𝐗𝐈𝐗

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O som que acordou Lena não foi um grito, nem um estrondo.
Foi o silêncio.

Aquele silêncio pesado, sufocante, que paira quando algo terrível já aconteceu — e todos ainda tentam compreender a extensão da tragédia.

Lentamente, os sentidos voltavam. Primeiro, o gosto metálico na boca. Depois, a ardência nos olhos. Por fim, a percepção dolorosa de que o chão frio sob seu corpo não era o lugar onde ela deveria estar.

Ela piscou, ofegante.

O teto acima estava embaçado por uma névoa cinza. Um resquício do gás do sono.

As memórias voltaram como estilhaços cortantes: Kara suada, exausta, sorrindo ao segurar Liv e Maddie… e depois… fumaça. A figura de Lilian. O som abafado do choro das meninas.

— Kara… — a voz saiu como um sopro.

Tentou se levantar, mas o corpo protestou. As pernas tremiam, os músculos pareciam de chumbo.

Foi Alex quem apareceu em seu campo de visão, tossindo, com um corte na sobrancelha.

— Lena… calma. Respira.

— NÃO ME MANDA FICAR CALMA! — A explosão foi tão rápida que Alex quase recuou. — Elas levaram Kara! Elas levaram MINHAS filhas!

Andrea, ainda tonta, apoiava-se numa cadeira tombada.

— O que… aconteceu?

— Lilian… — Lena cuspiu o nome como se fosse veneno. — Ela entrou… jogou gás… e levou as três.

O chão ao lado da maca onde Kara estivera momentos antes estava vazio. O lençol ainda amarrotado, com manchas de suor, e uma pequena mecha loira presa na dobra do tecido. Lena se ajoelhou, os dedos tremendo ao tocar aquele vestígio.

— Isso não está acontecendo… — murmurou, quase para si mesma.

J’onn surgiu, a expressão grave, ajudando Brainy a se levantar.

— O sistema de segurança foi desativado de dentro. Alguém abriu acesso para Lilian.

Nia se recompôs o suficiente para se aproximar.

— E agora? Ela pode estar em qualquer lugar.

— NÃO. — Lena se ergueu, o olhar afiado mesmo por trás das lágrimas. — Eu conheço minha mãe. Ela não faz nada sem um objetivo claro. Ela não levou Kara por vingança… ela levou porque precisa das meninas.

Alex franziu o cenho.

— Você acha que ela quer usar os poderes delas?

— Eu tenho certeza — Lena respondeu, apertando os punhos. — E se for isso… cada segundo que passa é um risco maior.

Lena começou a andar de um lado para o outro, a respiração acelerada. A mente corria em mil direções, calculando, relembrando velhos esconderijos, antigos projetos da LuthorCorp que poderiam conter alguém como Kara.

— Lena… — Alex tentou se aproximar. — Você precisa respirar.

— Respirar?! — Lena se virou, a raiva e o medo se misturando. — Eu acordei, e elas não estavam aqui. Kara não estava aqui. E eu nem sequer pude dizer… — A voz falhou. — Nem pude dizer a ela que…

Alex a segurou pelos ombros.

— Nós vamos encontrá-las.

Lena desviou o olhar, mas não conseguiu esconder o tremor na voz.

— E se não der tempo, Alex? E se Lilian… — Ela parou, fechando os olhos com força, tentando afastar as imagens horríveis que surgiam.

Foi Andrea quem, ainda encostada na cadeira, falou:

— Então a gente não vai deixar isso acontecer.

Sam se aproximou, entregando a Lena um copo com água.

— Bebe. Você não vai pensar direito se não se acalmar.

Lena tomou um gole, mesmo com a garganta fechada.

— Eu preciso de acesso ao sistema do DOE. Quero todos os registros de energia mágica e kryptoniana nas últimas duas horas.

Brainy já digitava em um painel improvisado.

— Já estou rastreando. Mas… Lilian é cuidadosa. Ela pode estar usando tecnologia de camuflagem dimensional.

— Então vamos pensar como ela — Lena disse, a voz mais baixa agora, mas tão cortante quanto antes. — Vamos encontrar o lugar onde ela se sentiria mais segura… e vamos arrancar Kara e as meninas de lá.

J’onn se aproximou, colocando a mão no ombro dela.

— Não vamos parar até encontrá-las.

Lena assentiu, mas por dentro… o desespero continuava a se espalhar como veneno.

A imagem das filhas, tão pequenas, presas nas mãos frias de Lilian, queimava por trás dos olhos.

E a ausência de Kara era como um buraco aberto no peito.

Enquanto o DOE voltava à atividade, máquinas apitavam, agentes corriam, e os superamigos se reorganizavam, Lena se manteve de pé no meio do caos.

Era como se o mundo tivesse encolhido a um único objetivo:
Encontrá-las.

A qualquer custo.

E no fundo, ela sabia… quando voltassem, nada seria como antes.

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G͟r͟a͟v͟i͟d͟e͟z͟ i͟n͟e͟s͟p͟e͟r͟a͟d͟a͟ ~͟ S͟u͟p͟e͟r͟c͟o͟r͟p͟ •͟ K͟a͟r͟l͟e͟n͟a͟Where stories live. Discover now