Prólogo

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O estridente toque do telefone tirou-me a atenção de algo... Não tão importante; uma mensagem brilhante e insistente no meu celular.

Não era minha função atender ligações na delegacia e sim, somente pelo telecomunicador fixado no bolso pequeno da farda policial que eu vestia, larga e de um preto fosco.

Respirei fundo procurando a paciência que quase se esvaia em relação à insistência. Olhando a tela quase ofuscante pela luz forte vinda do visor claro até demais, numa delegacia municipal vazia e mal iluminada, buscava esta paciência fitando as paredes de apenas divisórias de janelas grandes de vidros lisos e portas com a maçaneta um tanto baixa em relação ao chão. Estava lá, eu, encostada na mesa como sempre; uma mania de quem nunca tem tempo de sentar e descansar as pernas.

E novamente um assobio.

Irritante assobio.

Teria que retirar esse som e colocá-lo num modo silencioso. O barulho era algo que aflorava totalmente o lado furioso de mim.

Deslizando a tela do eletrônico para baixo retirei o som irritante e enjoativo.

Sam continuava insistente. E sabia que ele não desistiria fácil.

Eu não poderia ter a satisfação e o prazer de recebê-lo em minha casa ao anoitecer, como ás vezes... Ocorria. Dona Christina estaria lá de prontidão na cozinha ou atrás da porta pronta pra me dar um sermão de como deveria me portar em relação a um cara que segundo ela: Só estava a se aproveitar de mim numa relação um tanto casual; o que seria uma verdade suprema sobre nós dois, e interessante por três longos meses.

E novamente o telefone fixo da sala do meu superior tocou, levando meu foco para o aparelho antigo de cor branca amarelada.

Um, dois, três, quatro toques.

Desfilei devagar até a única sala com cortinas blecaute, guardando o meu celular de não última geração no bolso de trás.

A cada toque daquele maldito telefone espiava ambos os lados à espera de alguém prontificar-se e acabar com aquele incômodo. Esperava que o chefe de polícia surgisse do nada para atender, entretanto percebi que teria de ser pra frente e ver o que queriam e torcer para não ser nada pessoal.

Apressei o passo, abrindo a porta e deixando-a fechar-se atrás de mim.

— Alô? — Atendi casualmente.

Ouve uma pausa.

— Delegado Whinsherter? — A voz surgia com uma dúvida, imaginei ser por conta da minha voz feminina.

— Ele não se encontra, terá que ligar outra hora. — Atirei direta batucando os dedos sobre a mesa que já me encontrava apoiada.

— Não, não... Você é uma policial? — Indagou. Havia algo estranho na forma que ele pronunciava cada palavra, a voz masculina parecia trêmula e relutante.

— Sim, pode dizer senhor. Tem algo para dizer, certamente. — Instiguei.

Pelo silêncio ele parecia estar assentindo.

—Tenho uma denúncia a fazer. — Disse vagarosamente.

A lentidão de suas palavras fez-me acomodar-se ainda mais na mesa de madeira escura onde se concentrava o telefone.

— Pode dizer, não precisa se identificar.

Uma curiosidade abateu-se sobre mim, queria perguntar o motivo de ligar diretamente para o chefe de polícia em vez de denunciar como outros civis pelo número próprio pra isto.

A InfiltradaWhere stories live. Discover now