hoje para motivá-lo. — A empregada guardou a toalha e voltou a focar no jantar.

Teris se debruçou de novo no balcão, buscou uma mecha de seu cabelo, preso em um longo rabo de cavalo, e ficou enrolando os fios entre os dedos enquanto aguardava a refeição ser preparada e encarava com altivez as costas da empregada.

Teris se debruçou de novo no balcão, buscou uma mecha de seu cabelo, preso em um longo rabo de cavalo, e ficou enrolando os fios entre os dedos enquanto aguardava a refeição ser preparada e encarava com altivez as costas da empregada

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Fizera questão de jantar na cozinha. Seu estômago aceitaria melhor a comida em um lugar menos contaminado.

A caminho do laboratório, ela levava o jantar de Raymond com uma expressão de tédio enquanto procurava olhar apenas para frente, ignorando a porta onde haveria um corredor com rostos curiosos que se virariam para observá-la através de seus quartos de vidro.

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