[TRINTA E UM]: DE VOLTA AO JOGO

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DEREK

Todo o drama do Nicholas já estava me deixando de saco cheio. Ele já não aceitava as minhas ligações, enviando todas para o correio de voz. Já não respondia minhas mensagens, mesmo tendo visualizado todas elas onde eu me explico e tento deixa-lo a par de toda a situação que está acontecendo. Me sinto sufocado para cacete, louco por ter retornado de Vegas e agora estar assim, dentro de uma roleta russa onde todas as opções são terríveis para mim.

Yuna precisa de mim agora, embora eu não devesse estar envolvido nessa história. Uma parte minha se sente traído ou feito de trouxa, a outra ainda tenta me convencer de que eu posso ser uma boa pessoa para apoia-la nesse momento tão delicado. Ela não queria precisar do Adam e a ideia de tê-lo perto dela me agoniaria ainda mais. O Nicholas precisa entender isso, precisa entender que embora eu goste dele e esteja protegendo ele, também preciso cuidar dela.

Por dias tive todo um lance com a Yuna, algo grande o suficiente para não me deixar partir agora que ela me pede para ficar aqui. Não é amor, mas ainda existe um respeito que acredito ser mútuo. Eu sei onde estou e sei quais são os meus limites, sequer prometi que não machucaria o Nicholas, até porque sei que não vou machucar. Não é ela quem eu quero, não é aqui que meu coração quer estar, mas esse é o meu dever no momento, por hora, enquanto as coisas ainda estão calmas e as ondas da maré não conseguem atingir a praia para me levar de volta ao jogo. A qualquer momento o Adam vai retornar com as ameaças, a chantagem, aquela manipulação psicológica que só mantenho porque quero deixa-lo longe dos holofotes, dos comentários e da perseguição que seria se expor. Não está no momento dele, e eu havia dito para mim mesmo que sempre, independente de qualquer coisa, iria cuidar do Nicholas. Essa promessa não pode ser quebrada nunca.

Yuna está dormindo do meu lado, encolhida naquele moletom cor-de-rosa enquanto meus dedos passeiam pela tela do celular. Sua mãe não se importou nenhum pouco em me ter aqui, apenas me olhou da cabeça aos pés e elogiou a minha aparência, dizendo que a filha tinha um ótimo gosto para rapazes, mas que deveria deixar de trazer somente loiros para casa. Primeiro Adam, depois eu. Pelo menos eu não seria tão babaca assim. Seu pai estava viajando, provavelmente para reuniões importantes ou algo do tipo, já que durante o jantar foi isso o que a sua mãe tentou me falar enquanto conversávamos dentre a refeição que havia sido comprada às pressas por ninguém ali saber cozinhar.

Era um lar fútil de família fútil.

Sinto pena dela. Do fardo que carrega mesmo sendo tão nova e cheia de responsabilidades com a vida, depois do jantar, sua mãe limpou os lábios no guardanapo e logo se afastou para retornar à seleção de modelos e roupas em revistas de moda, até me pediu a opinião sobre uma possível cor de vestido e essa foi a última coisa que conversamos em trio porque segundo a Yuna, era esse o seu tratamento dentro de casa. Não existia afeto, existiam opiniões de negócios, de trabalho, existia somente a obsessão por dinheiro e poder.

Não é atoa que seu pai é um dos nomes cotados para prefeito de San Pier futuramente.

Meu indicador toca na conversa com o Nicholas, ele não está online.

Seis mensagens minhas já estavam lá.

Vê-lo pela manhã seria a melhor forma de resolver o erro que estávamos tendo, principalmente por sua própria segurança, mas eu já sabia que isso não seria nada confortável e que ele usaria todas as situações possíveis para me fazer vê-lo como o certo da situação, sendo que uma parte minha já se sente culpada por tê-lo deixado sozinho durante aquelas longas horas em que estive consolando a Yuna e fugindo da realidade.

Meus dedos digitam outra vez.

Derek: — Vou encontrar você na Zaco amanhã, realmente precisamos conversar para que tudo fique bem entre nós dois, Nicholas.

Depois do Ritual (romance gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora