[SEIS]: AINDA SOMOS NÓS

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NICHOLAS

Chaves. Pela primeira vez após semanas a minha mãe finalmente se lembrou de me entregar uma cópia nova para o meu quarto, já não era tão útil colocar um peso contra a porta para impedir que ela fosse aberta, foi assim que eu quebrei uma xícara que havia deixado em cima de um livro antigo que já não fazia parte da minha prateleira.

Logo depois de entrar no ambiente, faço a sua estreia, girando-a para deixar a porta travada e me dar outra vez a liberdade de estar sozinho, embora eu realmente esteja. Meu pai permanece no trabalho até o anoitecer, e a minha mãe ainda é a garota do tempo do telejornal. Ainda estou sentindo a fragrância do sabonete do colégio, aquele que é dado para todos que participam do time e eu tive que usar para o banho após esquecer o meu em casa.

Pelo menos não é o suor do treino.

Passo o restante do meu dia deitado, assistindo coisas aleatórias e afastando dos meus pensamentos qualquer coisa que me relacione ao colégio ou ao que estou vivendo com o Derek, mas isso não dura muito tempo, sequer funciona, porque eu me conheço bem o suficiente para saber que só ficarei em tranquilidade quando tudo estiver certo e não me incomodar mais. Até me sinto um pouco imaturo ou insensível por pensar assim, apenas no meu lado, não no dele, mas não levo isso como egoísmo, nem todas as pessoas lidam com consequências da mesma forma, Derek ignora, eu absorvo.

Mas não podemos viver um sem o outro.

É por isso que quando o céu começa a entrar naquele contraste rosado-alaranjado, eu me organizo para tomar uma das minhas sábias decisões. Sempre estaremos presente um para o outro, não importa o que aconteça ou a situação, prometemos isso.

Depois do banho e a troca de roupa, lá estou eu de pé em frente a sua porta, com uma palpitação forte no coração enquanto meus lábios parecem estar trêmulos. Nunca me senti nessa posição, não com o Derek, mas depois do ritual tudo se tornou em um mar de incertezas que acabara de transformar a nossa amizade em duas linhas, a reta que seguimos independente de qualquer coisa, e a curva, onde temos um desafio que impõe para nós dois uma grande responsabilidade.

Toco a campainha apenas uma vez, as outras duas são batidas na porta, como um entregador impaciente que ainda precisa trabalhar, e faço isso para provocar.

— Eu só vim pela pizza. — me adianto a dizer quando ele abre a porta e esboça seu sorriso logo depois, exibindo as covinhas em suas bochechas. — E por você também. — admito, retribuindo o sorriso enquanto ele revira os olhos e me dá espaço para entrar na sala.

— Agradeço por você ter vindo. — ele se encosta contra a porta, cruzando os braços próximo ao peitoral protegido pela regata branca. — Precisamos conversar, né? — Derek arqueia uma das sobrancelhas, ainda me encarando.

Eu concordo. Prosseguindo em direção ao único sofá da sala. Conheço esse ambiente tão bem, cada cômodo, o tapete cinzento onde já dormimos entre nossas jogadas de vídeo game, a poltrona do seu pai, onde sempre brigávamos para saber com quem ficaria – e ele sempre deixava eu ficar –, estar aqui é como estar em um segundo lar. Passamos tanto tempo juntos e temos pais tão próximos que as vezes eu realmente acredito que trocamos uma ligação maior que o amor e a amizade.

— Como você está? — questiono, acompanho-o se afastar da porta para me alcançar no sofá onde se senta um pouco afastado de mim. — Digo, com tudo isso que está acontecendo.

— Sinceramente? — ele faz uma pausa, puxando o ar pelos lábios. — Eu estou chateado, Nicholas. A gente conversou diversas vezes sobre essa situação, eu te perguntei inúmeras vezes se era algo que você queria fazer ou não, e tudo bem que eu insisti um pouco, mas eu sempre volto atrás para saber como você está, se está se sentindo confortável ou não, e você sempre, sempre, sempre permanece nessa sua indecisão. — observo a sua passagem de mão nos cabelos loiros bagunçados, organizando-os para trás. — Eu detesto isso, eu detesto quando você fica indeciso, você me beijou ontem por vontade própria, eu até tentei conversar sobre, mas foi você quem aceitou, foi você quem agiu por impulso e saiu correndo logo depois.

Depois do Ritual (romance gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora