15. Passado obscuro

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— Não! — ela respondeu com ferocidade, espantando as garotas.

— Mas e se eu gosto desse nome? — Maurício brincou, fingindo sentir-se injustiçado. — Está tentando reduzir o poder que me foi concedido pela aposta?

— Não. Pode escolher o qual quiser, mas fique ciente de que se escolher esse, quando eu escolher o nome do próximo será você quem não vai gostar.

O professor riu com a resposta e, vendo a expressão confusa no rosto de Sara, colocou a mão ao lado da boca — como que para impedir o som de chegar até a esposa.

— É o nome de uma velha amiga dela que tentou acabar com o nosso relacionamento — ele sussurrou.

A porta se abriu, encerrando a conversa. Dr. Crow retornou sozinho.

— Doutor, por favor, venha sentar-se conosco — Maurício convidou.

Assim que Crow se sentou, desconfiado, ao lado de Sara, Maurício se desencostou do sofá e encurvou-se com a mão no queixo e o cotovelo apoiado na perna.

— Fique à vontade para se servir. — Maurício indicou com o olhar a jarra em cima da mesinha.

— Obrigado — Crow respondeu, porém recusou cruzando os braços.

— Agora que os três estão aqui, gostaria que soubessem que podem ficar durante o tempo que quiserem. A casa é pequena, mas vocês terão mais espaço hoje à noite, depois que voltarmos à cidade — disse o professor.

— Não vão ficar com a gente? — Elliot questionou, indignado com a informação inesperada.

— Não vai dar, Elliot. Tenho assuntos a resolver; e o bebê está quase chegando...

Vendo a expressão decepcionada do harmínion, Sílvia complementou o marido:

— Mas voltaremos assim que ela nascer, para você conhecê-la.

— Se for assim, então tá bem — o garoto aprovou.

A interação entre Elliot e Sílvia fez Crow reparar com mais atenção na mulher.

— Doutor, essa é a minha esposa: Sílvia — Maurício a apresentou ao notar a curiosidade dele. — Não sei se o senhor lembra, mas ela é enfermeira.

A informação, apesar de parecer inofensiva, causou uma reação anormal no doutor. Anteriormente tivera uma vaga lembrança de Maurício, sem poder discernir, com exatidão, qual, entretanto, após ser puxado para mais fundo na memória por esse gatilho, seu rosto enregelou.

— Sim, eu me lembro — Dr. Crow se obrigou a dizer. — Muito prazer em reencontrá-la. — A voz saiu um pouco rouca, a fala atropelara seus pensamentos.

Não chegou a ouvir se houve uma resposta ao seu cumprimento; estava focado em recuperar cada fragmento daquela memória. Precisava descobrir o quanto o casal sabia... Mesmo que Low confiasse no professor, não significava que teria contado muita coisa, no entanto talvez o motivo de o sobrinho tê-lo como amigo fosse porque não tinha escolha, porque talvez Maurício soubesse mais do que deveria.

Quando voltou a focar no presente, a conversa já tinha voltado a fluir.

— De onde você conhece o doutor? — Sara indagou. — Foi o Low quem te apresentou? — Segundo o que ela pensara do plano de Low, o professor devia ser alguém desconhecido para o Dr. Crow, mas parecia que errara nessa conclusão.

— Mais ou menos. — Maurício sorriu para a garota. — Na verdade eu o chamei várias vezes para conversar quando o Low ainda era meu aluno.

— Nossa... — Sara contraiu os lábios, quase formando um bico enquanto imaginava o quanto um aluno precisava aprontar até que seus responsáveis fossem chamados. — Mas ele é tão quieto... Então ele era um aluno ruim?

Lua vermelhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora