Que saudades que eu estava dele e dos seus fios encaracolados, das risadas e principalmente daqueles olhos. Eu não estava com saudade dele, não, jamais, estava com saudades da nossa amizade e dos nossos momentos de companheirismo.

Como não tinha nada para fazer eu fui dormir, liguei o ar condicionado e deitei na cama, rolei um pouco no colchão procurando uma posição para dormir e finalmente consegui adormecer.

Eu estava num lugar muito bacana, não sabia identificar direito onde era, parecia um jardim, muito claro, mas havia árvores e um rio que tinha um tom claro, de trás de uma árvore vi Filipe sair e vir na minha direção, ele tinha uma tiara de flores na cabeça e seus olhos brilhavam.

Senti meu corpo tremer e tudo em volta girava e brilhava, mas não nos deixava tontos, pois continuávamos parados, então senti suas mãos tocarem meu rosto e as minhas irem parar na cintura dele, que me abraçou, fazendo meu corpo tremer, parecia que ele estava com uma roupa inteiramente feita de rendas e pétalas.

Então eu acordei. Comecei a sorrir enquanto esfregava meu cabelo, logo depois deixei o corpo cair na cama. Foi o sonho mais lindo que eu já tive na vida, pus o travesseiro no rosto e comecei a chorar. De uma vez por todas eu queria o Filipe ali.

Mas era difícil, ele não me queria da forma comum, ele queria muito mais de mim e eu estava muito confuso, aquela hipótese estava se tornando menos estranha, eu e Filipe tínhamos uma intimidade absurda, eu sabia tudo que ele gostava e ele sabia tudo o que eu não gostava.

Abri a pasta de imagens do meu computador e comecei a olhar nossas fotos, tinham muitas com ele, comecei a olhar e pensar, o medo apertava meu coração, gostar de Filipe não era o problema, a questão era se eu realmente tentasse ficar com ele como seriam nossas vidas.

Só de imaginar as pessoas na rua rindo de mim, me olhando de forma torta, me fazendo sentir medo de sofrer agressão, fazendo piadinhas e gracinha quando eu for num lugar, me condenando quando eu estiver de mãos dadas ou der um selinho. Só de imaginar tudo isso eu sentia um misto de vergonha e de raiva.

Que sufoco era aquele que eu sentia no peito? Considerando a hipótese de gostar de Filipe e tentar algo com ele, acabaria sendo muito estranho. Eu não me via beijando-o ou fazendo outras coisas, mas dava pra imaginar ele de mãos dadas comigo no meu quarto, me ajudando a escolher uma roupa, me assistindo jogar futebol, indo ao cinema comigo, dando uma volta no clube ou me ajudando nas matérias.

Parei e refleti, comecei a rir. Filipe já fazia aquilo tudo comigo, ele já era praticamente meu namorado, só não tínhamos as intimidades sentimentais e sexuais.

Eu estava rindo, menos mal, acho que estava voltando ao normal, comi um resto de macarrão com linguiça que estava na geladeira, bebi um pouco de suco e fui dormir, estranhamente eu tinha um sorriso no rosto, ficava rindo e pensando coisas aleatórias. Mas uma coisa eu tinha que fazer, falar com Filipe.

Uma música veio em minha mente, eu lembrava de minha mãe escutando-a, só sabia um trecho, então cantarolei meio enrolado.

E nessa loucura de dizer que não te quero
Vou negando as aparências, 
Disfarçando as evidências
Mas para que viver fingindo
Se eu não posso enganar meu coração

No dia seguinte acordei e meu pai estava na sala tomando café e assistindo desenho animado, meu pai sempre gostou desses heróis antigos, gibis, filmes e jogos de ação.

- Bom dia – Falei com cara ainda amassada.

- Bom dia filhão, papai já comprou o pão, achei você meio triste ontem então comprei aquele brigadeiro grande que vende lá na padaria – Meu pai falou tentando me agradar.

DE AMIGO PARA NAMORADO - DescobertasDonde viven las historias. Descúbrelo ahora