11. Blusa lilás

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Estava cansada de tudo, cansada de todos, sem exceção. O que não daria para desaparecer?

No dia do interrogatório, Dr. Crow e Raymond pegaram um avião até a capital, enquanto os que ficaram preparavam novos planos agora que o projeto chegara a seu abrupto fim.

Sara permaneceria na mansão com o Dr. Crow até terminar o ano letivo; um tempo que optaria por prolongar, se possível. Não queria voltar à sua cidade natal, nem reencontrar seus consanguíneos, sem contar que morando na mansão seria mais fácil rever Elliot. Seu próximo objetivo, então, seria pedir que o doutor Crow pudesse continuar como seu tutor, apesar do encerramento do projeto. Estava confiante de que essa ideia tinha grandes chances de se realizar, se dependesse apenas dela e da aprovação da família.

Os outros preparavam as malas. Teris seria a primeira a partir. No dia seguinte, pegaria um voo para o norte, com destino a uma cidade-polo de tecnologia, local onde seu pai morava. Depois iriam Daniel e Mori. Enquanto o primeiro partiria ainda inconformado, a segunda arranhava-se com o dilema de contar ao doutor sobre sua colaboração acidental para a fuga do harmínion.

Low também planejava ir assim que o tio retornasse — o que Sara descobriu naquela tarde, pouco depois da saída do Dr. Crow e Raymond.

A garota iniciara um hábito de visitar Low em seu quarto buscando notícias diárias de Elliot e, desta vez, após entrar no cômodo, foi surpreendida por duas malas fechadas em cima da cama.

— Aonde você vai? — ela perguntou enquanto ele fechava a porta. Se Low planejava se encontrar com Elliot, então ela também queria ir.

— Para a minha casa. — E como era fácil adivinhar o que Sara estava pensando, acrescentou: — Não é onde ele está.

— Quando vai voltar?

— Nunca, eu espero. — Pela entonação, era impossível descobrir se era uma piada ou se ele falava sério; talvez fossem ambos. — Mas avisarei quando for seguro visitá-lo.

Low se sentou na cama, entre as malas, e perguntou entediado:

— Veio saber sobre o Elliot?

A garota segurou um dos braços pelo cotovelo e assentiu meneando a cabeça.

— Ele melhorou?

— Ainda está se culpando, mas o meu amigo está fazendo de tudo para distraí-lo e, acredite, ele é tão irritante que deve estar tendo êxito. — Revirou os olhos e fixou-os no canto direito, repuxando o canto da boca nessa mesma direção.

— Acho que vou gostar dele, mesmo se for tão irritante quanto diz. — Ela forçou um sorriso, tentando ser animadora, contudo Low não esboçou reação. — Afinal, ele está ajudando o Elliot.

E a conversa terminou invadida pelo silêncio. Low aguardava que Sara terminasse seus assuntos ali, enquanto a garota conseguia senti-lo expulsando-a de seu quarto sem dizer uma palavra ou fazendo qualquer gesto de animosidade.

Sara nunca percebera quão estranho era conversar com Low, e agora que pensou no assunto percebia que, mesmo convivendo por alguns anos, eles mal se conheciam. O projeto era o único interesse de Low e, se não estivesse ocupado com a experiência, com certeza estaria fora de casa ou em seu quarto. E pelo que se recordava de quando o conheceu, ele parecia tão relutante em morar na mansão, que Dr. Crow e ela cogitaram se Low permaneceria até a próxima semana.

Comparando com os dias atuais, considerara que houve uma melhora na relação entre eles, mas somente agora formulava uma nova teoria... Agora que via em Low a mesma urgência em partir de quando chegara, percebia que em todo esse momento ele podia estar apenas tolerando a todos, tentando participar o mínimo possível do grupo. Talvez ele saísse com a equipe vez ou outra, mas isso fazia parte de manter uma relação, no mínimo, estável, não é? Concluindo esses pensamentos, sentiu-se desconfortável em estar no quarto dele, pensando que ela também era meramente tolerada.

Lua vermelhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora