— E na verdade fui eu quem te escolhi como melhor amigo, você só falou comigo depois de eu ter perdido o meu carro. — tomo defesa da situação.
— Tudo bem, você ganhou. — Derek deixa de me encarar, levando o celular para as mãos. — Mas agora vamos para o que interessa, pizza? — ele inclina a cabeça para o lado, me encarando.
— Calabresa e frango com temperos. — relembro o sabor.
Na maioria das vezes, são momentos assim que me trazem a sensação de que ainda somos nós, Nicholas e Derek, irmãos, amigos, confidentes por toda uma vida, nada vai mudar.
O resto da tarde passa rápido, tão rápido que sequer percebemos o horário em que a pizza chega e só nos damos conta que já anoiteceu quando não conseguimos comer nenhum outro pedaço do que resta e tudo vai parar direto na geladeira para a madrugada ou o dia seguinte.
Agora é o brilho da lua que atravessa a janela da sala, trazendo consigo uma leve brisa, típica das noites de San Pier, mesmo assim, ainda está quente. Quando finalmente nos sentimos leves o suficiente para fazer qualquer outra coisa além de ficarmos deitados no tapete da sala jogando uma minúscula bola de ping pong um para o outro, decidimos que é o momento de irmos para o videogame. Cinco partidas de futebol, Derek vence três.
Para não cairmos no tédio, eu aceito a sua sugestão de fazer algo que não fazíamos há tempos, desde a nossa última viagem juntos para a casa da sua mãe, em Vegas. Incentivado pelo filme que tínhamos acabado de assistir, Derek pega a lista telefônica do outro lado da sala e disca o primeiro número que encontra, voltando para se sentar ao meu lado enquanto o som da chamada é emitido para passarmos o primeiro trote do final de tarde. Ao todo são quatro, isso porque no último decidimos usar o meu celular e por falta de checagem, o meu número não havia sido colocado como confidencial, o que resultou em um "Parem ou eu vou acionar a polícia, estou vendo o número de vocês.', do rapaz do açougue.
— Você é péssimo, Danvers. — Derek diz entre o riso, e eu sequer tenho forças para responde-lo enquanto tento controlar a minha risada. — Íamos parar na prisão por sua culpa, grande amigo você é.
— Não tenho culpa se você não fez a checagem antes. — culpo ele antes de comer uma das poucas batatas fritas que restam no pote. — O que vamos fazer agora? — olho para o lado, encarando o seu rosto que me encara também, sentados lado a lado ainda no chão, com nossas costas contra o sofá.
— Vem. — ele se levanta, me puxando pela mão logo depois.
Me sinto nostálgico. É como se estivéssemos vivendo um filme de tudo aquilo que passamos quando menor e deixamos para trás quando as responsabilidades vieram. As noites de videogame, as besteiras pedidas pelo celular, os trotes, a nossa conexão e as risadas que seguíamos dando por horas e horas até a nossa barriga doer e não termos forças para continuar a fazer algo engraçado ou falar algo tosco demais.
Essa é uma bela definição de lar, estamos em casa um com o outro.
Derek solta a minha mão logo quando eu me levanto para acompanha-lo pelo resto da casa, passando pelo corredor de divisão entre o quarto do seu pai, o banheiro e finalmente a cozinha onde ele abre a grande porta que faz conexão para o quintal. Dessa vez, a luz dos postes do quarteirão brigam contra a luz da lua para iluminar os nossos corpos deitados por cima do gramado.
Eu observo as estrelas, me questionando se eu desejaria alguma coisa além disso, o silêncio confortável, a paz, o sentimento de que pela primeira vez desde que o ritual começou, as coisas estão nos lugares.
— Ei. — falo quase que em um sussurro, ainda olhando para cima.
— O quê? — Derek responde, também em baixo tom.
— Se você pudesse pedir alguma coisa ao universo nesse exato momento, o que você pediria? — mantenho meus lábios entreabertos depois da pergunta, tendo a sensação de estar respirando de uma forma mais equilibrada enquanto a brisa fria passeia por meu rosto e até bagunça os meus cabelos em alguns momentos.
— Nada. — encaro ele assim que o seu olhar chega em mim, meus olhos azuis em direção a seus olhos verdes. — Eu tenho um bom pai, embora tenhamos problemas, um bom amigo, uma boa casa, estamos no último ano e tudo está se tornando intenso e positivo, o que mais eu poderia querer? — ele mantém o olhar.
— Aquele carro da garagem? — arqueio a minha sobrancelha durante a pergunta.
— Eu trocaria ele facilmente por tudo isso que eu acabei de citar.
Por segundos, ele me deixa sem palavras. E por segundos, apenas voltamos a encarar o céu outra vez enquanto uma sensação estranha percorre todo o meu corpo e me obriga a sorrir discretamente.
— Obrigado por ser tão incrível. — finalmente sussurro de volta.
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Depois do Ritual (romance gay)
Teen Fiction[HISTÓRIA COMPLETA] Todos os anos antes do retorno das aulas, os alunos da Zaco Beach School se reúnem em volta de uma fogueira para participar do tão famoso Ritual na Praia, durante muito tempo o Ritual foi algo extremamente normal, até chegar a ve...
[SEIS]: AINDA SOMOS NÓS
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