No mesmo instante, o doutor compreendeu qual era o objetivo do sobrinho. Quase deixou escapar uma expressão enojada, entretanto, apesar de toda a sua irritação, foi a preocupação que tomou conta de sua face.

— Por acaso você ficou bebendo enquanto eu estava fora? — Lembrou-se das garrafas compradas há alguns dias, as mesmas que não foram utilizadas por completo na solução.

— Você sabe que eu não bebo — Low respondeu, ainda de forma arrogante.

Era pior do que o doutor pensava. Conhecia a personalidade de Low — seu comportamento irritado e majoritariamente quieto —, contudo, quando o sobrinho falava dessa forma, com essa exata entonação, mostrava seu pior lado: uma frieza incapaz de demonstrar um mínimo de respeito por aqueles ao seu redor, e ainda divertia-se brincando com os pontos fracos das pessoas. Essa postura lembrava muito um Raymond de vários anos atrás. Ultimamente Crow estava presenciando demais esse comportamento detestável.

— E então? Ele disse alguma coisa? Ficou irritado, espero. Deve pelo menos ter ficado indignado. Com sorte, talvez tenha sofrido um infarto de raiva — Low continuou insistindo, cada vez mais animado.

Dr. Crow decidiu ignorá-lo ao passar por ele. E para sua tranquilidade, Low não o seguiu, porém voltou-se e falou antes que o tio se afastasse além de alguns passos:

— E sem dúvida pediu mais amostras.

Apertando os lábios com força, o doutor prendeu a respiração. Estar no meio de dois cães raivosos, enquanto tentava separá-los, significava que seria o primeiro a levar uma mordida.

— Não precisa esconder isso de mim — Low prosseguiu, aparentando, ou talvez fingindo, estar bem-humorado. — É tão óbvio que não faz sentido tentar encobrir.

 — É tão óbvio que não faz sentido tentar encobrir

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Embora Dr. Crow costumasse acordar de madrugada, a exaustão causada pelo interrogatório manteve seus olhos fechados até a metade do dia. As recentes noites de sono foram deveras turbulentas para que descansasse apropriadamente, então ficou surpreso quando acordou relaxado, ou melhor, nem tão surpreso ao lembrar que seus problemas mais urgentes acabaram.

Estava livre daquela maratona estressante. Agora, se possível, gostaria que o deixassem na cama pelo resto da semana... Uma possibilidade que descartou ao mudar de posição e perceber que ainda vestia as roupas do dia anterior. Como a pessoa metódica que era, não conseguiu voltar a relaxar até se levantar da cama, tomar um banho e colocar roupas limpas... E depois que se aprontou, não viu sentido em voltar para a cama.

Após terminar de arrumar o quarto, seu estômago reclamou pedindo por uma refeição. Por hora, tomaria a caneca de chá que encontrou repousando na mesa de cabeceira — para deixar a Sara feliz, era o pensamento que passava por sua cabeça antes de provar qualquer receita nova da garota. Podia muito bem jogar o conteúdo na pia do banheiro, contudo preferiu enganar a fome até encontrar algo sólido. Sorveu a bebida em apenas um gole, almejando sentir o mínimo possível do gosto, entretanto ficou surpreso ao constatar que não era um chá. O gosto era adocicado e... continha mel?

Lua vermelhaWhere stories live. Discover now