Capítulo 14

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- Bom dia, pastelão - Ethan brincou com Micael enquanto atravessava os corredores da faculdade. Ambos estavam com seus jalecos.

- Vou entregar o seu pen drive hoje á noite - disse calmo.

- Por que não me trouxe hoje de manhã?

- Esqueci em cima do balcão, desculpe - mentiu.

- Tudo bem - entraram em uma sala com o ar condicionado trincando.

- Pra que tanto gelo? - Micael cruzou os braços se queixando do frio.

- Estamos no frigorífico de defuntos, tinha que ter gelo.

- Eu acho incrível como você acha um modo de zoar com tudo.

Escutaram a porta se abrindo novamente, Ethan sorriu falso a Izac.

- E aí, galera - Izac deu um aperto de mão em Micael e logo após em Ethan.

- Como você está, Izac? - o moreno perguntou calmo.

- Estou bem, na verdade indo.

- Ninguém quer saber - Ethan silabou muito baixo mas Micael escutou, deu um empurrão no amigo.

- Vieram cedo pra aula - Izac umedeceu os lábios.

- Hoje a aula é aqui? - Ethan perguntou.

- É, vai ser meio tensa mas infelizmente tem que ser assim.

- Toda a aula de anatomia é tensa, principalmente com cadáveres esfriando nas geladeiras - Ethan revirou os olhos.

- Aposto cinquenta dólares que você não aguenta a aula de hoje - Izac sorriu maléfico.

- A aula é como todas as outras - Ethan revirou os olhos - você vai perder cinquenta dólares atoa, Izac.

- Espero pra ver - Izac se acomodou no seu lugar na grande bancada enquanto os outros alunos entravam, Micael ficou curioso assim como Ethan pra saber a aula de hoje.

O professor de anatomia tinha entrado na sala, vestia seu jaleco assim como os alunos. Micael foi pro seu lugar prestando a atenção, deu pra perceber a tensão.

- Espero que vocês repensem bem antes de fazermos essa aula - o professor respirou fundo - não quero contar o caso e nem contar de quem é o corpo. Essa é uma aula muito difícil e é a primeira que realizamos durante todos esses anos.

A cada palavra Micael processava perfeitamente na cabeça, os olhos castanhos fixados no professor. O mesmo foi até o freezer onde ficavam os corpos, abriu a gaveta e tirou de lá nada mais e nada menos do que uma criança.

Estava perplexo assim como os outros alunos, nunca tinha estudado o corpo de uma criança na faculdade. Aquela seria a primeira vez.

O professor transferiu com a ajuda de um aluno o corpo da menininha para a grande mesa onde realizavam os estudos. Não conseguia fazer nada, não conseguia pensar, não conseguia falar, não conseguia nem se quer sair dali. Estava com medo, estava triste, seu corpo ficou preso naquela bancada.

Aquilo foi o fim.

A menininha mais branca que um papel, gelada, com cabelos loirinhos e nua ficou exposta, os alunos estavam conhecendo o que iam aprender, mas Micael não conseguia se quer fazer nada. Se sentiu muito mal, começou a soar frio.

Levantou-se e foi pra fora, todos o olharam mas Micael não queria saber. Estava passando mal, muito mal.

- Qual foi, Micael? - Ethan veio logo atrás - está tudo bem?

- Não - balançou a cabeça - eu não posso voltar lá, Ethan.

- É uma criança, cara.

- Uma criança, não tiraram nem a cabeça da menina, eu não vou mexer em algo tão invasivo.

- Micael, você faz isso em todas as aulas de anatomia.

- Acontece que os corpos que eu mexo não tem nenhum parentesco - se estressou - essa menina provavelmente deve ter um pai, ou uma mãe - balbuciou - eu não vou voltar pra lá. Era pra essa menina estar no IML de algum lugar.

- Cara, calma - colocou a mão no ombro do amigo - você está nervoso.

- ETHAN, EU NÃO VOU VOLTAR PRA LÁ. EU NÃO VOU TOCAR NAQUELA CRIANÇA.

- Tá bom, Micael - acalmou - está tudo bem, vamos tomar uma água e ir embora.

- Que diabos está acontecendo aqui? - o professor saiu da sala encarando Micael totalmente nervoso.

- O Micael teve uma crise de pânico - Ethan disse - não está passando bem e vamos ir pra casa. Está sem condições de dirigir.

- Certo - o professor assentiu - anulem a aula de hoje, está muito forte até pra mim.

Ethan assentiu como ele, bateu de leve nas costas de Micael e o acompanhou até o bebedouro fazendo o moreno beber um copo d'água.

O amigo dirigiu até o apartamento de Micael, subiu com o mesmo e certificou que estava tranquilo quando o deixou no sofá de casa.

- Obrigado - Micael tirou o jaleco esfregando os olhos.

- Você estava péssimo, melhor dormir um pouco - cruzou os braços.

- Antes, eu preciso falar com você - levantou-se novamente indo até o balcão.

- Você adora falar comigo, impressionante - achou graça.

- Por que não me disse que conhece a Sophia?

Ethan engoliu seco, Micael apenas encarou querendo uma explicação.

- Anda, responde.

- Você olhou os vídeos, não é? - fechou os olhos respirando fundo.

- Olhei sim - pausou - por que não me disse que conhecia a Sophia?

- Porque você ia ficar todo bravinho.

- Onde conhece ela?

- Vai fazer um interrogatório?

- Onde você conhece ela? - estava ficando bravo.

- Eu conheço a Sophia faz tempo, e vou te falar, acho bem feito o que aconteceu com ela - andou até a cozinha de Micael abrindo a geladeira - a menina era um porre. Zoava todo mundo, e ainda por cima era puta.

Micael fechou o punho se controlando totalmente.

- Você acha que ela é esse amor todo mas não é - bebeu uma cerveja que estava na geladeira - uma vez ela transou com o professor pra passar na prova, ficou mandando trote pra mulher do cara. Essa menina era o capeta puro.

- Chega, Ethan - disse sério - vai embora.

- Não acredito que não vai acreditar em mim.

- Ethan, vaza daqui - abriu a porta encarando bravo o amigo que ainda bebia a cerveja.

Ethan passou pela porta olhando fixamente a Micael, preparou seus lábios pra silabar algo.

- Não estrague minha amizade com você por causa de uma puta branquela que está pagando todos os pecados cometidos - saiu do apartamento de Micael e entrou no elevador.

A dúvida que não queria calar: confiar ou não confiar em Ethan?

As Sessões - The SessionsWhere stories live. Discover now