[QUATORZE]: PÉSSIMA CONFIRMAÇÃO

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DEREK

Ser pai é uma das coisas que já estava em meus planos. Planos para o futuro, não para o presente. Planos para daqui há cinco ou seis anos, quando a minha vida já estivesse totalmente estruturada e eu não precisasse de mais nada além da certeza de quem sou e de onde estou, mas infelizmente, a vida não segue o sentido que desejamos. É uma via de mão dupla, e às vezes, nessas vias acidentes acontecem.

Eu já não estava bem. Eu já me sentia babaca e estúpido o suficiente desde a partida do Nicholas que colocou um ponto com vírgula em nossa amizade, me deixando em um transe profundo do qual ainda não sei como sair. Eu deveria ser no mínimo um pouco mais responsável, no mínimo um pouco mais racional. Eu deveria pensar nele também, deveria fazer jus a tudo aquilo que conquistamos no decorrer dos nossos longos anos de amizade, deveria fazer jus a minha idade que geralmente dizem trazer o começo da maturidade, mas em pleno dezoito anos, me sinto como se tivesse quinze, indeciso, e agora, com medo.

— Você tem certeza? — a minha voz é embargada pelo sono. O Sol de San Pier sequer ameaçou surgir ainda. É madrugada e eu tenho um treino importante em algumas horas. — Digo, você não me ligaria a esse horário da madrugada se não tivesse toda certeza, mas geralmente esses testes apresentam erros.

Ouço a voz nervosa do outro lado, a péssima confirmação.

— O que faremos agora, Yuna? — minha respiração pesa. Estou nervoso também.

Ouço ela falar sobre o exame em mãos, marcando os dois traços bem evidentes que levaria em algumas horas para me dar certeza de que estava certa. Eu não queria que ela estivesse certa. Me recordo de termos usado preservativo na maioria das vezes, não precisaria de outra palestra do meu pai informando os perigos de fazer sexo sem preservativo, ele sempre me dizia que o menor do risco era engravidar uma garota, existiam milhões de doenças transmissíveis, me recordo de ser coerente ao uso para evitar cada uma delas, mas sei que vacilei uma ou duas vezes, vezes essas que certamente nos trouxe aqui.

Meu coração está gélido, meus lábios também.

— Eu sei. Eu entendo que é difícil. Olha, está tarde, discutirmos sobre isso agora não trará benefício algum, é melhor descansarmos, você principalmente, tente descansar e conversaremos melhor pela manhã, tudo bem? — ainda quero acreditar que nada é real.

Yuna fala mais algumas coisas, todas em um nível absurdo de preocupação.

— Certo. Eu te encontro pela manhã. — confirmo antes de desligarmos.

Visualizo aquela imagem no meu celular quando a ligação é encerrada. Estamos juntos naquela foto antiga do aniversário. Nicholas esboça um sorriso, eu também. Ele é a única pessoa com quem eu contaria nesse momento. Meu único refúgio, meu único amigo verdadeiro, a única pessoa que me daria a clareza ao invés de socar a minha cara, embora ele devesse.

Eu errei, mas talvez precisemos desse espaço.

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Depois do Ritual (romance gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora