Lua vermelha

12. Olhar gelado

Descendo até a cozinha, encontrou todos os residentes reunidos à mesa, com exceção de Teris.

— Boa tarde a todos! — Dr. Crow saldou entusiasmado e dirigiu-se até a pia para lavar a caneca que trouxera do quarto. Ostentava um magnífico bom humor, mesmo que hoje fosse um dia infeliz pela separação do grupo.

Os presentes que responderam a saudação o fizeram com desânimo. Sara se manifestou em seguida:

— Quer almoçar, Dr. Crow? Eu também ajudei a preparar o almoço hoje!

O doutor focalizou sua atenção no centro da mesa, onde o prato principal — uma travessa de salmão assado — parecia uma tortura para seu estômago faminto.

Sara e Mori estavam sentadas lado a lado, Daniel à frente de Mori e Low na ponta, próximo à Sara. Crow se sentou ao lado de Daniel e começou a aprontar seu prato.

Podia-se dizer que o clima na mesa não compartilhava a mesma serenidade que o doutor. Estavam todos quietos, embora cada um exprimisse um silêncio diferente dos outros. Quando adentrou a cozinha, Crow percebeu que uma conversa morreu tão logo ele apareceu à porta. Seria normal isso acontecer se estivessem falando em segredo, no entanto o assunto que entreouvira era apenas sobre para onde cada um iria agora.

Sobre o silêncio diferenciado, o mais tranquilo de todos era Low, que somente esperava o tempo passar pacientemente de braços cruzados. Embora Daniel também estivesse aguardando, parecia prestes a se levantar da cadeira de repente, como se o que esperasse fosse uma explosão ou, quem sabe, o retorno imprevisível de Elliot. Mori estava mais tímida do que o normal, além de demonstrar aborrecimento enquanto insistia em focar a atenção ao seu lado, onde ficava a geladeira... Talvez tivesse descoberto algo de fascinante sobre o eletrodoméstico, ou apenas observasse aquele ponto por acaso.

Sara estava animada com a ideia de visitar Elliot em breve, porém uma fagulha de nervosismo a incomodava, e o que a denunciava era o fato de vez ou outra lançar o olhar na direção de Mori, repuxando o canto do lábio em cada uma dessas vezes.

— Teris já foi embora? — Dr. Crow indagou depois de provar um pedaço do esplendoroso salmão.

De maneira discreta, Daniel moveu o braço apoiado na mesa.

— Já. Ela me ajudou a fazer o café da manhã e foi embora depois de comer — Sara respondeu.

— E vocês? Estavam falando sobre irem embora juntos...? — Dr. Crow direcionou o olhar para o outro canto da mesa, onde estavam Daniel e Mori.

— Somos vizinhos, então não faz sentido viajarmos separados — disse Daniel.

Ao perceber que fazia parte do assunto, Mori pareceu despertar de um transe. Observou Daniel, depois o Dr. Crow, e parou os olhos a tempo de evitar chegarem à ponta da mesa.

— E quando pretendem ir? — o doutor perguntou.

— Ainda essa semana — respondeu Daniel. — Mas antes eu precisava falar com o senhor...

— Sim, sim... Não se preocupe, estamos com tempo de sobra agora — Dr. Crow o interrompeu, a polidez no tom de voz suavizou as palavras.

— Ah... Eu também queria falar com o senhor... — disse Mori de repente, temendo perder o momento.

— Tudo bem. — A atenção do doutor retornou para o prato à sua frente.

— E eu já vou indo.

Ninguém esperava o anúncio vindo de Low, afinal ele não participara da conversa no almoço. Com exceção de Sara, todos olharam para ele surpresos e confusos — sentimentos que escorreram do semblante do doutor Crow em instantes.