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Fiquei por tanto tempo ali, que acabei esquecendo da vida, era tudo que eu queria... Esquecer tudo isso.
Levantamos caladas e saímos do banheiro. A tia tava sentada no sofá fitando o chão e o João andando de um lado pro outro.
__ Porra, eu sabia, eu sabia – Segurou meu braço forte.
__ João, para – Bia encostou no ombro dele.
__ Teu pai vai acabar com sua vida – Gritou.
__ Filho, ela não precisa disso agora, ela tem que ficar calma – A tia me puxou e eu sentei no sofá.
__ Calma? Calma ? Não quero nem pensar na desgraça que vai ser – Bufou.
Eu chorava, chorava, chorava e chorava.
__ Vão pra lá vocês dois, me deixa sozinha com ela – Apontou pro quarto.
Bia e João saíram e eu fiquei lá aérea no tempo.

__ Alexandra, olha aqui – Sentou do meu lado e segurou minhas mãos.
__ Oi – Sussurei e olhei pra ela.
__ Tá tudo bem, tá? É só um susto, mas depois, depois tudo vale a pena. Eu engravidei do João com 15 anos. Eu não sabia nem de mim, quanto mais de uma criança. Minha mãe me bateu tanto, que eu pensei que fosse perder meu filho. Mas depois, eu só fui feliz. Da tanto trabalho, mas também da tanto amor. Você é esperta, inteligente, decidida, vai dar tudo certo – Falou olhando nos meu olhos.
Eu não conseguia pensar em nada, ou não queria. Eu só pensava no quanto essa criança ia causar discórdia, mesmo não tendo culpa. Eu e meus pais, meus pais e meus tios, meus pais e o Bryan, eu e Clara, mesmo ela sendo minha Menor preocupação, ela devia saber desde o início, que eu ja tive alguma coisa com ele.

Fiquei um bom tempo lá, até que eu consegui parar de chorar e meus olhos desincharam. Minha mãe ja deve estar velha, porque sumi esse tempo todo.
Me despedi deles e fui embora com Bia, fomos num silêncio babadeiro. O tempo começou a mudar, as nuvens ficaram escuras de repente, começamos a correr pelo morro feito doidas.
Entrei em casa toda afobada, era chuva de vento, morro de medo.
Fui pro quarto, tranquei a porta e deitei na cama.
A chuva caia fazendo tanto barulho. Mas nada fazia mais barulho do que aqui dentro, meu coração batia acelerado, minha barriga tava gelada, eu estava tontinha, fechei os olhos e fiquei pensando um milhão de coisas, e eu nunca conseguia pensar em como seria com um nenê. Eu não me via mãe, não me via com tanta responsabilidade. Não me via nem viva, real.
Como contar isso pros meus pais? " poxa pai, to grávida do Bryan" Nossa, imagina, ela já vai virar um soco na minha boca.
E o Bryan? Meu Deus, ele vai me humilhar de todas as formas, falar que o filho não é dele, que estou fazendo isso pra separar ele da Clara.
Acho que pela primeira vez, to sozinha.

A chuva não parava por nada, eu já tava morrendo de medo babado.
__ Filha – minha mãe gritou da porta.
__ Oi – Falei já limpando as lágrimas.
__ Tá tudo bem aí? – Perguntou.
__ Tá sim  mãe – Respondi baixo.
__ Daqui a pouco você vem jantar – Falou e eu ouvi passos dela saindo.
Coitada da minha mãe, sempre me apóia, sempre do meu lado, me protege, me ajuda e eu aqui, grávida, grávida de um bandido, que tem outra mulher.
Oh Mãe, desculpa, se eu tivesse te escutado, tudo seria diferente, como eu queria que hoje fosse alguns meses atrás, ou anos. Tu vivia falando altas paradas, falando que um dia me contaria sua história, e que eu nunca, nunca na vida iria querer ser quem você foi. Mas mãe, se um dia eu for metade da mãe e da mulher que você é, eu serei uma pessoa maravilhosa.

Eu chorava descontroladamente.
A chuva não parava. Bolei um baseado, acendi, passei outra trinca na porta e fui pro banheiro, sentei no vaso e comecei a fazer a mente.
Eu precisava relaxar, fica de boa, tranquila.
Fumei o baseado todo, meu olhos estavam igual brasa, fiquei colocada.
Pinguei um colírio, me despi, liguei o chuveiro e entrei.
Apoiei a cabeça na parede e fiquei uma cota, viajando em um tanto de coisas, tomei banho e fiquei mais um tempo lá.
Sai enrolada na toalha, passei hidratante, vesti uma lingerie, coloquei um pijama, pinguei mais colírio e fui jantar, tava numa Lara braba.

__ Pensei que tinha morrido – Meu pai me olhou.
__ Tava tomando banho – Falei pegando comida.
__ To cansando de falar da porra da descarga elétrica. Não pode esperar a chuva passar não? – Resmungou.
__ Fica de boa pai, eu morri? Não – Dei de ombros.
__ Acabou? Espero que sim – Minha mãe interrompeu.

Comi em silêncio, mais tensa a todo tempo, não falava, só ficava olhando o prato. Bebi um copo de coca, lavei a louça e fui pro quarto. Escovei os dentes e entrei no whatsapp.
Tinha mensagem de Bia, já fui logo entrando na conversa.

Conversa do whatsapp:
Be Atriz🐟: [20:05]:
Mi, sei que não é o momento. Mas João veio aqui. Meus pais ficaram até de boa né. Desculpa se tô sendo chata, mas é pq vc é a primeira pessoa que eu queria que soubesse. Te amo 👩👩👶❤
Eu: oh nega, Deus abençoe vcs, to aq sempre que precisarem de mim. E nn me abandonem 😹❤
Be Atriz🐟: Jamais né. Agr vou dormi, to com sono. Amanhã vou aí. Bjs😘
Fim da conversa.

Fiquei mexendo no insta e acabe pegando no sono.

Nicotina - Livro BônusOnde as histórias ganham vida. Descobre agora