Bem e Mal Lados Opostos

60 - Sensações não são esquecidas

Escute essa música enquanto lê. É o que ambos estão sentindo. 

Rafael:

A correria foi grande. Depois que minha mãe contou que a Rainha de Darkinan jantaria em nosso Castelo, não consegui focar em mais nada. Eu estava tremendamente ansioso para vê-la. Meu coração batia descontrolado, e parecia que ia saltar de meu peito.

Não consegui nem dormir naquela noite, apenas vi como minha filha estava, passei um tempo com ela brincando e a ninando, feliz por rever sua mãe. A mamãe vem te ver, filha, disse sorrindo. Vitória ergueu as mãozinhas e gritou em resposta, os olhos azuis brilhando tão intensos, quanto os meus. Tudo precisava estar perfeito. Afinal, a Agatha era totalmente detalhista e observadora. E reconquistá-la estava em jogo. Precisava causar uma ótima impressão para não dar bola a fora.

Criados passavam de um lado para o outro, com flores e decorações, minha mãe os coordenava com autoridade e determinação. Tentei ajudar como pude, carregando uma coisa aqui e outra ali. Meu pai ainda estava mal, com tonturas e dores de cabeça. Passava a maior parte do tempo deitado. Igor estava em coma e Jean estava com sua perna quebrada, os médicos temiam que ele talvez não conseguisse voltar a andar, para piorar não conseguia mais usar meu dom da cura, o que deixava minha irmã bem mal. Ela não saia do lado de meu amigo ― e era estranho para mim ―, mas estava tentando aceitar o fato de que eles se gostavam. Lembro que quase caí de costas quando ela me contou sem graça, há alguns dias. Como eu não percebi? Questionei incrédulo. Porque você não conseguia parar de olhar para a Clara e de pensar nela, Gabriela respondeu sorrindo.

Era difícil para mim aceitar que minha irmãzinha cresceu, mas no fundo eu sabia que o Jean era um bom rapaz e um bom amigo. Os dois mereciam ser felizes. E se ele pisasse na bola eu o mataria. Jamais deixaria que decepcionasse minha pequena Segundo Lugar.

O Conselho havia me enviado um recado oficial, obrigando-me a tratar dos assuntos sobre como ficaria a questão da Guerra entre os reinos, a partir desse momento. Ignorei e não envie uma resposta. Eu os havia dispensado do Castelo. Já estava farto de tantos assuntos complexos. Sabia que Lumina estava em ruínas, não precisava de ninguém me lembrando disso o tempo todo.

Quando o sol quase se punha, dei um banho em minha pequena e escolhi uma roupinha bonita para ela ―, minha mãe queria fazer isso, mas eu disse pra ela me deixar ser pai e cuidar de minha pequena. Dona Paula não me questionou mais, apenas sorriu. Ela sabia que eu sempre quis ser pai. Depois disso, fui para meus aposentos para me preparar para a chegada dela. Causaria uma boa impressão e a reconquistaria.

***

Agatha:

Conversei com minha mãe pelo celular. Ela havia me ligado há umas noites e sempre me enviava uma mensagem perguntando como eu estava. Graziela não tinha me dito, mas como é uma Magnum como eu, imagino que deva ter inventado alguma desculpa para meu pai. Régi tinha me dito que ela queria ficar mais comigo, mas precisou voltar para cuidar de meus irmãos e de meu pai, por isso sempre que podia ela me ligava. Não tocou no assunto do Rafa e nem da bebê em nenhum momento ― não comigo pelo menos, porém provavelmente ela conversava com a Régi sobre isso.

Minha primeira noite havia sido tensa. Tinha finalmente tomado coragem para visitar os campos de guerra e visto com meus próprios olhos os estragos deixados pela batalha.

As altas árvores de Darkinan estavam queimadas e secas. Grande parte delas já não existia mais. Alguns feiticeiros que não haviam se ferido, estavam reunidos tentando consertar o estrago, mas ao que parecia a magia de Isabela era forte e não havia reversão. Era uma magia diferente do que estavam acostumados.