Capítulo 3 - Medo

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Numa fração de segundos eu já não estava mais na sala, apenas fui para a cozinha, se existe uma forma de dizer que humanidade tem salvação só poderia ser representada por um brigadeiro, chocolate e granulado juntos, não conseguia imaginar nada mais perfeito.

Comi, tomei banho, arrumei meu quarto, coloquei a roupa suja para lavar, liguei o rádio e fiquei cantando no meu quarto.

Era domingo, eu estava louco para ir falar com Filipe, mas fiquei me segurando para não parecer desesperado, deviam ser quase três horas da tarde, coloquei uma bermuda preta e uma camisa de malha branca, sabia que ele gostava daquela roupa, penteei o cabelo, pus um perfume, estava super sorridente, esperei meu pai ir para o quarto e saí.

A distância entre nossos apartamentos era de apenas um andar, mas naquele momento parecia uma infinidade, parei em frente a porta e era possível ouvir um samba vindo de dentro do imóvel, Filipe amava arrumar a casa ouvindo música. Toquei a campainha. Allan abriu a porta e eu não consegui deixar de sorrir.

- Oi Allan, boa tarde, posso falar com o Filipe? – Pedi enquanto esfregava as mãos, eu estava super ansioso.

- Olha, ontem ele saiu com uns amigos da escola e depois ele foi pra casa de um amigo, acho que ele volta amanhã – Allan falou com um copo de cerveja na mão.

Broxei.

Minha voz queria embargar e senti meus olhos pesarem um pouco, acho que até tive um princípio de vertigem, mas tentei ser firme.

- Sabe se foi pra casa do Caio? – Perguntei.

- Isso aí mesmo, foi aniversário dele ontem eu acho – Allan falou – Quer entrar e tomar uma gelada?

- Não não – Falei rápido – Obrigado Allan.

Ele sorriu para mim e voltei para o elevador, fiquei algum tempo parado dentro da cabine, não queria voltar para o meu quarto, não queria ficar na rua, eu apenas queria que Filipe saísse da casa do Caio e voltasse para ficar comigo.

Deitei na cama, fiquei relaxando e vagueando. Eu estava chateado com a situação, não era raiva, mas foi uma sacanagem sem fim, agora que eu estava gostando dele e disposto a tentar fazer algo diferente Filipe resolvia ir para a casa do Caio.

O que dizer desse safado? Porque era isso que ele era, apareceu de uma hora para a outra e foi levando meu amigo, não era nada justo,uma atitude covarde da parte dele, chegar na surdina e começar a conquistar o que era meu.

Caio era um menino da mesma altura que Filipe, tinha o cabelo castanho bem baixinho nas laterais e no alto era penteado para a esquerda, seus olhos eram claros, ele era magro e elegante, nadava perfeitamente bem pelo que eu havia escutado das conversas deles na hora do intervalo.

Parecia ser inteligente e era muito prestativo, sempre o via ajudando os professores, sendo voluntários nas tarefas de aula, pra completar ele se juntou a Filipe e Ritinha, que era a mais inteligente da sala e ele o mais dedicado.

Será que eles estariam juntos? Dormindo na mesma cama? Um dando comida na boca do outro? Será que se beijaram? Estavam deitados de mãos dadas ouvindo música?

Eu não queria pensar naquilo, não mesmo. Ritinha era muito sincera, ela não mentiria para mim, mas talvez ela não estivesse sabendo das “novidades”, quando queria Filipe era a pessoa mais reservada do mundo, poderia ficar calado sobre algo por meses, talvez anos.

O que Caio tinha que eu não tinha? Porque eu tinha pernas torneadas, braços definidos, um tanquinho muito legal, bumbum atraente, meu cabelo era show e meu sorriso era demais, aquele lá só tinha olhinho claro e não era feio.

DE AMIGO PARA NAMORADO - DescobertasWhere stories live. Discover now