Capítulo 29

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Humphrey Dominic.

Ela continuava embasbacada, seus olhos nebulosos e sua boca apertada entre os dentes.

Aquela merda tinha que acabar.

Ou eu acabaria com ela.

Fazia tempos que nada disso acontecia.

— Margareth? — Busquei algo interior, uma força que me manteria São o bastante para não ser ignorante com ela, como havia sido nas primeiras vezes que a vi.

Minha família era uma merda. Henry seguia tudo, a doutrina esquecida há quase duzentos anos e me assustava ao ver nele aquele menino que fui um dia.

Aqueles protestos na Virginia não me afugentaram, mais me colocaram contra tudo deles.

Margareth era a preta que balançou o meu mundo. Ficar longe de negros por conta de minha linhagem me tornou perceptivo a amargura. Um homem que se misturava somente com a futilidade e pude me afastar somente com o exército que me salvou disso por uma época escura.

Estava longe demais para saber quem agora mandava quem agora dava as ordens.

— Sim? — Suas sobrancelhas negras juntaram-se.

Ela era linda demais, e ao dizer aquilo para mim, aquela única palavra balançou e bateu contudo no minha alerta.

"Venham todos, nós somos supremos, somos a autoridade, somos puros".

— Está demitida.

Os olhos se arregalaram, a boca se abriu em um verdadeiro "O"

— Você só pode estar brincando não é mesmo? — Perguntou na verdade quase gritou, e pude sentir as chamas que viriam a seguir.

— Não estou. — Se eles voltaram a se reunir ali, tudo daria ruim novamente.

E como o esperado ela explodiu.

— O que eu fiz de errado?! Eu segui tudo o que você pediu, só pode estar ficando louco! — Gritou em desespero. Estava evidente que tinha mais do que raiva por perder o emprego. Mais tinha mais ali, o que ela parecia esconder.

— Nada. — Falei asperamente. — Preciso contratar novos seguranças, essa foi à ideia que tive.

Ela segurava o rádio com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos.

Ela jamais entenderia. Se ficasse poderia ser um dos mortos nesta guerra de poder.

— Você não pode me mandar embora! — Esbravejou.

Meu rosto se contorceu.

Aquela infinita teimosia.

— Você vai! Eu estou mandando! — Explodi.

Algo voou em minha direção, porém abaixei a tempo ouvindo algo se partir contra uma parede do corredor. O radinho.

— Não, eu não posso! — Ela andou de um lado para o outro puxando os fios dos cabelos, desmanchando os cachos dos fios.

Lá estava, aquela coisa de novo.

Ela sabia de mais coisa. Ela Sabia.

Porque uma mulher negra se atreveria a ir para Virginia numa cidade onde protestos brancos estouravam? Porque ela descobriria sozinha sobre Daphne e sobre seu capanga químico? Porque ela iria numa boate me ajudar com aquela merda toda? E porque agora brigaria por um emprego sendo que era formada pela Swat e poderia trabalhar em qualquer prédio dos Estados Unidos.

Minha mão fechou-se envolta de seu braço.

— O que você veio fazer aqui? — Indaguei entre os dentes. — Hã?!

Balancei-a encarando seus olhos escuros.

— Você está me investigando não é?! — Rugi sentindo meu rosto queimar.

Mais uma! Mais um! Sempre outro!

Imbecil!

— Não! — Gritou, mais senti uma falha em sua voz. — Me solte seu filho de uma puta! — Bateu em peito com seu rosto vermelho de raiva.

Uma luz surgiu sobre minha cabeça.

— Não minta!

— E melhor você me soltar antes que eu atire em você! — Vociferou.

Soltei uma risada amarga.

— Atiraria em mim Margareth? Saiba que eu não sou mais deles! Não sou mais aquele menino ouviu?! Quero você longe daqui!

Seu olhar vacilou.

Meus lábios se comprimiram ainda mais. Humphrey o garotinho do Klan não existia mais, se era o que ela queria por estar ao meu lado nas investigações estava enganada.Se achava que indo para Virginia me encontraria com eles também estava.

— O que... Você é Klux? — Balbuciou como se não soubesse.

— Não se finja de idiota. Você não é a primeira, mas devo admitir que foi bem fundo ao conseguir um emprego aqui. — A larguei como se toca-la queimasse.

A alguns anos, KKK ressurgira, e com ele fãs e inimigos daquele garotinho que fez vídeos exaltando os vermes de branco.

— Pelos céus! — Ela olhava-me como se eu fosse um E.T. — Dominic, você é ele! Sam tinha razão, sua família! Faz parte deles!

Meu estômago doeu como se eu tivesse acabado de receber um soco.

Ela não era diferente, era pior, por estar me investigando e ter ido a fundo no meu coração, e odiava admitir ela mexia em algo ali.

— Aí está a prova de que está me investigando... — Passei a mão pelos cabelos. — Porra! Eu não sou mais um deles! — Gritei contra seu rosto vendo-a encolher. O ódio que sentia na verdade era mais decepção.

— Não! Escute-me! — Sua mão tocou-me o braço, um choque percorreu meu corpo. — Eu acredito em você!

Parei abruptamente.

— O que?

Ela abriu a boca para dizer. Porém fechou os olhos e quando os abriu, vi decisão refletida neles.

— Eu acredito em você. E não estou aqui pelo Klux. Dominic, eu estou infiltrada aqui. Mais não por você.

A InfiltradaWhere stories live. Discover now