15. Passado obscuro

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Sua intenção era de apenas colaborar com a dissimulação e conseguir respostas, até que, de forma imprevisível, a história se tornou tão crível que dificilmente ele poderia contestar. Por hora, seria dissimulado também.

Os recém-chegados removeram as roupas pesadas de frio e se ajeitaram nos sofás. Em um deles estavam Mori e Sara, e no outro Maurício, Sílvia e Elliot. Uma jarra de chocolate quente e seis canecas foram postas na mesinha no centro.

Sara adorou o lugar. Encontrar Elliot do lado de fora, ao invés de preso dentro de casa, foi o suficiente para acalmá-la quanto às decisões que precisou tomar. O harmínion estava feliz, parecia confiar em Maurício e até preferiu sentar ao lado da esposa dele — porque acreditava ser seu dever ficar de olho no bebê que ainda estava para nascer. Isso até compensou o susto que passaram quando Low ignorou todas as ligações dias atrás. Foi desesperador pensar que fora enganada e que nunca mais veria o amigo.

— Obrigada por terem cuidado do Elliot — disse Sara, após aceitar uma caneca de chocolate quente fumegante, oferecida por Maurício.

Mori estava sentada ao lado dela no sofá, o olhar preso em sua caneca, a qual segurava com as mãos apoiadas no colo.

Enquanto Maurício servia as garotas, Elliot pegou uma das canecas na mesinha e a entregou a Sílvia, que estava sentada no outro sofá à frente delas.

Terminada a distribuição, o professor se acomodou ao lado da esposa. Havia espaço suficiente para o harmínion em qualquer um dos sofás — onde cabiam três pessoas cada —, entretanto ele escolheu ficar ao lado de Sílvia, em um meio termo entre sentado e ajoelhado no braço do móvel.

— Não tem o que agradecer, querida — disse Sílvia. — Não foi só um favor; nós queríamos muito conhecê-lo.

— Olha, Sara! Tem um bebê aqui dentro! — Empolgado, Elliot encarou a garota e apontou para a barriga da mulher. Tentara sussurrar, porém, não conseguira o intento, e ainda acreditou que estava sendo discreto.

Ninguém evitou ao menos um sorriso mínimo escondido no canto dos lábios. Mori, inclusive, fechou os olhos, divertindo-se com o harmínion, contudo, ao abri-los, dispensou os pensamentos prévios de sua mente e levantou a cabeça.

— Não ficaram com medo? — ela perguntou.

— O Low falou que ele não era perigoso. E penso que não existe solução melhor para deixar de temer algo do que conhecendo pessoalmente.

Mori balançou a cabeça em concordância.

— Mas é que você... — A jovem moveu as pupilas, mudando seu foco do rosto da mulher para fixar-se no ventre dela.

— E é uma menina! — Elliot quase guinchou ao se lembrar desse detalhe importante. — Ela nem nasceu e é tão boazinha que deixa eu brincar com os brinquedos dela.

Desconcertada pela demonstração de felicidade do harmínion quanto ao bebê, Mori decidiu não concluir a frase e aceitar o novo assunto.

— Ah, é? — Sara indagou. — Já escolheram um nome?

Sílvia olhou para o marido; estava tão ansiosa pela resposta quanto os outros. Maurício se sentiu no dever de explicar.

— É que fizemos uma aposta — ele contou. — Eu escolheria o nome se fosse menina, e ela se fosse menino. Como eu ganhei, essa decisão cabe a mim. — Finalizou com um tom nada humilde.

— E já decidiu? — Sílvia insistiu, franzindo a testa.

Ele sorriu de forma marota.

— Eu estava pensando naquele... — Falou devagar e não terminou a frase de propósito.

Lua vermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora