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O silêncio dentro da fazenda parecia mais pesado depois da tentativa de fuga frustrada. O som das hastes de milho balançando ao vento ficava distante, abafado pelo batimento acelerado no peito de Kara. Seus joelhos ainda ardiam do impacto contra o chão quando o homem com a kriptonita se afastou apenas o suficiente para que ela fosse arrastada de volta para o interior da casa.
Liv e Maddie choravam, os rostinhos vermelhos e as covinhas marcando as bochechas como feridas emocionais. Kara as segurava contra o peito, murmurando palavras trêmulas de conforto, mesmo sabendo que sua voz estava mais fraca do que nunca.
Lilian caminhava à frente, com passos elegantes, como se aquela cena fosse apenas uma inconveniência leve em um dia perfeitamente planejado.
— Você é mais difícil de conter do que eu imaginava — disse ela, sem virar a cabeça, mas com um sorriso de canto que Kara viu pelo reflexo de um espelho na parede. — Isso é... admirável. E problemático.
Kara não respondeu. Cada músculo estava tenso, mas a raiva ardia como fogo frio.
No quarto principal, Lilian gesticulou para que colocassem as meninas no pequeno berço duplo. Assim que elas foram acomodadas, dois seguranças se afastaram, fechando a porta atrás deles.
— Eu pensei muito — começou Lilian, sentando-se numa poltrona de veludo vinho. — Se quero que essa... relação funcione, preciso mostrar que não sou sua inimiga.
Ela bateu palmas e, quase imediatamente, uma das portas laterais se abriu, revelando duas mulheres carregando cabides com roupas dobradas em capas de tecido fino e uma bandeja repleta de caixas de joias.
— Roupas feitas sob medida para você. E para elas. — Lilian se levantou, pegou uma das peças e a segurou diante de Kara. Era um vestido de tecido macio, num tom de azul profundo que contrastava com a pele bronzeada da kryptoniana. — Os Luthor’s prezam por imagem. Você também deve.
Kara a encarou com os olhos semicerrados.
— Não preciso das suas roupas. Nem das suas joias.
Lilian sorriu de leve, como se já esperasse a resposta.
— E, no entanto, vai usá-las. Porque é mãe das minhas netas. E precisa aprender como os Luthor’s trabalham. Não somos apenas uma família... somos um legado.
Ela se aproximou lentamente, tirando algo do bolso — uma pulseira fina, cravejada com pequenas pedras de um verde vivo que irradiava um brilho quase doentio. Kara recuou um passo, instintivamente apertando as meninas contra si.
— Não toque nelas! — o tom saiu mais como um rosnado do que como um pedido.
Mas Lilian não parou. Ela segurou o pulso de Kara com uma força surpreendente e, num movimento preciso, encaixou a pulseira. A dor foi imediata, como se uma parte de sua energia fosse sugada. Era kriptonita pura, polida e disfarçada em algo luxuoso.
— Assim é mais seguro — murmurou Lilian, passando os dedos pelo fecho para ajustá-lo. — Para todos nós.
Kara respirava com dificuldade, sentindo a força diminuir ainda mais.
Em seguida, Lilian se inclinou sobre o berço duplo. Com a mesma calma meticulosa, ela prendeu pulseirinhas idênticas nos pulsos minúsculos de Liv e Maddie. As pedras eram menores, mas ainda assim pulsavam com aquela energia venenosa.
— Não! — Kara tentou avançar, mas a fraqueza fez seus joelhos cederem. — Elas são só bebês!
— Justamente por isso. — Lilian endireitou a postura. — Quero garantir que cresçam aprendendo quem são e de onde vieram. A força de um Luthor não vem apenas do sangue, mas do controle.
Kara sentia uma mistura de náusea e desespero. As meninas, confusas, olhavam para os próprios pulsos.
Foi então que Liv soltou um som curioso, apontando com o dedinho para a pedra verde. Seus olhinhos verdes claros, intensos como os de Lena, piscavam com atenção. Maddie imitou o gesto da irmã, tocando a própria pulseirinha e sorrindo de leve, como se tivesse reconhecido algo bonito.
— Verde... — Liv balbuciou, a voz suave e incerta, mas clara o suficiente para cortar o ar como uma lâmina.
Kara congelou. Era a primeira vez que ouvia uma das filhas identificar uma cor. Um marco que, em qualquer outro contexto, teria sido motivo de alegria. Mas ali, preso àquele veneno, o momento parecia distorcido e cruel.
— Isso mesmo, querida — Lilian disse, agachando-se para ficar na altura das meninas. — Verde. A cor da nossa força.
Kara sentiu um nó apertar a garganta.
— Isso não é força. É prisão.
Lilian se levantou, ajeitando o próprio colar de pérolas.
— Depende de quem conta a história, minha cara. E eu garanto... daqui a um mês, vai contar a minha.
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Mais tarde, quando ficaram sozinhas no quarto, Kara tentou remover a pulseira. O fecho era tão pequeno que seus dedos, fracos, não tinham firmeza para abri-lo. Cada tentativa só aumentava a sensação de impotência.
Liv e Maddie, deitadas ao lado, brincavam com as pulseirinhas como se fossem novos brinquedos, fascinadas pelo brilho. Maddie até encostou o rosto no pulso, sorrindo para a irmã.
— Vocês não entendem... — Kara sussurrou, engolindo o choro. — Isso não é bonito. É perigoso.
Mas no fundo, sabia que Lilian estava jogando um jogo longo. E que cada segundo que passava, ela estava tentando transformar aquele cativeiro em um “lar” para moldá-las à sua maneira.
Kara olhou para a porta fechada, a respiração lenta mas determinada.
Ela não tinha desistido. Nem iria.
Mas agora, a fuga precisaria de um plano muito mais inteligente.
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G͟r͟a͟v͟i͟d͟e͟z͟ i͟n͟e͟s͟p͟e͟r͟a͟d͟a͟ ~͟ S͟u͟p͟e͟r͟c͟o͟r͟p͟ •͟ K͟a͟r͟l͟e͟n͟a͟
FanfictionEm um dia marcado por sintomas inexplicáveis e uma fome insaciável, Kara Zor-El descobre que está grávida, gerando uma onda de choque em sua irmã mais velha, Alex Danvers. Enquanto Alex tenta lidar com a revelação, a possibilidade de que o pai da cr...
