Depois do Ritual (romance gay)

[UM]: O RITUAL NA PRAIA

NICHOLAS 

Quando a luz do sol atravessa a janela do meu quarto à procura do meu rosto, ela não o encontra. Hoje é o dia tão esperado por mim, o dia do ritual na praia, o dia em que todos os formandos da Zaco Beach School se reúnem em volta de uma fogueira na praia para desafiar os formandos do ano seguinte, aqueles que entrarão ao último ano de suas vidas na Zaco, ou até mesmo em San Pier, e eu sou um deles.

Toda a história do ritual parece ser sem graça, mas não é, e talvez seja por isso que eu passei praticamente toda a noite em claro, imaginando como seria a minha vez e se eu seria ou não desafiado, mas o importante além dos desafios, são os segredos contados, a diversão com milhares de outras pessoas e obviamente, a revelação daqueles que participaram do ritual no ano anterior. É assim que funciona, quando você ingressa no último ano você participa do ritual um dia antes do começo das aulas, com sorte – ou não –, você é desafiado por um formando e deve cumprir esse desafio em segredo até que o final do ano chegue, e só ai você poderá revelar qual foi o seu desafio e desafiar o próximo formando do ano seguinte.

Enquanto organizo tudo o que preciso levar em cima da minha cama, sou surpreendido pela entrada da minha mãe no quarto, antes mesmo de bater na porta, o que já virou um costume dela desde que eu perdi a minha própria chave. Ela traz consigo uma pequena cesta de roupas sujas, e pelo sorriso discreto no rosto, sei que está mais disposta a me acalmar do nervosismo do que me perguntar se tenho algo para lavar, e é isso o que ela faz.

— Sabe que não precisa aceitar qualquer tipo de desafio, não é? Quer dizer, na minha época eram coisas estúpidas, mas vocês hoje em dia têm uma criatividade sem igual para manipular as pessoas, sabe-se lá o que vão te propor caso você seja desafiado. — ela diz enquanto me encara, e pela primeira vez após um longo tempo, eu volto a perceber a semelhança entre nós dois. Os olhos azuis – embora os meus sejam mais acinzentados como um mar claro, e o dela um oceano um pouco mais escuro –, os cabelos castanhos e o amor e preocupação que compartilhamos um pelo outro.

— Eu sei, mãe. — lhe respondo, finalmente deixando as coisas de lado para me sentar sobre a cama. — Mas não é só o desafio, é tudo. Hoje o Derek volta de Vegas e a gente vai se encontrar na praia, amanhã as aulas começam e é o meu último ano e nem sei se quero mesmo fazer faculdade na Fallwour.

— Você está colocando muita pressão em si mesmo, Nicholas. — minha mãe, Zalia, deixa a cesta no chão ao lado da porta antes de se aproximar de mim, parando na minha frente com a sua mão esquerda em meu rosto. — É só o começo de uma nova fase, as coisas ainda vão se encaixar e você entenderá o que quer. — seus dedos passeiam por minha pele branca por alguns segundos, e depois, alcançam alguns fios dos meus cabelos castanhos ainda bagunçados. — Você e o Derek poderão conversar bastante sobre a Fallwour, eu sei que vocês prometeram ir juntos, mas ele é o seu melhor amigo e sempre entenderá você, ele sempre entende. — novamente, ela sorri para mim.

E essa era a mais plena verdade. O Derek sempre me entendeu, desde o começo da nossa amizade há anos atrás, quando tínhamos seis e sete anos e eu perdi um dos meus carrinhos favoritos em cor vermelha no parque da cidade e o Derek me emprestou um dos seus, em cor azul, antes mesmo de saber quem eu era. Depois disso, a nossa amizade decolou e sempre brincávamos juntos no mesmo lugar até que, por sorte do destino, ele se mudou para o mesmo bairro que eu e hoje somos Nicholas e Derek, amigos e irmãos.

— Obrigado. — volto a encarar seus olhos após passar segundos procurando alguma falha em meu tapete branco e estalar meus dedos algumas vezes.

— Hoje será incrível. Amanhã também, e se não for, dias melhores virão e no final de tudo isso eu estarei aqui para te dizer que tudo valeu, não valeu? — ela volta a me acariciar no rosto enquanto eu concordo com a cabeça. — Muito bem, agora se apresse, eu preciso terminar de organizar as coisas.