18. Luz brilhante

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A luz era uma vingança pelos sustos no escuro.

Três dias pacíficos se passaram. Elliot não poderia estar mais feliz. Tinha sua família de volta, embora dois membros não estivessem presentes. Tê-los ali aumentou sua confiança.

Depois do acidente na convenção, entendeu de verdade o quanto os harmínions eram temidos. Porém, não eram somente os humanos que tinham medo dele; ele próprio, naquele dia, amedrontou a si mesmo. Não só isso, teve medo dos humanos também, e vergonha... vergonha também.

O medo o impulsionou a fugir e o fez fantasiar sobre seu destino. Tinha certeza de que seria punido pela própria família, até morto, talvez — o olhar de Daniel não ajudou. Acreditou que nunca mais a vida voltaria a ser a mesma. Mas a família o protegeu, e os dias agora eram como os de antes, apenas o lugar foi trocado — por um bem melhor, segundo sua opinião. Agora ele brincava lá fora todos os dias e a casa menor, apesar de ser péssima para brincadeiras de esconder, obrigava todos a ficarem mais perto do que de costume, o que era maravilhoso.

Da próxima vez que sentisse medo, saberia que não é preciso fugir. A família acolhe e perdoa. Eles estavam lá para ajudá-lo.

E de repente foi atingido no rosto por um travesseiro.

— Tá dormindo? Ficou quietinho do nada... — Sara engatinhou até chegar ao lado dele.

Naquela noite, Elliot tivera a audácia de sugerir algo que almejava há muito tempo, algo do fundo do seu coração: brincar de cabana. Na mansão do Dr. Crow parecia impossível idealizar esse desejo, pois o melhor lugar para realizá-lo seria a sala, onde os móveis eram muito afastados uns dos outros e ele se sentira intimidado em pedir autorização ao doutor — ainda mais após tentar arrastar o sofá e acabar riscando o assoalho; um acontecimento que seria eternamente mantido em segredo.

Com o que tinham em mãos — vários colchões e lençóis guardados na casa —, Sara e ele construíram um complexo de cabanas. Retiraram a mesinha do centro da sala, forraram o chão com três colchões — os outros dois foram utilizados como paredes — e passaram os lençóis por cima de tudo, inclusive sofás e poltronas — que também serviam como camas. Para manter os lençóis juntos, usaram presilhas e prendedores — alguns não prendiam muito bem, portanto precisavam ter cuidado com aquele teto macio e translúcido. Tempo total de trabalho: desde que terminaram o almoço; e manteriam assim até muito tarde da noite, porque não desperdiçariam tão cedo todas as horas que passaram ajustando e reajustando os lençóis que caíam.

No centro das cabanas, bem no meio da sala, Elliot estava deitado e observando o pano branco que ofuscava de leve a luz acima dele. Esta era uma das poucas vezes em que sua alegria se manifestava com tranquilidade em vez de agitação.

— Jantar... — ele choramingou para Sara, fazendo um bico com os lábios, enquanto jogava o travesseiro para o lado com cuidado para não destruir sua construção.

— Eles já devem estar chegando — ela respondeu enquanto se deitava, utilizando os braços como apoio para manter o tronco erguido.

Ambos foram cobertos quando o teto macio desabou sobre eles.

— Droga, acabei de arrumar — Sara reclamou, contudo exibiu um sorriso de resignação antes de se livrar do lençol e levantar-se.

Elliot se arrastou até encontrar o fim do lençol e colocou a cabeça para fora. Low estava na frente dele, sentado na única poltrona livre; corrigindo: na poltrona que fora roubada do complexo de cabanas.

— Não quer entrar? — o garoto indagou com educação. — Parece uma caverna lá dentro.

Ocupado com o celular na mão, Low olhou para Elliot sem utilizar uma expressão.

Lua vermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora