Capítulo 39

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Meu desespero não me deixava respirar. Nem ao menos pensar.
Tentava me debater, fugir daquelas garras mais nem isto conseguia, meus braços estavam presos por fortes mão.  Um deles agarrou-me pelas pernas. Então o chutei, afastando-o de mim ouvindo seu gemido de dor.

- ODESSA! - Gritei em desespero. Uma sala branca reluzia-se no fim daquele corredor. O meu coração falhou uma batida. Ela queria que eu abortasse. A força.

Na minha adolescência conheci garotas novas e futuras mães. Numa pequena roda daquela época, ouvi confissões, nas quais sentia-me horrorizada. Minha mãe sempre me disse para ter responsabilidade. E eu sempre abria boca pra falar que teria. Naquela mesma época mais tarde que todas as outras, perdi minha virgindade, e a paranóia veio. Está de ter um filho cedo. Me cuidava e fazia de tudo para que não colocasse um filho no mundo pra sofrer com uma mãe jovem, afastando aquele pensamento daqueles mesmas meninas que também enchiam a boca pra falar que perderam a inocência aos 16, 17, sem pensar. Então aos 29 anos, fiquei grávida, com medo. E agora queriam o tirar de mim, tirar sem meu concentimento, algo que nunca teriam, algo que nunca faria como aquelas meninas.

Um grito saiu de minha boca. Fui jogada na cama violentamente. Debati-me com o ardor nas costas.

- Podemos bater nela! Pra que fazer está pequena cirurgia? - Ouvi um deles dizer. A nevoa envolvia meus olhos. Engasguei com meus próprios soluços. Braços forçaram para me prender. Bati, chutei, soquei, mas estes não desistiram.

- NÃO VÃO TOCAR EM MIM! ME SOLTEM! - Cuspi. Cansada. Olhos verdes cairam sobre mim. Vestia branco, e olhava-me com penar.

- Não vou matar você se não mexer-se. - Avisou.

Tentei soca-la sendo impedida pelas mãos. Algo as enlaçou como um nó de uma serpente.

- Não toque em mim sua filha da puta. Não me toque! Ou você vai morrer. - Rosnei como um cão. - Onde está aquela infeliz? Assassina! - Debati-me sobre a maca como uma se estivesse tendo uma convulsão. Laços amarraram-me os pés.

Kendra afastou-se de minha visão.

Os saltos tocaram o chão.

Meu lábio tremeu ao ver uma agulha próxima a mim.

- Isso aqui vai ajudar com sua dor, não vai sentir tanto. - Berrei quando ela fincou-a em meu braço sentindo o latejar de meus ossos. - Você não vai ver nada. - Minha audição zuou. - Fique tranquila nem vai sentir.

Um zumbido ativou-se no meu ouvido, em seguida um estouro como um balão. A ânsia cortou meu estômago. Minha barriga endureceu.

Não. Não. Não!

Um rosto ficou por cima de mim, apenas sombras que pude enxergar espremendo os olhos. Tossi, tentei me mover novamente, mas meus membros não obedeciam, começaram a não me obedecer.

Eu estava sufocando. Perdendo a consciência. Porque fariam isso? Até quando eles continuariam a fazer estas coisas? Uma mulher por sua cor ter que perder um filho para saciar aquilo que chamam de cultura, uma das maiores hipocrisias. Mulheres morriam todos os dias, perdiam filhos, eram mortas por companheiros. Mulheres negras todos os dias sofriam as mesmas coisas, entretando seus corpos na mente sádica de alguns é apenas para o uso, e agora no momento para eles não mereciam nem ao menos carregar o fruto de uma raça que acham superior mesmo sendo tão humana quanto qualquer outra.

O deslizar do tecido das minhas pernas, fez-me chorar. Lágrimas escorreram pelas laterais do meu rosto.

Puxei os braços, o meu pulso ardeu. As amarras eram fortes demais, prendiam-me demais.

A InfiltradaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora