Acordei e o quarto estava um pouco escuro, não me mexi muito, pois não queria acordá-lo, então fiquei ali piscando mil vezes, esperando o sono ir embora, passada a sensação abri bem os olhos e virei a cabeça para o lado. Ele não estava lá.

Passei os olhos ao redor do ambiente e encontrei aquela figura morena parada em pé, seus olhos fitavam a rua através da janela, suas mãos alisavam seus braços e o sol fraco iluminava seu rosto, estava chovendo, uma sensação fria e gostosa tomava conta do quarto, talvez por isso Filipe estava esfregando os braços.

Lentamente levantei e vi que ele não havia percebido meus movimentos, fui até o armário fazendo o mínimo de barulho possível e peguei um dos meus casacos de zíper com capuz, vesti a camisa branca que havia usado para ir até a casa dos meus avós e fui andando até o meu namorado.

Coloquei a mão em sua cintura e ele pareceu tremer com o susto. Logo me olhou, eu estava sorrindo, ele fez o mesmo quando me viu, seus olhos estavam longe dali e eu só queria saber o lugar para poder lhe acompanhar. Ergui a outra mão e lhe mostrei o casaco, o ajudei a vestir a peça e depois lhe puxei para a cama. Ficamos sentados um de frente para o outro.

- Bom dia – Ele falou forçando um sorriso.

- Bom dia – Disse alisando o rosto dele.

- Então, você quer escovar os dentes, comer, tomar banho? Se quiser tudo bem – Ele perguntou, parecia querer ganhar tempo.

- Não, não foge do assunto Filipe, eu preciso saber logo o que está acontecendo – Falei um pouco mais seco do que queria.

- Não estou fugindo – Ele sorriu – É que depois que eu falar você não vai querer fazer nada disso!

O que estava acontecendo?

- Preciso que você me diga que não vai me odiar ou ter nojo de mim depois que eu te contar – Ele falou não me olhando. Senti um aperto no peito.

- Fica tranquilo – Eu disse segurando suas mãos.

- Tudo bem, então vamos lá – Ele respirou fundo.

*

Seus olhos já estavam cheios de lágrimas antes mesmo dele começar a falar, seu foco estava em nossas mãos, ele parecia lembrar algo que certamente lhe causava muitos sentimentos ruins, acariciei seus dedos lentamente, na intenção de lhe dar apoio.

- Lembra quando nos conhecemos? Tínhamos onze anos e a primeira vez que nos vimos foi no elevador – Ele disse me fazendo sorrir, balancei a cabeça na positiva – Eu havia acabado de chegar para morar com meu pai e não foi à toa, arrumei um verdadeiro problema com minha mãe quando decidi vir morar com ele.

- Por quê? – Eu indaguei com curiosidade.

- Porque eu não dei motivos para ela, só disse que queria, não podia mais ficar lá, morando com ela e com meu avô – Ele disse sorrindo ironicamente – Mal ela sabia, vim morar aqui e tudo estava seguindo bem, alguns fins de semana eu ia pra casa da minha mãe, passava férias lá também – Ele parou de falar por algum tempo.

- Lipe – Eu o chamei e ele pareceu voltar de seus pensamentos.

- Lembra quando estávamos no oitavo ano e você ficou todo preocupado comigo, querendo saber o que estava acontecendo? – Ele perguntou rapidamente, sorriu e eu balancei a cabeça positivamente – Então, aquelas férias foram péssimas Edu, péssimas, todas as minhas fugas foram vãs.

- O que aconteceu? – Pedi com certa aflição.

- Minha mãe trabalhava muito e meu avô ficava cuidando da empresa dele, eu sempre ficava sozinho – Ele tomou ar e começou a chorar – Até que um primo meu passou há ficar mais tempo lá em casa, e depois de dois meses frequentando diariamente a nossa casa ele

DE AMIGO PARA NAMORADO - DescobertasWhere stories live. Discover now