[TRINTA E SEIS] BEM-VINDOS À ANCHIETA

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NICHOLAS

Minha mãe estava me enchendo dos piores sermões desde que cheguei em casa. Minha briga com o Derek não foi digerida de uma maneira positiva, e o meu pai continuava encontrando motivos para dizer que o Derek estava certo, provando mais uma vez que ele era o filho perfeito que ele almejaria em ter, e isso fazia um belo sentido. Eu nunca liguei para carros, mas meu pai e o Derek sempre conversaram sobre diversos modelos, ele seria a pessoa perfeita para dar seguimento ao legado da família, assumindo a empresa que eu não quero. Sei que errei em ter batido nele, mas a pressão e a culpa estava me deixando mais enlouquecido que qualquer desafio do ritual. Uma coisa era lidar com a chantagem do Adam, e outra, extremamente diferente e mais difícil, era lidar com a desaprovação dos meus pais embora ambos dissessem a todo momento que estavam dizendo tudo aquilo por me amar e se preocupar comigo. Se ao menos eles soubessem quem o Derek se tornou e por tudo o que estou passando, tenho certeza que agora a situação seria outra.

Lorenzo está me esperando do lado de fora naquela picape preta que o seu pai emprestou para que fizéssemos uma viagem para fora dos limites da cidade. Ele insistiu nisso, disse que faria bem para nós dois. E a minha vinda para casa também foi algo da ideia dele, segundo o Lorenzo, eu precisava conversar com os meus pais e tomar um banho para trocar de roupa, embora eu quisesse ficar com as peças dele e tivesse me recusado a devolver a camisa da sua banda que de qualquer forma já era um presente para mim.

Olhando no espelho do meu banheiro, consigo ver o quanto mudei em pouco tempo. Meus olhos azuis estão mais fortes, como se as situações estivessem me obrigando a deixar a calmaria do mar para me transformar em um tsunami. Estou usando aquela camisa preta do Wiped Out, meu álbum favorito do The Neighbourhood. Lorenzo sugeriu que fôssemos de bermuda devido ao calor que agora fazia, nem parece que passamos por toda aquela chuva toda. Típico de San Pier. Meu cabelo aparenta estar maior, o suficiente para que eu deseje corta-lo outra vez, e em meu pescoço está aquele colar que estamos dividindo. Ele tem sido meu amuleto da sorte agora.

— Espero que o passeio sirva para você refletir sobre suas decisões. — minha mãe alfineta quando desço as escadas e paro no último degrau para terminar de amarrar os cadarços do all star em cor preta. — E nada de dormir na casa do Lorenzo hoje, quero você aqui.

— Sem problemas. — é o que digo.

Não tenho mais coragem de lutar. Quero manter o mínimo de tranquilidade possível.

Ela não revida também. Não pode se estressar. A barriga está cada vez mais evidente e eu sequer imaginei um bom nome ainda. Cogitei inúmeras coisas, mas nenhum me atraiu. Vou gastar esse tempo ao ar livre para fazer isso. Vou pensar, refletir.

Vou estar longe dele também. Quanto mais longe melhor.

Lorenzo está do outro lado da pista quando saio de casa, ainda dentro do carro, com aquele óculos de sol escuro que deixa ele com cara de astro de Hollywood. Me pergunto como ele consegue usar aquela jaqueta jeans nesse calor, pelo menos não é a de couro.

— Imaginei que não fossemos sair hoje, Nico. — ele faz piada, abrindo a porta para eu entrar. — Não temos horas pra voltar, né?

— Eu só preciso dormir em casa dessa vez. — dou de ombros.

— Ótimo. Minhas costas não aguenta dormir no colchão de chão outra vez. — ele ri. — Coloque o cinto, janelas fechadas. Prometo te deixar em casa, mas não teremos limite de partida hoje. — faço tudo o que ele me pede enquanto o carro é ligado e ele acelera.

A paisagem vitoriana de San Pier vai passando pela janela. Poucos prédios, muitas casas, a praça central, a floricultura. Girassóis. Girassóis agora são lembranças do Lorenzo para mim, e a forma que eles brilham, tão amarelos, me fazem recordar das músicas que ele me dedicou. Eu sou tão brilhante. Ele também é.

Depois do Ritual (romance gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora