[ONZE]: É APENAS UM BANHO

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DEREK

Nicholas assume o volante do carro. Me sinto incapaz de fazer qualquer outra coisa além de deitar com a cabeça contra o vidro escuro da janela. Me recordo das palavras do Adam antes de sairmos da festa, exigindo que tomássemos cuidado com o seu furacão vermelho já que o Nicholas ainda não tinha carteira de motorista e eu estava bêbado demais para fazer o percurso até a nossa casa. Permaneço calado da forma que ele exigiu antes de chegarmos aqui, e durante sua condução, toco meus lábios e a têmpora com o saco plástico repleto de gelos que ele me entregou antes de virmos embora.

Agora longe de toda a situação em que estávamos na festa, me sinto tolo e extremamente ingrato por não ter agradecido a ele por me tirar de uma enrascada. Não que eu não soubesse brigar, mas eu certamente me alteraria mais do que o necessário e acabaria fazendo uma grande besteira enquanto deixasse que o fluído das frustações da semana escorresse por meus punhos arrancando sangue de outra pessoa. Eu não sou assim.

Nicholas encara o caminho à nossa frente sem desviar o olhar para mim uma vez sequer, seus lábios permanecem naquela linha tênue onde poucas vezes ele abre caminho para a respiração enquanto eu o encaro por breves segundos naquele silêncio absoluto em que estamos. Eu reparo nele mais que o suficiente, nos dedos apertando com força o volante, na clara tensão ao franzir a testa ou coçar a nuca. Eu errei demais.

Quando tiro o meu próprio celular do bolso, cansado demais de ficar com o gelo nos lábios, vasculho minhas conversas até encontrar o meu pai, são breves movimentos na tela até eu avisar que eu iria dormir na casa do Nicholas por estarmos chegando tarde. Ele não me responde, também não espero resposta, sei que pelo horário, ele deve estar dormindo, ou se preparando para trabalhar outra vez – se já não estiver lá. –, é assim que funciona agora, ele não tem um horário fixo, sempre está livre quando o assunto é ganhar mais para nos dar uma vida melhor e nos erguermos outra vez.

Me sinto péssimo ao pensar nisso.

Foi o álcool que afastou meus pais. As brigas, o dinheiro gasto com bebidas e a obsessão por sempre querer mais e mais. Entramos em ruína graças as suas bebidas, e após ele abandonar o emprego e se dedicar somente a isso, a minha mãe foi embora, deixando-nos sozinhos com a minha tentativa de cuidar dele. E eu cuidei. Agora estamos bem, estamos nos recuperando e tendo aquilo que chamam de fé por um recomeço juntos outra vez, embora a minha mãe já não seja a mesma de antes para lhe dar uma segunda chance.

— Avisei ao meu pai que vou dormir na sua casa, assim ele não ficará preocupado. — quebro o silêncio dentro do carro, encarando as ruas quase desertas por quais passamos enquanto ele dirige. — Mas posso ir para casa, caso você prefira.

— Tudo bem. E não, já está tudo certo para você dormir comigo, não vou deixar você aparecer lá com esse cheiro de álcool depois de todos os problemas que o seu pai já teve, você entende disso melhor do que eu, Derek. — ele finalmente me encara. — E sua boca ainda está inchada.

— Eu sei. — deixo a respiração escapar.

Permaneço a encarar a paisagem à frente, o céu noturno repleto de estrelas. Estamos no auge da madrugada e isso não nos traz preocupação, a cidade é calma demais para qualquer receio em estarmos aqui.

— Você pode me falar o que o Justin queria com você? Eu realmente fiquei preocupado com o seu sumiço, Nicholas. — agora eu encaro ele.

— Babaquice. Era tudo o que ele queria. — observo a passagem de língua por seus lábios. — E eu transei com a Kimberly. — seu olhar fica fixo em mim por alguns rápidos segundos enquanto ele diz aquilo da forma mais aleatória e espontânea. — Eu sei, eu passei um pouco dos limites, mas foi ótimo. — Nicholas finalmente ri.

Depois do Ritual (romance gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora