[VINTE E SEIS]: LIBERDADE

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DEREK

Embora eu tente, não consigo tirar a conversa da Yuna com o Nicholas da minha cabeça. É estranho e louco ao mesmo tempo. Me sinto gélido e desconfortável, como se todo o mundo estivesse me sufocando, mas não de uma forma capaz de me fazer parar de respirar, apenas de congelar, de me permitir deixar de acreditar que sou capaz de mover as coisas. É estranho criar expectativas para algo, mesmo que algo ruim. Me sinto louco e enganado, mas bem o suficiente por tê-lo aqui comigo hoje. São sensações mistas o suficiente para que eu sequer entenda como estou de verdade e a única coisa que sei é que ativei o meu piloto automático que nesse momento, me guia sem que eu permita qualquer oposição do meu cérebro, isso é seguir o coração, é finalmente saber o que é a liberdade.

Minha mãe teve um ponto importante em toda a situação. Sem ela eu ainda seria o Derek fugindo do ódio, daquele rancor que foi imposto pelo Adam e aquele cacete de vídeo escroto do qual ainda estou protegendo o Nicholas. Estar longe de San Pier não melhora a situação, mas faz com que eu respire mais aliviado, sem mensagens. Senão fosse os conselhos de mãe e psicóloga, eu não teria confirmado para mim mesmo o que continuo tentando confirmar agora, o Nicholas não é só alguém, ele é o alguém. É alguém que eu mereço tentar, é alguém que embora eu ainda não saiba como definir, eu sinto algo, algo forte. Já não é pelo Adam, é por ele e por mim, é por nós dois e por esse algo que me faz querer abraça-lo constantemente na intenção de protege-lo do mal.

Estar na presença do meu pai me impedia de fazer isso. Sempre fui criado para entrar naquele molde grosseiro onde eu jamais poderia exibir tanto dos meus sentimentos. Meu pai sempre disse: "Seja um homem bom o suficiente para fazê-las pedir mais, mas não demonstre que está apaixonado, isso te quebra.", hoje vejo que ele está enganado, que eu estou enganado. Não demonstrar só me privou de encontrar outras formas de amor, mesmo que sem entender, mesmo tento ele como o meu primeiro garoto quando semanas atrás eu sequer cogitava beijar ou transar com um garoto. As coisas mudaram. Eu mudei e amadureci mais em poucas semanas do que poderia amadurecer em anos. O Nicholas me mudou, ele me fez abrir os olhos para enxergar que a realidade pode ser bem maior do que tudo aquilo que eu sempre imaginei, e embora isso ainda me assuste, agora eu sei o que quero. Eu quero tentar.

Estamos sentados diante daquela grande mesa de mármore branco onde eu havia ajudado a minha mãe a colocar tudo o que ela comprou para comermos e enquanto a conversa entre os dois rola a todo vapor, eu me pego perdido em pensamentos e observações, como por exemplo o exagerado tamanho do ambiente, o quadro de rosas na parede, uma escultura de mármore ao canto e o grande lustre acima de nós.

Nicholas está sentado ao meu lado, e ambos estamos de frente para a minha mãe que molha o macarrão com aquele molho branco antes de comer. Estou atento nas atualizações feita pelos dois, mas ainda constrangido pelo que aconteceu momentos atrás. Um dos problemas da minha mãe é sempre querer me colocar em um ambiente constrangedor, e insinuar que eu e o Nicholas tínhamos algo havia me constrangido ainda mais, porque de uma forma ou de outra, realmente tínhamos. Tínhamos e temos uma grande coisa.

— Derek Bernard Haze! — minha mãe chama, olhando para mim. — Estamos tentando dialogara aqui, mas se você não participar isso não vai dar certo. — ela reclama, olhando para mim enquanto toma um pouco do vinho, o típico vinho. Sempre vinhos.

— Desculpa, eu estava meio aéreo, pensando em algumas coisas.

— Jura mesmo? — ela debocha, tinha que ser minha mãe mesmo. — Eu nem percebi.

Reviro os olhos como eu já havia feito muitas vezes naquele dia. Para não ter que debater com nenhum dos dois, dou uma nova garfada no macarrão com molho.

Depois do Ritual (romance gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora