Capítulo 2: Pedido de socorro

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"Tequila? Martini? Whisky?" Me oferece algumas opções.

"O que você decidir está bom." Dou uma risada curta, depois encaro a pequena sala particular que estamos, área privada dos funcionários, daqui se enxerga a cozinha.

"Já volto loirinha!" Reviro os olhos em resposta.

Me permito espiar a cozinha daqui mesmo, pessoas se movimentam de um lado para o outro. Caio retira seu avental enquanto sussurra algo no ouvido de uma mulher loira, bem alta e pelo que parece ser a chefe de cozinha, ela ri para ele amigavelmente, depois ele sai do meu campo de visão e a loira continua focada no seu trabalho.

Apesar de todos estarem sob uma pressão típica de cozinha lotada com pedidos para serem entregues, parecem felizes, outros tensos, mas nada disso se compara ao meu estado emocional, um turbilhão de novas emoções se misturam dentro de mim, com cores e efeitos diferentes. O sentimento de rejeição está ficando cada vez mais ameaçador, dói ser traída e trocada.

Se não fosse pelo Caio, nessa altura do campeonato todos estariam me atribuindo um novo apelido, que se espalharia facilmente nos corredores da escola. Nem quero pensar na criatividade que os alunos iriam ter.

Caio retorna para o pequeno cômodo.

"Aqui está! Foi mal a demora, meu expediente terminou e resolvi tirar logo aquele bagulho de mim." Caio me entrega a bebida, ele se decidiu por tequila.

Bebo todo líquido de uma só vez e sinto o álcool passar pela garganta como fogo. Caio tenta segurar o riso, enquanto minha cara se deforma com algumas caretas.

Ele dispara novamente para a cozinha. Aproveito para observá-lo com mais afinco.

Estudamos juntos desde o primeiro ano do ensino médio, e era como se todo esse tempo não dividíssemos a mesma sala. Sua inexistência na maioria das aulas colaboram.

Os cabelos foram o que mais me chamou atenção, sua cabeleira desalinhada o deixa com um ar de "largado", e o desleixo parece acender uma placa luminosa com a palavra "rebeldia" que no final das contas acaba sendo uma boa dose de encrenca. E estou começando a convencer-me que nem toda encrenca é ruim. Seria hipocrisia não afirmar que essas tatuagens e corpo atlético fode com um psicólogo de qualquer garota.

"Se quiser posso te dar uma carona até sua casa." Caio oferece rindo, alguma coisa no comportamento dele é desarmônico com sua aparência, fica rindo o tempo todo, se esforçando para ser legal. Aí tem...

"Não." Respondo de supetão.

Minha resposta o pega desprevenido, findando os risos. Ainda estou me decidindo se ele fica mais lindo animado ou zangado.

"Não quero ir pra casa." Emendo na resposta.

Por algum motivo ele encara a pista de dança.

"Prefere ficar aqui?" É quase palpável sua decepção, os olhos sinistramente semicerrados.

"Não. Eu quero sei lá... Me leva com você, não quero ir para casa." Minha resposta o faz invadir um pouco do meu espaço, eu gelo por dentro, pela proximidade sem toque.

"Que tal um barzinho mais reservado?" Sugere, me fazendo assentir exageradamente.

Não é a primeira vez que tomo uma decisão impensada. Normalmente sou movida por impulso, e minha cota de confusão parece não ter fim. Mas quer saber? Foda-se. Se eu acabar dando pra ele também não será o apocalipse, quero mesmo é vadiar.

"Então vamos de uma vez." Caio me puxa pelo braço, o acompanho me sentindo estranha.

Por sorte saímos pelos fundos.

O clima está ameno, pinheiros margeiam o interior do estacionamento e é possível visualizar vários corpos se mexendo ao ritmo das caixas de som de um carro automotivo. Nesse curto espaço de tempo, sinto-me inquieta, ainda sem acreditar fui feita de trouxa. Tudo poderia ser um sonho ruim, como uma nuvem passageira que surge no céu do nada e posteriormente se dissipa, mas não é, a vida bem que adora pregar peças, e as pessoas então...

Pessoas alegres bebendo, dançando, namorando... E meu "namorado" lá dentro aos beijos com a garota que mais odeio: Laila Millar! A filhinha do diretor.

Caio chama minha atenção. Me resgatando dos pensamentos depreciativos.

Ele me olha como se eu sofresse de algum retardamento, e me entrega um capacete.

Nunca andei numa máquina suicida dessa, o alto índice de mortalidade nessas coisas me faz entrar em pânico. Subo mesmo assim.

"Pode se segurar em mim." Caio dá partida e eu me atraco nele com toda minha força.

Mantenho os olhos fechados durante o atalho para a morte, este garoto só pode ser louco ou tá querendo companhia para ir pro inferno, sem condições, a gente voo literalmente.

Levou aproximadamente quinze minutos até ele parar num estacionamento e desligar essa coisa. O bar parece bom, tranquilo e com música ao vivo, é possível se sentar do lado de fora e apreciar a brisa fresca vindo do parque, um lugar ideal para quem gosta de conversar.

"Você está pálida." Comenta com gozação.

"Se quer se matar, me avisa que eu pego um Uber." Rio do nada, talvez a bebida esteja começando fazer efeito.

Nos sentamos um de frente para o outro, o garçom anota nosso pedido e sai.

"Sabe ele era meu amigo. Acho que o único que tive até hoje." Começo falar, e percebo o peso que existe em cada palavra.

"Quem o garçom?" Caio pergunta se virando na direção do estabelecimento e encarando a fachada.

"Não. O cachorro do Fred." Respondo impaciente, só agora me dando conta da ambiguidade.

"Sei como é." Responde desinteressado e olhando alguma coisa no celular.

"Não. Você não sabe. O que você sabe perfeitamente é matar aula." Que garoto mais ensosso.

"Eu não mato aula." Rebate rindo em um tom mais elevado. "Ela que me mata."

O garçom chega com as bebidas e percebo os olhos escuros de Caio sondando meu rosto. Tudo bem! Admito que ele é um pedaço de mau caminho, mas o Fred é mais bonito.

"Você deve ser o orgulho dos seus pais." Disparo, querendo ser tão insensível quanto ele foi comigo.

"Bem por aí." Concorda sombriamente. "Você sabe... Do mesmo jeito que você deve ter orgulho de sua 'amizade' com seu adorável namorado." Ele ainda faz sinal de aspas para enfatizar.

"Seu grosso." Engulo a bebida subitamente, quase me engasgando.

"Rapa até que enfim um elogio." Dá risada, depois bebe a própria bebida. "Hum, Alice eu preciso de uma mãozinha sua. Só você pode me salvar." O desespero é tangível em seus olhos.

"Salvar? De quem?" O pavor inunda minhas emoções.

"Do meu pai." Diz angustiado e com sua mão agarrada na minha.
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Obrigada por cada voto e comentário!💓😗 Tô chocada pela minha escrita de uns anos atrás kkkk tá dando um trabalhão reescrever tudo, pelo menos estou ciente q avancei em muita coisa.😂😂 Até mais!!!

Namoro de Mentirinha [COMPLETO]Where stories live. Discover now