10- Um presente traiçoeiro

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Rafael:

O sol se põe e eu ainda estou nessa maldita reunião. Argh! Pra falar a verdade, eu nem me concentrei, nem faço ideia do que eles decidiram. Na minha cabeça eu só conseguia pensar em uma coisa: no meu encontro com a Agatha de madrugada... O que será que ela está planejando? Não faço ideia. Só sei que ela irá aprontar alguma e eu estou louco pra descobrir o que é.

Eles continuam conversando. Blábláblá. Então um deles pergunta alguma coisa em minha direção, nem sei o que é, apenas respondo concordando para não precisar dar explicações:

- A sim, concordo plenamente - todos pareceram maravilhados. O que será que ele havia perguntado?

- Então o senhor concorda que deve se casar? - perguntou um membro do conselho feliz.

- O quê? - perguntei incrédulo. - O que você disse?

- Que o senhor concorda, que deve se casar...

- Não! Isso não! - gritei batendo na mesa furioso, todos olharam para mim. Se eu soubesse que era essa pergunta eu nem teria respondido, penso. Imagina... Casar com outra mulher que não seja a Agatha? Eles só podem estar loucos! Ou melhor eu ficaria louco. Percebo que todos continuam olhando para mim, mas agora com medo. - O que eu quis dizer é que, ao menos por agora não. Pois só tenho dezenove anos...

- Mas fará vinte daqui a dois meses.

- Eu sei, mas...

- Príncipe você precisa começar a pensar melhor sobre o assunto - disse outro conselheiro se intrometendo. - Você sabe que deve assumir o trono aos vinte um anos. É  a Lei.

- Eu sei, mas desejo que meu pai governe por muitos anos mais - a ideia de ter que governar os anjos, e quem sabe uma guerra, me dá calafrios. Estremeço. - Então vai demorar um tempo para eu assumir.

- Mas, voltando ao assunto da guerra...- balanço a cabeça para que ele prossiga. - Então... O que a Vossa Alteza acha? Devemos atacar ou esperar que eles ajam? Porque o senhor sabe o quanto aqueles feiticeiros são traiçoeiros...

- Nem todos os feiticeiros são traiçoeiros - digo isso e me arrependo no mesmo instante, pois todos me encaram incrédulos. - O que eu quis dizer... - tento concertar - é que talvez nem todos sejam traiçoeiros, apenas alguns...

- Mesmo assim não devemos confiar neles. Mas e então príncipe? O que acha?

Pensei um pouco antes de responder.

- Bom... - comecei. - Creio que seja melhor aguardarmos. Vamos esperar que eles comecem a guerra, depois atacamos. Assim saberemos quais são as suas armas e saberemos como melhor atacar - digo isso e sorriu, mas no fundo a minha mente me dizia que nunca eu seria capaz destruí-los (eu já não era antes, agora então...). Eu não sou capaz de encostar um dedo em seu cabelo, para machucá-la. E se depender de mim nem haverá guerra. Todos ainda me olham e alguns conselheiros parecem não gostar da ideia, mas não discutem comigo. - Bom! Por hora decreto que a reunião está acabada. Até mais ver amigos - digo e abro a porta do gabinete. Eles se despedem de mim com uma reverência e saem.

Me escoro na porta, fechando-a em seguida. Passo a mão na minha testa suada.

- Ufa! - suspiro de alívio. - Que caras chatos. Argh! Ô reuniãozinha chata, desde cedo e não acaba mais! Pelo amor de Deus! Até almoçar aqui eles almoçaram! E ainda queriam me arrumar uma noiva. Mais eu vejo cada coisa! - reclamo para mim mesmo. 

Eu definitivamente não me concentrei em nada. Olho pela janela, alta do gabinete do castelo, vejo que agora o sol já se pôs completamente e a lua começa aparecer. Decido ir para o meu quarto e tomar um banho.

Bem e Mal Lados OpostosOnde histórias criam vida. Descubra agora