12. Olhar gelado

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O problema não era mentir; o problema era fazer isso daquela forma, iludindo com o olhar, demonstrando compaixão quando, na realidade, não havia nada.

Quando Dr. Crow chegou a casa, encontrou Mori, Sara e Daniel sentados no sofá e assistindo a um programa qualquer, que não lhe interessava, na tela da biblioteca. Seria ideal se pudesse se encontrar com sua cama sem a interferência de ninguém em seu caminho, porém era óbvio que os três deveriam estar esperando por ele; o que se confirmou quando Sara virou a cabeça para enxergar por cima do sofá e seus olhos se encontraram com os do doutor.

A garota se levantou e contornou o móvel, parecendo preocupada, enquanto era a vez de Mori e Daniel se virarem para ver Crow.

— Tá tudo bem? — ela perguntou.

Mori e Daniel imitaram a expressão preocupada de Sara. Só então o doutor percebeu que estava com a mão prensada no lado da cabeça, e provavelmente exibia uma careta de dor.

— Não me pergunte. Não quero responder mais nada. — Esboçou uma tentativa de riso. Não queria ser desagradável, no entanto foi complicado afastar a irritabilidade da voz.

Sara assentiu compreensiva.

— Sobrou um pouco de chá — ela ofereceu. — Posso levar no seu quarto, se quiser.

— Eu agradeceria. — Assim dizendo, o doutor pretendia encerrar a conversa.

— Ah, doutor Crow! — Daniel se levantou para chamar a atenção dele. — Preciso falar com o senhor. É... importante...

Dr. Crow não se esforçou para esconder o azedume desta vez, tamanho era o seu cansaço.

— Tão importante que não pode esperar até amanhã?

— Não... Tem razão. Acho melhor esperar até amanhã mesmo... — Ainda afobado pela ideia de analisar as imagens das câmeras, só agora Daniel pensou que não era uma boa hora para exigir mais do doutor; afinal ele acabara de retornar de um interrogatório.

O doutor retomou seu caminho, voltando a sonhar com o aconchego da cama enquanto subia as escadas, somente para se decepcionar de novo ao deparar-se com um novo obstáculo à sua frente, chamado Low.

O sobrinho estava sentado no último degrau no alto da escada, com os cotovelos apoiados nos joelhos e o queixo sobre os dedos entrecruzados. Dr. Crow parara no exato degrau que permitia aos seus olhos se alinharem no mesmo nível que os de Low. Encararam-se em um silêncio austero, na expectativa de descobrir qual deles cederia a primeira palavra. Sobrou para o tio, que estava exausto e tinha maior urgência em continuar seu caminho, acabar logo com essa situação.

— Me esperando? — o doutor indagou impaciente, já imaginando a resposta. Por qual outro motivo Low sentaria logo ali, se não para interceptá-lo?

Low sorriu apenas com um lado da boca, o semblante salientando uma intenção escondida.

— Então funcionou... — Inclinou a cabeça de leve, depois rolou as pupilas para o outro lado. — É claro que funcionou. Eu sei o que estou fazendo.

— Não parecia tão confiante antes — Dr. Crow comentou, subindo mais um degrau quando, para seu alívio, Low se levantou para deixá-lo passar.

— A probabilidade maior de falha estava em suas mãos, não nas minhas — Low respondeu em tom de superioridade. — Talvez eu devesse ter ido junto. Foi um desperdício não poder ver o teatrinho de camarote. Deve ter sido emocionante vê-los engolindo ingenuamente cada palavra. E quanto ao Raymond? Assistiu ao interrogatório? — Os olhos faiscaram e ele acrescentou de forma lenta e clara: — Ele perguntou o que tinha na solução?

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