[SEIS]: AINDA SOMOS NÓS

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— E na verdade fui eu quem te escolhi como melhor amigo, você só falou comigo depois de eu ter perdido o meu carro. — tomo defesa da situação.

— Tudo bem, você ganhou. — Derek deixa de me encarar, levando o celular para as mãos. — Mas agora vamos para o que interessa, pizza? — ele inclina a cabeça para o lado, me encarando.

— Calabresa e frango com temperos. — relembro o sabor.

Na maioria das vezes, são momentos assim que me trazem a sensação de que ainda somos nós, Nicholas e Derek, irmãos, amigos, confidentes por toda uma vida, nada vai mudar.

O resto da tarde passa rápido, tão rápido que sequer percebemos o horário em que a pizza chega e só nos damos conta que já anoiteceu quando não conseguimos comer nenhum outro pedaço do que resta e tudo vai parar direto na geladeira para a madrugad...

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O resto da tarde passa rápido, tão rápido que sequer percebemos o horário em que a pizza chega e só nos damos conta que já anoiteceu quando não conseguimos comer nenhum outro pedaço do que resta e tudo vai parar direto na geladeira para a madrugada ou o dia seguinte.

Agora é o brilho da lua que atravessa a janela da sala, trazendo consigo uma leve brisa, típica das noites de San Pier, mesmo assim, ainda está quente. Quando finalmente nos sentimos leves o suficiente para fazer qualquer outra coisa além de ficarmos deitados no tapete da sala jogando uma minúscula bola de ping pong um para o outro, decidimos que é o momento de irmos para o videogame. Cinco partidas de futebol, Derek vence três.

Para não cairmos no tédio, eu aceito a sua sugestão de fazer algo que não fazíamos há tempos, desde a nossa última viagem juntos para a casa da sua mãe, em Vegas. Incentivado pelo filme que tínhamos acabado de assistir, Derek pega a lista telefônica do outro lado da sala e disca o primeiro número que encontra, voltando para se sentar ao meu lado enquanto o som da chamada é emitido para passarmos o primeiro trote do final de tarde. Ao todo são quatro, isso porque no último decidimos usar o meu celular e por falta de checagem, o meu número não havia sido colocado como confidencial, o que resultou em um "Parem ou eu vou acionar a polícia, estou vendo o número de vocês.', do rapaz do açougue.

— Você é péssimo, Danvers. — Derek diz entre o riso, e eu sequer tenho forças para responde-lo enquanto tento controlar a minha risada. — Íamos parar na prisão por sua culpa, grande amigo você é.

— Não tenho culpa se você não fez a checagem antes. — culpo ele antes de comer uma das poucas batatas fritas que restam no pote. — O que vamos fazer agora? — olho para o lado, encarando o seu rosto que me encara também, sentados lado a lado ainda no chão, com nossas costas contra o sofá.

— Vem. — ele se levanta, me puxando pela mão logo depois.

Me sinto nostálgico. É como se estivéssemos vivendo um filme de tudo aquilo que passamos quando menor e deixamos para trás quando as responsabilidades vieram. As noites de videogame, as besteiras pedidas pelo celular, os trotes, a nossa conexão e as risadas que seguíamos dando por horas e horas até a nossa barriga doer e não termos forças para continuar a fazer algo engraçado ou falar algo tosco demais.

Essa é uma bela definição de lar, estamos em casa um com o outro.

Derek solta a minha mão logo quando eu me levanto para acompanha-lo pelo resto da casa, passando pelo corredor de divisão entre o quarto do seu pai, o banheiro e finalmente a cozinha onde ele abre a grande porta que faz conexão para o quintal. Dessa vez, a luz dos postes do quarteirão brigam contra a luz da lua para iluminar os nossos corpos deitados por cima do gramado.

Eu observo as estrelas, me questionando se eu desejaria alguma coisa além disso, o silêncio confortável, a paz, o sentimento de que pela primeira vez desde que o ritual começou, as coisas estão nos lugares.

— Ei. — falo quase que em um sussurro, ainda olhando para cima.

— O quê? — Derek responde, também em baixo tom.

— Se você pudesse pedir alguma coisa ao universo nesse exato momento, o que você pediria? — mantenho meus lábios entreabertos depois da pergunta, tendo a sensação de estar respirando de uma forma mais equilibrada enquanto a brisa fria passeia por meu rosto e até bagunça os meus cabelos em alguns momentos.

— Nada. — encaro ele assim que o seu olhar chega em mim, meus olhos azuis em direção a seus olhos verdes. — Eu tenho um bom pai, embora tenhamos problemas, um bom amigo, uma boa casa, estamos no último ano e tudo está se tornando intenso e positivo, o que mais eu poderia querer? — ele mantém o olhar.

— Aquele carro da garagem? — arqueio a minha sobrancelha durante a pergunta.

— Eu trocaria ele facilmente por tudo isso que eu acabei de citar.

Por segundos, ele me deixa sem palavras. E por segundos, apenas voltamos a encarar o céu outra vez enquanto uma sensação estranha percorre todo o meu corpo e me obriga a sorrir discretamente.

— Obrigado por ser tão incrível. — finalmente sussurro de volta. 

Depois do Ritual (romance gay)Where stories live. Discover now