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Cheguei do trampo, arrumei a casa toda, esquentei no microondas uma torta de frango que tinha comprado, fiz um suco de uva e matei fino.
Vesti um short de tectel e uma regata branca, coloquei um filme e deite.
__ Não tá dormindo não? Que milagre é esse? – Ele abriu a porta e já foi entrando.
__ Já ia dormi agora né, mas tu chegou – Arqueei a sobrancelha.
__ Que papo de humanos é aquele lá no status do whatsapp?

__ Que humanos filho? É parto humanizado –  Ri.
__ Que parada é essa? – Ainda tava me olhando fixo
__ É deixar a natureza fazer o trabalho dela, de forma humana. Quero em casa. Com as pessoas que eu gosto por perto – Falei.
__ leu muito na internet antes de falar comigo né? – Gargalhou.
__ Foi mesmo. Mas resumindo, é um parto com poucas intervenções da medicina, pra gente ter um contato mais direto com o neném – Abri os braços.
__ Entendi. Mas como tu vai conseguir isso? – Sentou na beirada da cama.
__ primeiro preciso saber do obstetra se tem como, pelo que rolou na ultrassom. Nossa saúde tem que tá de boa – Alisei a barriga.
__ E tá. Vai ser do jeito que tu quer – Beijou o topo da minha cabeça.
__ Tomara – Assenti.
__ Vou lá na minha mãe, mais tarde eu volto pra dormi contigo – Falou.
__ Demorô, manda um beijo pra ela – respondi, ele Assentiu e foi.
Fiquei rolando na cama até pegar no sono.

Bryan Narrando:

Pedi o Dan pra ficar na boca e parti pra casa dos meus pais.
Passei na boca e meu pai não tava, troquei altas idéias com as cara, eles falaram que ele tinha vazado pra casa faz tempo. Marquei mais um dez lá e depois subi na goma dos coroa.

Estacionei o carro na rua de baixo e fui subindo apé, cumprimentando geral.
Fui entrando mas parei na metade do corredor ouvindo umas conversas.

__ Porra Renan, Tu sabe que isso não devia ter acontecido. Agora é mais provável de que ele fique puto e de um jeito de contar tudo – Minha mãe falou.
__ Mas ninguém tem culpa, Bryan invadiu por livre espontânea vontade. Quando ele enfia uma ideia na cabeça, ninguém tira. Até parece que você não conhece – Meu pai respondeu.
__ E agora? Agora ele não morreu e com certeza vai começar o joguinho dele – Ela falou.

Não tava entendo merda nenhuma, só sabia que tava falando do Pom.
__  Agora é rezar pra ele não colocar a boca no mundo e tu não fica dando bandeira, toda preocupada ai. – Meu pai falou e no impulso eu já entrei na cozinha.
__ Colocar a boca no mundo por que? – Olhei pros dois que ficaram assustados na hora.
__ Que susto Bryan, chega igual um fantasma, parece que tá com as pernas na cabeça – Minha mãe colocou a mão não peito.
__ Não vem desviando o assunto não. O que quê vocês tão falando ai? – Dei um soco na mesa.
__ Nada Bryan. Assunto nosso – Meu pai falou.
__ Assunto de vocês? Aham, tá – Assenti irônico.
__ Renan, conta, eu não vou aguentar essa pressão – Minha mãe sentou.
__ Contar o que? – Perguntei olhando pro meu pai.
__ Tem certeza Valesca? – Ele perguntou e eu já tava puto de raiva.
__ Conta Renan, por favor, eu não consigo contar – Ela falou com a voz de choro.
__ Vão contar ou vão ficar jogando um pro outro aí? – Perguntei impaciente

__  Eu não sou seu pai biológico, Bryan – Ele falou e depois fitou o chão.
__ Como assim? Quem é meu pai ?– Perguntei alterado, minha voz também começou a sair falhada.
__ O Pom, seu pai é ele – Falou baixo.
__ PORRA, qualquer um, menos esse cuzão – Dei um soco na parede tentando reprimir o ódio, mas mesmo se eu derrubasse a parede eu não ia conseguir.
Meu sangue ferveu, meu peito subia e descia.
__ Bryan, vamos conversar – Minha falou já chorando.
__ Conversar é o caralho, vocês me enganaram a vida toda porra – Eu Gritei.
__ Porque tu não merecia saber que teu pai, ou melhor, um infeliz, te abandonou – Minha mãe levantou e veio na minha direção.
__ Não importa, eu preferia saber, tu não tinha o direito de esconder isso de mim – Apontei.
__ Foda-se o Pablo, se ele fosse muito teu pai mesmo ele tava atras de tu. Não te trocava pelo comando – Meu pai gritou estressado também.
__ E por isso vocês tinham que me enganar? Eu não queria ser filho dele, mas também não queria acreditar em uma coisa e depois descobri que era tudo mentira – Falei e já sai saindo.

Ouvi minha mãe me gritando, mas nem queria saber de muita conversa não, se eles quisessem me explicar alguma coisa, já tinham falado antes. Entrei no carro e vazei.
Minha mente tava a milhão. Eu não sabia nem o que fazer.
Filho de um vacilã, cuzudo, que não presta nem pra morrer. Filho da puta, isso me faz ter ainda mais ódio daquele maldito.
Já sai dirigindo feito louco mesmo, sem rumo. Não queria pensar em nada, queria esquecer tudo, se eu podesse esquecer o que ouvi a alguns segundos atrás. Como pode, meus pais me enganarem a vida toda, sem nenhum ressentimento ou culpa. Porra, se é desse jeito que eles dizem que me ama, tá difícil, nem sei mais o que é amor.

Fui em um lugar onde eu sabia que ninguém ia me encontra, pra tirar meu sossego. Só queria ficar sozinho, pra refletir.
Montei um carreira de thai e mandei tudo. Queria ficar travado.
Senti meu pé ficar geladasso, a onda bateu rápido, fazia maior cara que eu não cheirava.

Sai do carro, já tava escuro a vera, encostei no capô e fiquei olhando pro nada, ligeiro na onda, com vontade de matar, com coragem pra fazer qualquer coisa.
Fiz outra carreira e mandei. Fiquei ligadão, olho arregalado.
Comecei até ter alucinação. Olhei em volta pra certificar de que tava sozinho.
Peguei minha pistola no porta luvas e sai andando.

Eu nem conseguia pensar em nada, só queria matar, matar. Se eu encontrasse qualquer um aqui irmão, ia andar ruim na minha mira.

Nicotina - Livro BônusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora